04|O CAMINHO ATÉ VOCÊ

468 44 16
                                    

—|ILHA GRANDE DO SUL|—

•••

—|Antes mesmo do sol nascer, Kizzy andava pela cozinha apressadamente, preparando a mesa para o desjejum e ajeitando a bandeja de Madame Giza. Para a Madame, precisaria de alguns minutos a mais; deixaria o chá agindo enquanto a refrescava — passando um pano molhado em suas costas, braços, pernas, pescoço e abdômen. Quem realmente a banhava era Roxy e Holly, mas apenas duas vezes na semana.

Alguns minutos depois do amanhecer, Dyana deixou seu quarto já arrumada para as aulas.
Durante um passeio por uma das praias da cidade, o qual toda família participou, o senhor Boros Dantas resgatou Dyana da morte certa por afogamento, e, ao ver sua beleza, comunicou Venon a vontade que tinha de casar-se com a jovem de nove anos. Venon estava mais do que satisfeito em livrar-se de mais uma irmã, e fora apenas os apelos de Kizzy que o convenceu a mudar de ideia. Não quando ao casamento, é claro. Dyana estava noiva de Boros, mas a consumação só ocorreria quando a jovem completasse dezesseis anos de idade.

Para demonstrar boa vontade, Boros custeava a maioria das despesas de Dyana — como roupas e acessórios — e seus estudos e hobbies. A princípio, Kizzy possuía uma desconfiança interminável do macho e sentia mais do que saudades de passar o dia na companhia da pequena feérica, mas quanto mais longe dessa família, melhor ela vai estar... era como Kizzy se confortava com a ideia de deixá-la passar o dia na com um feérico mais do que adulto.

Sorridente, Dyana sentou-se à mesa e serviu-se de alguns pães e suco.

— Bom dia — desejou, então, engatou: — As vezes penso muito sobre o que escuro nas aulas. Principalmente as de história. Sabia que houve um tempo que nós, feéricos, escravizávamos os humanos...

Kizzy a olhou sem entender: — Ainda fazem isso.

— É, eu sei... Mas só a gente e algumas das outras províncias — ela sorriu orgulhosa ao dizer a palavra nova — da Ilha de Hyrben. Prythian, um grande continente a leste de nós, travou uma guerra para que isso acabasse mais de quinhentos anos atrás...

Kizzy continuou seus trabalhos — assando os biscoitos que os filhos de Poppy e Molly adoravam — enquanto ouvia com atenção as reflexões da mais nova.

Dyana continuou falando e falando, empolgada ao ponto de recitar alguns trechos dos livros de história que Boros Dantas comprara para ela. Então, Dyana mudou o tópico para a geografia.

— Corte Noturna — ela disse, de repente, causando um arrepio em Kizzy. Quase... quase posso me lembrar de ouvir isso...

O que?

— É de onde veio. — Dyana levantou-se da cadeira, recolhendo os pratos e os lavando. — Illyra fica na Corte Noturna, que é a Corte mais ao norte de Prythian. Pouco sabem os livros sobre ele e aqueles que a governam. O Grão-Senhor é cruel, tem quase seiscentos anos e sua parceira, a Feyre, é uma das pupilas dele.

— Pupilas?

— É o que os boatos dizem; que o Grão-Senhor tem muitas parceiras, e que ele ensina a Arte da Crueldade, como Madame Addie diz, para elas. A Corte Noturna é uma Corte conhecia pelos pesadelos, é de lá que você vem, Kizzy.

— Por que está me contando isso?

As duas se encararam, com um olhar que poderia ter milhões de significados diferentes. De repente, o coração de Kizzy começou a bater mais rápido e uma fraqueja nas pernas quase a fez cair.

— Sei que tem muito pesadelos durante o sono — Dyana não desviou o olhar —, mas você nasceu em uma Corte conhecida pelos pesadelos. Seja o que te apavora, não deveria sentir tanto medo.

Once, in ParadiseOnde histórias criam vida. Descubra agora