15|FLORESTA ESCONDIDA

192 25 9
                                    

—|NA FLORESTA ESCONDIDA|—

—[MAIS PERTO DA ESCURIDÃO E DA MORTE DO QUE DA VIDA...

•••

—|Uma vez, Kizzy sentira sensação de estar sendo observada. Fazia seis anos, e durara por meses. Ela sentia-se espionada, vigiada. Porém, não sentira medo — não como sentira da vigilância de Venon e Egg —, mas era traumatizada e desconfiada o suficiente para guardar aquela sensação no fundo do peito.

Ela lembrava-se agora; lembrava-se porque sentia o mesmo. E a sensação era tão forte que a vez parar de correr, olhando ao redor com atenção e desconfiança e cansaço.

Algumas horas se passaram desde que Nellya — a falsa-muda — lhe contara sobre as criaturas assustadoramente poderosas que habitavam a Corte Crepuscular, bem na fronteira com o Meio.

Chegue na fronteira antes do amanhecer, mantenha-se com o ombro direito em direção ao litoral, sempre perto da praia. Lá, verá uma árvore acizentada de tronco largo e comprido, derrame sangue no seu casco. Não há como errar, ela é única. Quando fizer isso, uma Floresta Escondida aparecerá. Tome cuidado! — Nellya segurou as mãos de Kizzy com força. — Cuidado para não se perder. E não demore demais, o tempo passa diferente lá.

— Quem devo procurar? — Kizzy perguntou, sentindo a agitação crescer no coração.

— Seu nome é desconhecido para mim... Mas sei que é poderosa e habilidosa. Preste atenção, Anya, aquele ser não dá as coisas de graça. Ela pode até aceitar salvar a vida de Zaya, mas pedirá algo caro em troca...

— Como sabe sobre ela? — Kizzy perguntou desconfiada. Até algumas horas, Nellya era uma muda que tivera a língua cortada por pura crueldade, mas agora estava mais do que óbvio que ela era alguém muito mais importante.

Então, Kizzy relembrou da frase que ouvira Mão-Boba dizer caindo de bêbado em um bar na Ilha Grande do Sul: "o nosso poderoso Capitão está em uma missão maior. Um propósito especial e grandioso, seus merdas mole!".

Ela suspeitava que Nellya estivesse envolvida nisso, afinal, por que mentiria sobre ser muda, e como teria conhecimento sobre as criaturas dessas terras...?

— Precisei de favores, uma vez. Tive de me esconder para não ser morta, e a Floresta Escondida me acolheu — Novamente, lágrimas singelas encheram os olhos de Nellya.

— Quando custou? — Kizzy tinha medo da resposta.

— Tudo que eu tinha. — Nellya pousou a mão na altura do coração com delicadeza.

Kizzy forçou-se a deixá-la de lado e confiar naquela feérica de aparência juvenil. Não tinha confiança alguma nela e nem em mais ninguém ali — nada tirava da sua cabeça que a queda na saúde de Dyana era por causa de veneno. Contudo, essa criatura citada por Nellya poderia ser a única opção para a vida de Dyana, e Kizzy não ignoraria essa oportunidade por orgulho e paranoia.

Usando toda a sua força, Kizzy segurou Dyana pelos braços e a ergueu, colocando-a em seus ombros. A pequena grunhiu e gemeu de dor — sua barriguinha dolorida estava sendo pressionada pelas costas e ombro de Kizzy, por isso doía tanto, mas era preciso.

Once, in ParadiseOnde histórias criam vida. Descubra agora