Capítulo 37

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É muito difícil tentar o tempo inteiro mostrar para as pessoas que um autista não é um ser de outro planeta

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É muito difícil tentar o tempo inteiro mostrar para as pessoas que um autista não é um ser de outro planeta. Menos ainda uma pessoa deficiente que mal tem condições de tomar o próprio banho sozinha. Isso tem me deixado mais irritada do que tudo ultimamente. O olhar de piedade das pessoas me deixam com os nervos à flor da pele.

Já não basta ter que lidar com minhas próprias emoções, tentar entender o que meu corpo quer dizer e alinhar isso às minhas necessidades mais comuns, ainda preciso lidar com a ignorância das pessoas que sequer sabem, ou tentam saber, o que significa a sigla TEA. Eu já estou de saco cheio de tudo isso.

Desde a operação de meu marido, há uma semana, tenho enfrentado nesse hospital alguns olhares de estranheza de algumas pessoas. Principalmente, de alguns enfermeiros que não gostaram nada de terem que ceder seus lugares para mim, para que eu pudesse participar da cirurgia em que queria estar de qualquer forma e que não arredei o meu pé para conseguir. Foi um dia bastante tenso...

FLASHBACK ON

- Senhora Fontinelly, isso não será possível, pois há algumas regras que...

- Vocês falam como se nunca tivessem quebrado alguma regra, doutor. - Declaro. - Todos aqui, indistintamente, já foram favorecidos por alguma coisa ou alguém nesse hospital, sem nem mesmo se importarem com as regras e agora quer me parar apenas porque não é ético? - Indago-o e vejo ele olhar para os lados e meu marido sorrindo para mim. - Eu não vou operá-lo, isso é ofício seu, quero apenas estar lá para poder acompanhar tudo. Não sei se o senhor sabe, mas sou muito boa enfermeira e, caso ocorra algum contratempo, tenho capacidade suficiente para auxiliá-los caso necessite.

- Eu entendo, mas...

- Entende mesmo? - Interrompo-o.

Após ouvir inúmeras desculpas para que eu não entrasse na sala de cirurgia e assim pudesse estar ao lado do meu marido, meu nível de tolerância normal, diante de todas as desculpas hipócritas que ouvi, chegou ao seu limite. Eles poderiam me impedir de qualquer coisa, menos de estar ao lado do meu marido num momento tão delicado. Isso eu não iria admitir.

- Eu confio na capacidade dela de auxiliar o senhor. - Dylan diz seguro. - Assim como eu estarei lá para ajudá-lo, ela também pode estar.

- Doutor Mendes, pode haver algum...

- Está achando que vou ter uma nova crise? Mas não vou! Posso e vou muito bem controlar as minhas emoções quando se trata dele. Apenas não tente me impedir de estar ao lado se quem amo, pois eu não vou aceitar. E tem mais, se eu não puder fazer o mínimo que é entrar, ele não será operado. - Digo e então os olhos de todos vão para Heitor que está ao meu lado.

- Isso não! - Meu sogro diz. - Faça o que quiser fazer, mas meu filho vai ser operado com certeza. Se o marido dela confia nela, assim como nossa família confia, ela vai ficar e está resolvido. - Tio Vittor vocifera, encerramento o assunto.

HEITOR FONTINELLY-TRILOGIA IRMANDADE III (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora