12|PARA NÓS, UM JAVALI

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—|A LESTE DA ILHA DE HYRBEN, MAIS PRÓXIMO DA MORTE DO QUE DA VIDA|—

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—|A LESTE DA ILHA DE HYRBEN,
MAIS PRÓXIMO DA MORTE
DO QUE DA VIDA|—

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—|Depois de quase três meses desde que deixaram a Ilha Grande do Sul, contando com os angustiantes e tediosos vinte e um dias à deriva, Kizzy e Dyana pisaram em terra firme.

A sensação fora como renascer várias e várias vezes em formas diferentes. Dyana, porém, vomitara assim que pós os pés na areia.

Agora não há mais o balançar — o Capitão informou. — Ela deve vomitar por um tempo.

E estava certo. Dyana vomitou pelas próximas meia hora enquanto descansavam embaixo de uma árvore grande. Sombra; Kizzy agradeceu por ela também, assim como agradeceu pela a areia, pelas frutas que os machos acharam ao adentrar na floresta e pelo abrigo feito de madeira, embora frágil.

Estava longe de ser perfeito, muito longe. Mas era infinitamente melhor do que estar à deriva no mar em um bote pequeno, sem poder se mexer direito, com criaturas rondando-os durante a madrugada e sobrevivendo de peixe cru e água da chuva. Pelo menos, no abrigo — que consistia em algumas folhas grandes cobrindo a areia e uma frágil estrutura para tentar protegê-los do sereno e, talvez, da chuva que viria quando anoitecesse —, Kizzy podia esticar as costas; e tinha sombra.

A última madrugada que passaram à deriva fora especialmente perturbadora e caótica. Depois da conversa com Ophelia, de algum modo, as criaturas — por ela desconhecidas — que viviam no mar pareceram ter completa noção de que havia alguém ali, flutuando sobre as águas.

Elas atormentaram o pessoal com barulhos perturbadores e altos durante os oito dias seguintes. O som que faziam causava ondulações na água e era tão agudo que Emílio Mão-Boba, talvez o homem mais estourado e temperamental que Kizzy já conhecera, chegou a acordar com os ouvidos sangrando uma manhã.

Era uma sorte que sua cicatrização feérica fosse suficientemente boa para recuperar sua audição pelas horas que se seguiam — só para que seus tímpanos explodissem de novo.

Depois de algumas noites de péssimo sono, sentindo seus músculos pedirem arrego, Kizzy começou a pensar que estava alucinando — por isso que as vezes achava que era dia, que estavam seguros longe do mar; por isso que via seu filho nos braços, algumas vezes.

Na última madrugada, Kizzy era a única acordada, ouvindo os barulhos das criaturas marinhas e sentindo seu estômago se contorcer de fome. Ela sonhara acordada com o sabor de uma maçã branca, misturando-se com o sabor de morangos e carne de porco, enquanto encarava as ondas no horizonte.

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