07|FAZENDO TUDO POR LIBERDADE

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—|ULTIMA HORA NA
ILHA GRANDE DO SUL|—

•••

—|Apenas o suave barulho de passos, dos grilos e das respirações ofegantes eram ouvidos enquanto Kizzy e Dyana caminhavam pela trilha em direção ao Porto, o ponto mais ao norte da ilha.

Kizzy sentia uma cólica incômoda na base de sua barriga, que só era agravada devido às duas bolsas transpassaras que ela carregava. A bolsa de Dyana por si só já era pesada por ser de couro antigo, completamente carregada dos objetos pessoais da jovem, parecia pesar dez vezes mais. Sua bolsa era menor, e estava quase vazia, exceto por algumas mudas de roupa e tecidos para o bebê que viria.

Ela não sabia quanto tempo ficaria naquele navio, no meio do oceano; cruzando oceanos que ela nem mesmo conhecia.

Com a mente desconfiada, tudo que poderia dar errado naquela fuga começou a passar pela sua mente — o navio poderia afundar, ser sequestrado por piratas ou por traficantes de escravos e ela poderia não resistir ao parto, deixando Dyana sozinha... —, e era impressionante que, mesmo sabendo de tudo isso, Kizzy ainda preferia mil vezes se arriscar em uma fuga do que continuar nessa ilha infernal.

E foi com essa determinação que Kizzy não se deixou abater pela dor, pelo cansaço, pela tristeza ou pela escuridão. Assim como fizera antes, Kizzy e Dyana caminhavam pela trilha da floresta, evitando a estrada. A família Gibs era conhecida por toda ilha; todos sabiam que Kizzy pertencia a Venon, de modo que nenhum macho nunca sequer lhe dirigiu a palavra nesses oito anos. Se a vissem com Dyana, carregando duas bolsas no meio da madrugada, seriam pegas e levadas até Venon no raiar do dia. Não pode acontecer, de jeito nenhum. A trilha da floresta é vazia, ninguém nos verá.

Com a respiração ofegante, Dyana, de mãos dadas com Kizzy para evitar um tropeço, disse:

— Já estamos chegando? — Dyana nunca havia ido tão para o norte da ilha, retendo-se apenas à cidade.

Fazia trinta minutos que contornaram a cidade completamente vazia. Pelo cálculo de Kizzy, já deveriam estar próximas ao Porto, onde teriam que tomar mais cuidado, pois muitos machos procuravam as putas nos portos nesse horário — e muitos eram colegas de negócio de Venon e amigos de bebedeira de Egg —, mas o ritmo da caminhada era lento, mais devagar do que quando Kizzy viera sozinha e sem bagagens.

Então, a feérica respondeu:

— Mais alguns minutos, Dy. Está cansada?

— Não, mas estou com medo. — Mesmo no escuro, Kizzy pôde ver seus olhos brilhando com lágrimas.

— Ei, o que houve...? — Kizzy não parou, mas diminuiu um pouco mais o ritmo.

Dyana fungou: — E se... e se ele estiver bem atrás de nós?

Kizzy sentiu raiva no coração por saber que ela se referia a Venon, ao irmão mais velho que deveria protegê-la mas, ao invés disso, causava medo.

— Ele não está. Fique tranquila, essa hora ele está dormindo profundamente.

Kizzy cuidara disso. No jantar com Boros Dantas, a feérica pusera uma mistura especial de ervas no vinho de Venon, quando se sentaram para ler o documento. Essa mistura o faria dormir por horas a fio e, talvez, dependendo da dose, nunca mais acordar; e digamos que Kizzy não se preocupou em usar um medidor.

Fizera isso durante quatro anos com a Madame Giza — por isso a velha dormia a maior parte do dia e, quando acordada, não conseguia levantar. Músculos dormentes e frágeis, Kizzy sabia que essa era uma consequência do uso constante da mistura. Nunca a usara com Venon pois tinha pavor do macho perceber pelo cheiro, mas agora não havia espaço para temores. Kizzy precisava tentar, ousar e conseguir.

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