21|GAIOLA DOURADA

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|BELA DOMADA, PASSANDO PELA CORTE ESTIVAL|—

—|ALGUNS DIAS ATRÁS

•••

—|Ela observou o Capitão acariciar a bochecha da fêmea de cabelos dourados como raios de sol com um alívio inoportuno.

A forma como Nora sentisse feliz pelas novas aquisições do Capitão ia além do egoísmo, vinha de um alívio profundo em sua mente e alma. Sobretudo por ela: Avalon Doran, seu verdadeiro nome, que era o mais novo animalzinho de estimação do Capitão.

Era por causa dela que Capitão não me perturbava mais, reconheceu Nora, com satisfação.

Quando o Bela Domada os resgatou de uma tempestade brutal, compactuando com a visão que Nora tivera algumas semanas atrás, o Capitão não pôde ficar mais feliz — estavam a cinco meses sem efetuar nenhum juramento. Aquele grupo, presos em um bote de madeira velho e frágil, era o que Nora precisava para descansar um pouco de seus serviços.

Passar horas do seu dia procuramos aquela fêmea que o capitão tanto ansiava desgastava todas as suas forças...

Fora Nora quem contara ao Capitão sobre suas aptidões físicas e mentais, sobre seus temperamentos e habilidade. Assim, ele pôde designar cada um deles para o nível mais apropriado dos níveis baixos, após o juramento, é claro.

Nora Balena observava de cima quando o Capitão enrugou o rosto por algum comentário respondão de Avalon, que foi levada pelos seus guardas de volta a cabine do Capitão.

Ela desviou o olhar com rapidez, vendo uma imensidão de imagens confusas sobre o destino das quatro pessoas que encarara nos últimos segundos. Então, retornou a olhar para o céu. Era tão exaustivo não poder ver nada nem ninguém; solitário, de um certo modo.

Nora respirou fundo, no entanto. Sabia como o Capitão podia ser cruel por experiência própria, e nem queria saber o que ele fazia para manter Avalon — uma feérica tão velha quando jovem, devido ao tempo que passara na Floresta Escondida e que, talvez por isso, desenvolvera um temperamento altruísta — sob seus comandos.

Afinal, era graças a Avalon que o Capitão August andava distraído, deixando Nora de lado e parando de pressiona-la por resultados. Naquele dia, fazia três semanas desde que o Capitão lhe designou a missão de encontrar a cartomante fugitiva, e não houvera resultado algum até a noite anterior.

Nos últimos vinte e um dias, tudo que Nora Balena fizera fora perambular pelos navio de proa a popa, xeretando em cada cabine, dispensa, porão, corredor ou buraco que havia no navio. Ela passara horas encarando as pessoas do navio, tendo zilhões de visões por minutos e tentando organizar seu cérebro cansado.

Pouco a pouco, suas forças iam se exaurindo — e sua exaustão ficava clara a medida que as bolsas de olheiras esverdeadas, porcamente disfarçadas pela maquiagem, os lábios secos e rachados e pálido e a postura encurvada, cansada, apareciam.

Nada disso impediu — não chegou nem perto — de fazer o Capitão parar de insistir. Até ela aparecer...

Apesar de dizer ter revirado o navio inteiro, Nora evitara os níveis baixos; eles eram o verdadeiro inferno para ela, já que teria de ver as piores dores, angústias e a crueldade imposta a outros seres, tão, tão perto...

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