22|O COMEÇO DE UM PLANO

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—|BELA DOMADA, PASSANDO PELA FRONTEIRA COM A CORTE PRIMAVERIL|—

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—|A primeira filha do Capitão era uma mistura de comportamento introspectivo com explosão temperamental. Josephine trabalhava em tudo que envolvesse o funcionamento do navio; nas cozinhas, na faxina, na navegação, na segurança etc. Ela tinha passe livre para se comportar como quisesse, para fazer o que quisesse e até mandar em quem quisesse, contanto que não interferisse nos planos no Capitão, Kizzy imaginou — e estava correta.

Ouvira muito pouco da conversa entre Josephine e Dourado para descobrir mais sobre a fêmea ou sobre seus relacionamentos no navio. Ouvira muitos boatos, no entanto, sobre a vida passada do Capitão e da filha mais velha, sobre a relação conturbada de ambos e sobre seus poderes — nada útil ou concreto, aliais, mais parecia fantasia do que realidade; Kizzy não acreditava que que Josephine pudesse realmente ser o próprio pecado da Luxúria, e agir de acordo.

Kizzy retornava para sua cabine depois de mais uma noite falha em suas buscas. Não conseguira descobrir muito sobre Josephine e seu passado — não perguntara para Marcus pois imaginava trazer mais atenção do que o necessário —, também não conseguira, depois da terceira tentativa, abrir a portinhola por onde Nora Balena e Dourado saíram aquela noite, e não tivera chance de ver Nellya novamente, mas torcia para que a fêmea estivesse bem.

O corredor estava silencioso e vazio, como sempre. Aquela ala de quartos/cabines eram feitos somente para civis, que desejavam ser transportados para outro lugar — por isso estava tão vazio; o Capitão não costumava aceitar a todos com facilidade, apenas aqueles que pagassem bem ou oferecessem algo em troca. Kizzy não tinha nada, o que levantava mais suspeitas quanto a honestidade do macho.

Enquanto caminhava, tentando ser silenciosa e ágil, Kizzy não ouviu o rastejar de um corpo por baixo do seus pés, embaixo do chão de madeira. O ser rastejante camuflava-se pelo barulho de seus passos, das ondas revoltas e dos pensamentos de Kizzy. Somente assim, o ser rastejante pôde se aproximar da fêmea.

De uma tábua solta, o ser rastejante atravessou o chão com a mão, agarrando o tornozelo de Kizzy. Antes que caísse, Kizzy retomou o equilíbrio, então, em um rompante, soltou-se do apertão com um chute forte naquele braço pálido e magro.

Que merda é essa! — exclamou, mais alto do que deveria, olhando um corpo magro e pequeno atravessando o piso.

Agora, o ser não mais rastejante, soltara uma segunda tábua para conseguir passar com mais conforto.

Que merda... — Kizzy continuou olhando-a.

Era uma fêmea de pele pálida e corpo pequeno, baixo, usando um vestido preto com detalhes em vermelho que pareciam consumir a luz fraca das velas. Não havia sapatos em seus pés — evitava o barulho. Em seu rosto, um tapa-olho cobria a provável ausência do olho esquerdo, e sua boca estava contorcida em dor. O braço, Kizzy lembrou, e de fato a feérica sustentava seu braço direito — torto e ferido — com o braço esquerdo.

Filha da puta! — murmurou, sem encarar Kizzy. — Só queria chamar sua atenção.

— Quem é você? — Kizzy perguntou, grossa, direta e firme; sem tempo para joguinhos de palavras ou ações.

— Lyall Kaida, e este é Leal — Kizzy não entendeu a quem ela se referia, até que um corvo preto e grande saiu do buraco entre as tábuas, como ela minutos atrás. — Isso, rapaz... — elogiou quando o corvo "Leal" posou em seu ombro.

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