Vendida

Vinte e um

- Me conta o que aconteceu, princesa? – ele pediu, afagando os meus cabelos.

- Ele está aqui. – respondi com a voz trêmula.

- Quem?

- Arthur. – levantei meu rosto para olhar em seus olhos, e vi eles se arregalarem de susto.

- Não é possível. – ele me soltou, pegando o celular do bolso e caminhando até o escritório a passos duros.

Não entendi sua atitude, eu sentia tanto medo e agora só queria que ele me abraçasse e me protegesse como prometeu.

Subi correndo as escadas, pegando algumas peças de roupas do guarda-roupas e as colocando numa mala. Eu precisava sair daqui, preferia morrer a voltar para aquele lugar, não sabia para onde iria e nem como iria, me sentia sufocada demais para pensar com clareza.

Rodolffo entrou afobado no quarto, e arregalou os olhos quando me viu fazer as malas.

- Ei, o que está fazendo?

- Preciso sair daqui. Ele me achou e ele vai me levar de volta, eu preciso fugir.

- Ninguém vai levar você, eu te prometo isso. – ele me abraçou forte, afagando meus cabelos. – Preciso te mostrar uma coisa, vem comigo.

Rodolffo me guiou pela mão, até chegarmos no seu escritório. Vi que em cima da mesa de mogno, havia uma pasta preta.

- Eu queria te deixar longe disso, decidi que só iria te contar quando a investigação estivesse finalizada, mas isso está fora de cogitação agora. – ele começou a explicar, me levando até a mesa e abrindo a pasta para que eu tivesse acesso ao conteúdo.

Vi várias fotos dentro da pasta, eram fotos de Arthur, da agência de modelos em São Paulo, e haviam até algumas fotos do lugar onde eu fiquei. Haviam também informações sobre mim, um documento que parecia a escritura da minha casa na Paraíba, minha certidão de nascimento e fotos do meu salão.

- No dia seguinte ao dia que te... - ele fez uma pausa e suspirou, eu sabia que ele ia dizer que me comprou, mas por algum motivo pareceu hesitar. – Resgatei, eu procurei saber mais sobre você. Descobri sobre sua mãe, sobre sua dívida na Paraíba e paguei por tudo. Queria ter certeza que você teria para onde voltar quando nosso combinado terminasse.

Senti as lágrimas molharem meu rosto, enquanto encarava todo aquele dossiê na minha frente. As lembranças daquele lugar me atormentavam, e ver as fotos que ilustravam minhas lembranças, tornava aquilo ainda mais real e doloroso.

- Contratei um policial aposentado, e ele começou a me ajudar a investigar o Arthur. Ele é safo, não tem quase nada sobre ele e eu não sabia direito como descobrir mais, até que me contou sobre a agência de modelos, nesse dia tudo mudou. Conseguimos coletar mais provas e descobrimos que tem uma equipe de operações especiais da polícia civil atrás deles. Entreguei a eles tudo o que descobrimos e graças a isso eles montaram uma operação para prender todos os envolvidos, por eu ter colaborado, eles me concederam imunidade e nada vai acontecer comigo, muito menos com você.

Senti um certo alívio ao ouvir aquelas palavras, saber que eles estavam sendo investigados, e que logo estariam presos, me fazia conseguir respirar mais tranquila.

- Você disse que não queria investigar, você disse....

- Eu disse que não queria que você investigasse. – ele segurou meu rosto com as duas mãos, limpando minhas lágrimas com os polegares. – Eu já estava cuidando de tudo, não menti quando disse que não deixaria nenhum mal te acontecer. Só não queria você no meio dessa sujeira, desde que coloquei meus olhos em você naquele lugar, eu senti uma necessidade de cuidar de você. Parecia um anjo no meio do inferno, e eu quis te tirar de lá e não me arrependo.

- Mas ele está aqui, ele não vai me deixar em paz.

- Esse policial que eu contratei, está seguindo o Arthur. Parece que ele veio a negócios e foi apenas uma coincidência ele ter te encontrado no shopping, ele não veio por você, mas tenho certeza que aproveitou a situação para te amedrontar. Era pro Ricardo estar com vocês. Pode me explicar por que ele estava no estacionamento?

- A Izabella pediu para que ele esperasse lá.

- Não faz mais isso, Ricardo é mais do que um motorista, ele também é segurança e ele está ali para te proteger.

- Eu tô com medo, não quero voltar para aquele lugar.

- Você não vai voltar, Arthur vai embora na segunda pela manhã, já descobrimos o horário de seu voo e você terá mais um segurança para te acompanhar na faculdade. Estará protegida, eu te prometo isso.

Senti confiança em sua voz, e por mais que eu estivesse com medo, decidi confiar em suas palavras.

-

-

Já era noite, e eu estava na cama, lendo um livro e pronta para dormir, quando vi Rodolffo aparecer na minha porta.

- Tem um monstro no meu armário, me deixa dormir aqui? – perguntou manhoso e eu dei risada da sua cara de pau.

Eu sabia que era uma desculpa para estar perto de mim, e me dar segurança durante a noite.

- Um homem desse tamanho, com medo de monstros no armário? – debochei e ele deu uma risada escandalosa.

- Eles são assustadores. – foi minha vez de dar uma gargalhada.

- Vem cá. – o chamei e ele sorriu ainda mais.

Eu também não queria ficar sozinha.

Abri espaço para ele na cama, e quando ele deitou me puxou para deitar em seu peito. Rodolffo ficou fazendo carinho em meus cabelos, a sensação de proteção, somados ao seu calor e seu perfume gostoso, me ajudaram a dormir com tranquilidade.