16|KIZZY'S SÃO APENAS KIZZY'S

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Aviso: a partir de agora vou lançar um capítulo por dia até acabar essa segunda parte da fic.

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—|NA CABANA DA PERDIÇÃO|—

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—|Pouco a pouco sua visão retornou, trazendo consigo suas lembranças não tão agradáveis. Todo seu corpo doía imensamente, era uma das piores dores que já sentira na vida. Ainda assim, conseguiu ergue-se do chão, acompanhada de grunhidos e xingamentos, é claro.

Kizzy não avistou a mulher bruxa assim que acordou, ao invés disso, sua visão concentrou-se no fato de estar absolutamente sozinha. A mesa na qual deixara Dyana deitada estava vazia. Ela tentou, instintivamente, levantar-se, mas só então percebeu que estava nua da cintura para baixo; havia apenas uma especie de tanga protegendo sua intimidade.

Não lembrava-se de ter as roupas retiradas. Não possuía apego por aquela saia puída e suja que usava desde que deixaram Ilha Grande do Sul, mas tinha grande apego pela sua dignidade e privacidade.

Depois de alguns segundos, Kizzy conseguiu levantar-se — sempre usando algo como apoio — e explorar a cabana da mulher sem seus olhos atentos a acompanhando. Mas... não havia nada demais. A redoma de vidro usada anteriormente estava novamente na prateleira, a cadeira que Kizzy quebrara em suas costas flutuava mesmo sem os pés e não havia mais sujeira espalhada. A cabana estava limpa. E isso era algo.

Antes que Kizzy pudesse vê-la ou senti-la, a mulher surgiu do chão, como se tivesse subido uma escada para o porão que somente ela via e tinha acesso. Ela ainda possuía cabelos brancos quebradiços e ralos, rosto extremamente enrugado, mas não usava o seu óculos dourado, semelhante à ouro.

— Que bom que acordou — disse, apesar de não parecer ser verdade. A mulher carregava consigo uma tigela com um líquido vermelho aguado, muito parecido com sangue.

— Cadê Dyana?! — perguntou, com os olhos fixos na tigela.

A mulher percebeu seu olhar e riu.

— Ela não está aqui... — referia-se a tigela, com uma risadinha escrota. — Isso é sangue, como deve ter imaginado, mas é por uma boa causa... Algo que interessa a você aliais.

— O que é?

— Ah, não deveria ser preocupar. Envolve outro tipo de experimento — comentou despreocupada. A mulher caminhou até uma janela e atirou o sangue para fora, cuspiu na tigela e esfregou.

— Onde está Dyana? — perguntou novamente.

Sem responder nada, sequer olhá-la, a mulher estalou os dedos e o corpo de Dyana apareceu na mesma mesa que Kizzy a deixara.

A mais velha correu até ela, analisando seus traços, seu corpo, tudo. Dyana parecia mais forte do que antes, mais saudável também. Suas bochechas possuíam um rubor, as olheiras diminuíram de tamanho e sua respiração era calma e ritmada.

— Funcionou? Ela está bem agora? — Kizzy virou-se para a mulher.

— Se não tivesse funcionado, ela estaria morta agora.

— Quando ela acorda?

— Assim que seu corpo estiver completamente recuperado. Você fez um acordo comigo. O universo ainda configura esse acordo.

— Que acordo? Você a curou por um preço de três segredos, não se lembra? — A mulher sorriu, e Kizzy quase tremeu com seu sorriso meio Benguela.

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