05|UM BRINDE À ETERNIDADE

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—|ILHA GRANDE DO SUL|—

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—|Ao todo, seriam apenas cinco dias de espera. Coisa pouca para alguém que não está fugindo, que não arrisca a vida apenas por pensar em entrar naquele navio. Mas Kizzy suava toda vez que Venon ou Egg surgiam na sua frente, e não conseguia mais olhar a Madame Giza nos olhos sem querer expor sua vitória — isso se ela fosse realmente embora. Ainda não havia contado para Dyana a partida delas, mas esperava o momento certo.

Desde que chegara, já de manhã, na fazenda, Kizzy não conseguira um momento a sós com a pequena. Venon trabalhava com muito afinco na plantação e no gado, por isso não estava sempre com ela, mas Egg estava sempre presente. Por ordens de Venon, é claro. E Kizzy também possuía suas obrigações com a casa; tudo tinha que continuar normalmente para não levantar suspeitas.

Kizzy sempre fora quieta e obediente durante esses oito anos — por que tinha o que perder; minha vida. Se de repente, começasse a responder às ordens de Madame Giza e os olhares tortos do resto da família e suas falas, suspeitariam.

A feérica não julgava seguro falar a respeito do O Desconhecido com Dyana dentro de casa — não quando qualquer um podia ouvir —, tampouco nos campos e arredores, onde Venon trabalhava e não gostava com Kizzy aparecia por lá. E também havia Egg, que provavelmente as seguiriam.

No segundo dia, considerou a possibilidade de escrever um bilhete para ela e colocá-lo em alguns de seus livros. Mas descartou assim que imaginou o bilhete sendo encontrado por Maegery, que também era uma leitora ávida, e considerou a reação de Dyana — ela pensaria que era alguma pegadinha de Magnus, com certeza, e o questionaria sobre isso.

Kizzy concluiu, naquele mesmo dia, que teria de falar pessoalmente, e rápido. Ainda faltava três dias para irem, mas se não se apressasse tudo poderia ir por água abaixo.

Felizmente, no terceiro dia — isto é, faltando dois dias para partirem durante a madrugada —, Kizzy conseguiu convencer Egg que um passeio à tarde pela cidade faria bem a Dyana.

E por que isso faria algum bem? — Questionou descrente.

Dyana está nervosa, Egg. Ela só deixa a fazenda para estudar, precisa de alguma distração. — Quando Egg continuou sentado na poltrona, bebendo um copo de bebida, Kizzy franziu as sobrancelhas e "adoçou" os olhos. — Ela só tem onze anos, Egg.

Finalmente, ele concordou, com relutância, mas levantou da poltrona.

Vai ser rápido. Não quero Venon reclamando nos meus ouvidos por que vocês atrasaram o jantar — Egg tomou a frente, deixando ambas para trás.

Durante todo o caminho, Kizzy inventava assuntos com o pretexto de distrair Dyana da neblina em sua mente. Sabia que não podia dizer nada enquanto Egg continuasse a poucos metros afrente delas, então, teriam de ficar na cidade tempo o suficiente para o feérico se cansar e embriagar-se em algum bar. E, ao mesmo tempo, não podia demorar demais e arriscar que Venon desconfiasse de algo. Era uma armadilha. Vivi em uma armadilha constante, num jogo que o único vencedor é aquele mais forte, e nisso eu perco.

Demorou quase duas horas para que Egg se acomodasse em um bar de esquina, olhando para as fêmeas que passavam de tempos em tempos. Depois de um tempo, Egg se entrosou em um jogo de cartas e deixou de vigiá-las com tanto afinco.

Então, Kizzy guiou Dyana para a lateral de uma loja de vestidos e uma hospedaria. Enfiaram-se na mais profunda escuridão que puderam. Dyana sussurrou, exasperada:

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