Vinte

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Mal sai do quarto naquele sábado, preferi terminar um livro que comecei a ler antes de iniciar meu curso na faculdade, e que ainda não havia concluído. Ouvi vozes no andar de baixo, Rodolffo conversava com uma mulher e eu senti meu sangue ferver com a audácia dele de trazer um dos seus casos para casa.

Ele parecia realmente querer me humilhar.

Resolvi descer, e encarar minha rival. Ela estava de costas, só pude ver seus cabelos longos e escuros, os dois riam de um assunto qualquer e demoraram a notar minha presença.

- Que prazer finalmente conhecer minha cunhadinha. – a mulher se levantou sorridente e caminhou até mim, me dando um abraço. – Sou a Izabella, irmã do Rodolffo.

- Ah, prazer em te conhecer. – dei um sorriso sem graça, por ter imaginado que ela era uma das amantes de Rodolffo.

- Vim aqui te conhecer e te sequestrar. – ela disse animada. – Vamos para o shopping! E eu não vou aceitar um não como resposta.

- Já que é assim, vou me trocar e já desço.

Sabia que enquanto durasse essa farsa, que eu precisaria fazer meu papel diante das pessoas da família dele, foi isso o que combinamos. E talvez uma tarde no shopping, não fosse tão ruim assim.

Me troquei, coloquei um short saia preto e uma blusa verde, calcei um tênis branco e fiz uma maquiagem leve e desci, pronta para a minha tarde com a minha cunhada.

- Tá levando o cartão que eu te dei? – ele perguntou, envolvendo a minha cintura e colando nossos corpos.

- Tô sim.

- Então divirta-se. – ele se inclinou para me dar um beijo, e eu sabia que não poderia recusar, afinal a irmã dele estava ali, vendo tudo e eu precisava fingir.

Rodolffo se aproveitou disso, e o que eu pensei que seria apenas um breve selinho, se tornou um beijo intenso e apaixonado. Sua língua abraçava a minha, enquanto ele me puxava pela nuca, aprofundando ainda mais o beijo. Precisei corresponder, e não foi difícil, apesar de tudo eu sentia falta dele.

- Arrumem um quarto vocês dois. – escutei Izabella dizer.

Ele interrompeu o beijo e sorriu, antes de me dar um selinho estalado.

- Não demora muito, se não vou morrer de saudades.

- Trago ela mais tarde. – Izabella me puxou pela mão, caminhando comigo até o carro.

Toda aquela situação me deixava perplexa e eu nem sabia direito como agir diante de tudo aquilo. Seu carinho comigo era tão real, que nesses momentos eu me esquecia que não passava tudo de um teatro, para que ele conseguisse sua herança.

Meu coração bobo disparava quando ele estava perto, eu estava apaixonada por ele, mesmo sabendo que ele não merecia os meus sentimentos. E talvez, nem mesmo se importasse com eles.

Fiquei por semanas o evitando, o querendo longe de mim. Mas depois desse beijo, eu sentia que por mais que quisesse me manter distante, uma hora eu não resistiria mais.

Ele queria ser meu dono, e eu não queria ser tratada como um objeto. Rodolffo colecionava carros; na garagem da sua casa haviam os mais variados modelos, todos luxuosos. E eu não queria que ele pensasse em mim, como ele pensava nos carros que adquiria.

Ricardo nos levou ao shopping, e Izabella se mostrou uma companhia incrível. Nos demos bem de cara, e mesmo que eu não gostasse tanto de fazer compras, amei passar minha tarde com ela.

Se tudo fosse verdade, adoraria tê-la como cunhada.

Carregávamos um monte de sacolas, e ela me contava algumas de suas experiências quando estava viajando, o motivo que eu ainda não a conhecia, era porque estava em Miami. Ficou lá por alguns meses, na casa que ela e seu marido haviam comprado.

Ela já começava a fazer diversos planos para irmos juntas para lá, isso porque eu disse que sonhava em conhecer a Disney, mas nunca havia ido.

Conversávamos distraídas pelo shopping, quando senti alguém trombar em mim.

- Desculpa, moça. Não te vi.

Deixei todas as sacolas que eu carregava caírem no chão, senti meu corpo inteiro tremer e minha boca secar, parado a minha frente, estava Arthur. Sorrindo e olhando para mim.

- Tudo bem, Ju? – Izabella perguntou preocupada, mas era como se eu nem estivesse mais presente no meu corpo.

Vi Arthur recolher as sacolas do chão, e se aproximar mais de mim para me entregar.

- Não quis te machucar, estava distraído. Me desculpa.

- Tudo bem. – Izabella sorriu e pegou as sacolas da mão dele, quando viu que eu não me movi.

O vi sorrir e acenar antes de sair, enquanto eu sentia um bolo se formar no meu estômago. Ele me achou, ele estava aqui para me levar de volta.

- Meu Deus, Ju. Você está gelada e tremendo, o que aconteceu?

- Me leva pra casa, por favor.

Ela me olhava assustada, mas fez o que pedi. No carro eu desabei, não conseguia parar de chorar e ela me abraçava para me consolar, mesmo sem entender o motivo do meu desespero.

Entrei em casa correndo, Rodolffo estava na sala e eu pulei em seus braços, afundando meu rosto em seu peito e chorando descontroladamente.

- Meu amor, você está tremendo. O que aconteceu, Izabella?

- Eu não sei, ela ficou assim depois que um homem trombou com ela no shopping, não sei o que aconteceu.

- Pode deixar, Izabella. Pode ir pra casa, eu cuido dela.

- Tem certeza, eu posso...

- Tenho, pode ir.

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