Dei duas batidas na porta, e só girei a fechadura e entrei, quando ouvi ele dizer do outro lado que eu poderia entrar. Ele estava sentado, atrás de uma mesa de mogno e parecia concentrado em algo na tela do notebook.
Fiquei parada próximo a porta, até que ele se virasse para mim e pedisse para que eu me sentasse. Obedeci, e ocupei a cadeira em frente à mesa.
- Eu não sou de arrodeio, então vou direto ao assunto. – ele disse firme, olhando diretamente em meus olhos. – Eu já estou com trinta e quatro anos, e meu pai a cada dia que passa, me cobra ainda mais para que eu me case e constitua uma família tradicional. Eu não cederia as suas vontades, se não tivessem outras coisas importantes em jogo.
Engoli em seco, sabendo bem onde ele queria chegar, ele me obrigaria a casar com ele.
- Tive uma atitude impulsiva ontem, não tenho o hábito de frequentar aquele tipo de lugar e nem pagar para ter mulheres, mas um amigo me convidou, e quando o leilão começou e eu vi você assustada, fiquei com pena de você, e pensei que podíamos nos ajudar.
- Você quer eu seja sua esposa? – perguntei e ele fez uma careta.
- Acho que não vai precisar chegar a tanto, seria minha noiva, noivados podem durar anos e mantendo esse noivado de fachada, eu alcançaria meus objetivos e quando isso acontecer, você estará livre.
Noivado de fachada, bem tradicional mesmo.
- O que me diz?
Eu encarava minhas próprias mãos sobre os meus joelhos, ele me comprou, eu com certeza não teria direito a escolha, o que ele me propunha, não era uma pergunta, era o que aconteceria eu querendo ou não.
Por mais que isso me causasse repulsa, por mais que me sentisse enojada de ter sido comprada como um pedaço de carne em um açougue, eu estava feliz por não ter que estar mais naquele lugar. E Rodolffo, me tratava bem e não parecia alguém que estivesse com vontade de me fazer mal.
- Acho que não tenho muita escolha. – respondi ainda com a cabeça baixa, e ouvi ele respirar forte.
- Não será por muito tempo, quando tudo acabar, te darei dinheiro para recomeçar sua vida, e ninguém precisa saber do que aconteceu antes, será nosso segredo.
- O que mais quer de mim?
- Bom, terá que se comportar como minha namorada, tenho alguns eventos para participar e você me acompanhará.
- Você quer a experiência completa, ou será tudo fachada? – fui direta, e pela primeira vez olhei em seus olhos.
- Não irei te obrigar a nada, mas quero sim ter você. Eu te desejo.
Senti minha bochechas queimarem, e ele deu um sorriso de canto.
- Você é muito atraente, e está difícil não fazer o que eu quis desde o momento que coloquei os olhos em você. Mas como te disse, não te obrigarei a nada.
- Eu serei a sua noiva. – ele sorriu triunfante. – Mas quanto ser sua mulher, eu preciso pensar um pouco. Como você sabe, eu sou...
- Virgem. – ele me interrompeu.
- Isso. – afirmei. – Ainda acho estranho tudo o que aconteceu, ser leiloada com um objeto contra a minha vontade, tudo isso parece doentio. Sou grata por ter me tirado daquele lugar, mas não sou prostituta, e não vou transar com você só porque me comprou.
- Tudo bem. – ele concordou. – Te darei o tempo necessário para pensar.
- Obrigada.
- Acho que já conheceu a Lúcia certo? – assenti. – Qualquer coisa que precisar, pode pedir a ela, solicitei que comprassem algumas roupas, e pelo que vi couberam perfeitamente no seu corpo. – senti seu olhar percorrer meu corpo e um calor subir pelas minhas pernas. – Te darei um cartão de crédito e Ricardo está disponível para te levar aonde quiser. Não é prisioneira aqui, não vou impedir seu direito de ir e vir, mas peço que seja discreta e se comporte.
- Não quero abusar.
- Não é abuso, você é minha noiva agora, e quero que sempre ande arrumada e bonita. Pelo tempo que durar nosso combinado, terá todo o suporte necessário.
- Obrigada. – agradeci novamente e ele sorriu.
- Se quiser ir, está liberada. Preciso revisar alguns contratos e já encontro vocês para o almoço.
- Licença. – me levantei e deixei o escritório.
Tudo parecia absurdo, mas era melhor do que estar naquele lugar. Iria aproveitar esse tempo, conseguir o dinheiro que eu precisava e ajudar Sarah a sair de lá, ou até mesmo conseguir colocar Arthur na cadeia. Ele merecia por enganar mulheres inocentes.

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Vendida
Hayran KurguUm momento de dificuldade, às vezes faz com que a gente tome atitudes precipitadas e estúpidas. Fui em busca de um sonho, uma oportunidade de ouro para me livrar das dívidas adquiridas pelos tratamentos da minha mãe, mas fui enganada. O conto de fad...