25|PÚPURA É A NOVA COR

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—|BELA DOMADA, AINDA NO MESMO LUGAR E CURSO|—

•••

—|Kizzy encarava o corpo sem vida de Nora Balena sem emoção. Não simpatizava com a mulher, mas também não a odiava; sentia certa aversão por ter colaborado com o Capitão por tanto tempo, mas como poderia julgar a mulher se fora submissa de Venon e sua família por oito anos inteiros?

Ela mais do que ninguém sabia como era sentir medo até de respirar errado e ser castigada.

— Ela se foi — anunciou Franke, o óbvio. — Por acaso entendeu o que ela quis dizer com tanto pedidos de desculpa? — Kizzy negou, ainda olhando o corpo. — Imaginei — resmungou.

Nora Balena estava ainda mais branca com a perda de sangue, o que era de se esperar, mas Kizzy nunca pensara que a veria assim e as palavras ditas por ela — desde que se conheceram — ainda a confundiam o suficiente para lamentar, pelo menos um pouco, por sua morte. Era como dito: Kizzy sabia exatamente como era estar na sua situação.

— Ela te chamou de Haelyn — comentou Franke, limpando o sangue das mãos na água da banheira; Kizzy fez uma careta por isso. — Esse é seu nome? Já mentiu sobre isso uma vez, é natural que eu esteja curioso...

— Não, não sou Haelyn. Ela estava enganada — decretou Kizzy; nem sequer passara pela sua mente contar a verdade para ele.

A contemplação pelo estado morto de Nora Balena e seus últimos dizeres desapareceu quando um grunhido fez-se presente. Kizzy e Franke se entreolharam, confusos. Eles eram os únicos naquele cômodo e não haviam feito o barulho, e mortos não grunhiam. Mais uma vez, um grunhido, acompanhado de um resmungo.

Kizzy e Franke descobriram a origem do barulho no mesmo instante e viraram-se em direção a ele, mas era tarde demais. O Capitão August estava muito bem desperto, apesar de ainda um pouco confuso pelas ervas, encarando o corpo sem vida da sua conselheira e os dois intrusos ensangüentados.

Nora Balena havia morrido, e o poder que ela detinha sobre ele, para fazê-lo dormir, havia desaparecido também.

Uma raiva quente era transmitida pelos olhos vermelhos brilhantes do Capitão. Lentamente, como se estivesse saboreando aquele momento, o Capitão se ergueu da piscina. Totalmente nu e desprovido de vergonha, ele disse:

— Quem devo culpar por ela? — referia-se a morte de Nora Balena. — Você seria capaz? — apontou para Kizzy. — Não, acho que não. Mas você... — Para Franke, dessa vez. — Você tem raiva de mim. Raiva o suficiente para matar todos as pessoas desse barco, inocente ou culpado.

— Não a matei. Ela se matou — respondeu Franke. — Se for bonzinho, não mato você — ameaçou, mas Kizzy sabia que ele só estava ganhando tempo para que Lyall chegasse e pudesse enfraquecê-lo com o feitiço.

Disfarçadamente, Kizzy olhou a porta e o escritório depois dela, rezando para que Lyall aparecesse naquele segundo. A cartomante dissera que seria melhor fazerem o feitiço com o Capitão adormecido, assim não haveria resistência por parte dele, mas como Kizzy e Franke fariam para fazer uma criatura como ele, verdadeiramente imortal, morrer, mesmo que temporariamente...?

— Eu encontrei quem você fazia Nora procurar — começou Kizzy, recebendo um olhar impaciente do Arcano. — Lyall Kaida me contou tudo, toda a sua história. Tudo exposto. Nesse momento, há uma rebelião nos níveis baixos. Seus Servos do Mar morrerão, seus guardas morrerão, e qualquer um que seja leal a você. A não ser que se entregue, August... Liberte todos eles e todos iremos embora, e ninguém precisa morrer...

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