—|NA CORTE CREPUSCULAR, AINDA|—
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—|Elas decidiram em seguir pelo litoral, na margem com a floresta para que não ficassem tão expostas ao sol. Dyana aproveitou os tapetes que Nellya fizera para ela e os usava para cobrir-se do sol. Ela era quem mais sofria com isso. Kizzy estava bem, nada além da velha dor no ventre que a perturbava sempre que faziam um esforço à mais; mas sabia que precisava, teria de se esforçar até que encontrassem um lar.
A mais velha não fazia ideia de onde estavam indo. Não tivera tempo, nem animo — nesses oito anos —, para estudar. Ao contrário de Dyana, que possuía a mente estudiosa, havendo um mapa em sua própria cabeça. Ela aprendera o essencial sobre geografia nas aulas com Madame Addie, mas fizera questão de decorar cada marcação, cada praia, montanha, floresta e cidade de Prythian antes de deixarem Ilha Grande do Sul.
Quando acordaram, conversaram e decidiram que chegariam andando até a principal cidade da Corte Crepuscular, isto é, onde havia o palácio do Grão-Senhor e sua corte. Passariam por muitas aldeias, vilas e povoados no caminho, é claro. Mas precisavam de um Porto grande o bastante para haver navios que a levariam o mais perto possível da Corte Noturna.
E Kizzy também não conhecia nada lá — nenhuma cidade ou onde ficavam os illyrianos —, mas somente chegar lá já era um começo maravilhoso.
Elas foram capazes de caminhar pelas seis primeiras horas do dia antes que os joelhos de Kizzy cedessem e seu corpo caísse na areia. Dyana aproximou-se correndo, gritando seu nome.
— Estou bem! Estou bem...! — gritou de volta, erguendo a mão para que a mais nova se mantivesse afastada. — Não acredito nisso... — lamentou.
Kizzy tentara se preparar-se psicologicamente para aquele momento; o fantasiara milhares de vezes com variados começos, meios e fins. Mas, ainda assim, sentia-se imensamente despreparada para parir um filho agora.
As palavras roucas da Bruxa lhe vieram à cabeça: dará à luz daqui à alguns dias. Com "alguns dias", Kizzy não imaginava que seria no dia seguinte — ou logo na próxima vez que acordasse já que não sabia ao certo quantos dias ficara na Floresta Escondida e nem como o tempo funcionava por lá.
— O que é que está acontecendo, Kizzy? — perguntou Dyana, ainda afastada como lhe fora mandado.
— Porra... — ela murmurou. Então, respirou fundo, tentando ao máximo controlar sua respiração e se acalmar.
— O que?
— D-dyana... — ela grunhiu do nome. Sentia mais dor que imaginara. — Dyana, me leve para a sombra — ergueu a mão para que ela a ajudasse a levantar.
De todas as dores, essa era a pior, sem dúvidas. Seu corpo inteiro suava e tremia desde que começaram a caminhar. A princípio, Kizzy pensara que era fome, cansaço ou afeito da magia da mulher da Floresta Escondida. Afinal, Kizzy sabia, bem lá no fundo, que havia algo de errado desde que deixará a Floresta para atrás. Mas não pensara que estava na hora, isso não...
Quando sentiu uma água escorrendo pelas suas pernas, pensou ser suor. Torceu para ser suor. E recusou-se a olhar; porque isso seria admitir que havia uma possibilidade, e nem isso Kizzy queria. Agora, tenho que fazer força...
Ao levantar-se com a ajuda de Dyana, Kizzy deixou uma mancha vermelha na areia que nenhuma das duas percebera. E esse era o primeiro e principal sinal de que algo estava errado.
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—|Dyana teve sua mão esmagada mais de cinco vezes enquanto Kizzy fazia força.
Ao saber sobre o parto, Dyana agiu rapidamente. Assim como Kizzy, passara algumas noites imaginando como a ajudaria caso o bebê chegasse mais cedo, na praia, no bote ou até mesmo no navio. Dyana lera alguns livros a respeito e fizera perguntas — por pura curiosidade — à Madame Addie, mas a teoria era infinitamente mais bela e poética do que aquilo.
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Once, in Paradise
Fanfic•Há quase quinhentos anos atrás, Tamlin cometeu uma traição horrível com seu amigo íntimo, Rhysand. Essa traição desencadeou eventos trágicos e uma rivalidade que duraria por séculos. Mas excluindo o ego, o orgulho e a arrogância de ambas as partes...