—|CORTE CREPUSCULAR|—
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—|Os dedos de Nellya mexiam-se com agilidade e destreza conforme trançava as palhas de coqueiro, formando uma cesta de tamanho médio. Guardará algumas frutas para alguns dias da viagem. Não muitas porque a maioria estragaria antes que pudessem comê-las. Kizzy chegou a sugeri que levassem alguns côcos, mas eram pesados demais para o bote pequeno.
Kizzy encarou o pedaço de madeira visivelmente frágil ancorado na areia, ao seu lado esquerdo, e parte de si desejou que algo destruísse aquele maldito bote desgraçado.
Ao seu lado, Nellya a cutucou, franzindo o cenho e enrugando o nariz. Ela exigia a atenção de Kizzy e a repreendia pela distração. Aquele era o primeiro dos cinco dias que tinham para se preparar e, pelo visto, Nellya não estava disposta a desperdiçar nenhum segundo.
— Estou prestando atenção...! — Ela levantou as mãos em rendição. — Só estava pensando no plano do Oryn de novo... Não está com medo?
Nellya balançou a cabeça, como se estivesse dizendo mais ou menos.
— Estou apavorada. Na verdade... O medo nem é por mim, é por Dyana e ele — Kizzy passou a mão pela barriga. — Quer dizer, você viu como Dyana ficou naqueles dias no bote... Toda quieta e frágil. É disso que eu tenho medo, não de qualquer maldito na Corte Crepuscular...
Nellya encarava Kizzy com os olhos azuis atentos e, quase, arregalados. A muda deixou a cesta em formação de lado, passando a mão na areia, como se fosse escrever. Kizzy enrugou a testa; ela não sabia escrever.
Segundo os boatos que Kizzy ouvira a bordo do O Desconhecido, Nellya trabalhara como lavadeira na corte de um príncipe cruel em um reino distante, e, em uma das muitas punições que sofrera, sua língua fora cortada. Lavadeiras não são ensinadas a ler ou escrever, Kizzy sabia, e era por isso que confiava alguns segredos bobos a Nellya, além de sentir-se mais a vontade em conversar com a feérica.
As letras se formavam com rapidez, uma rapidez que só alguém com um grande conhecimento das letras teria. Kizzy leu o que ela escreveu: deveria ter medo dos nobres, principalmente aqueles da Corte Crepuscular.
— Medos dos nobres... São seres realmente insanos... — O olhar de Kizzy tornar-se desconfiado, de modo que a antiga empregada se encolheu um pouco. — Fala por experiência própria, não é? Ouvi dizer que trabalhava para um príncipe cruel num reino distante. Por isso perdeu a língua. É verdade?
Nellya abaixou o olhar por meio segundo antes de concordar.
— Me surpreende que uma lavadeira soubesse escrever. Quem a ensinou?
Nellya não respondeu, apenas seus olhos, cheios de lágrimas, deram alguma indicação de algo escondido. Kizzy persistiu:
— Como conheceu o Capitão, Nellya? Como acabou no O Desconhecido?
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Once, in Paradise
Fanfiction•Há quase quinhentos anos atrás, Tamlin cometeu uma traição horrível com seu amigo íntimo, Rhysand. Essa traição desencadeou eventos trágicos e uma rivalidade que duraria por séculos. Mas excluindo o ego, o orgulho e a arrogância de ambas as partes...