Trinta e um

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- Eu vou precisar ir para São Paulo por alguns dias. – Rodolffo disse quando me viu entrar no quarto.

Suspirei um pouco contrariada, faziam apenas horas que estávamos em casa, e Rodolffo já estava grudado no celular, olhando coisas de trabalho.

- Posso ir com você?

- Não, você tem aula. – ele respondeu, bloqueando a tela do celular e colocando o aparelho em cima da mesa de cabeceira. – Sem contar que é uma viagem de trabalho, não vou poder te dar atenção e você já está brava comigo.

- Tudo bem. – concordei, subindo na cama e deitando ao seu lado.

- Prometo que não demoro muito por lá. – ele me puxou para deitar em seu peito, e começou a fazer carinho em meus cabelos. – Vai sentir saudades? – quis saber e eu fiz careta.

- Acho que não muita, visse. – dei uma risadinha, e ele rolou por cima de mim, beijando meu pescoço. – Tá bom, talvez um pouco.

- Eu vou sentir muitas saudades. – ele continuou me beijando, me fazendo soltar uns gemidos baixinhos.

- Tá bom, vou sentir muita saudade também.

-

-

Já faziam dois dias que Rodolffo estava em São Paulo, e eu já estava morrendo de saudades dele. Estava na cozinha com Lúcia, tomando meu café da manhã antes de ir para a faculdade. Lúcia sempre gostava de ouvir música em seu radinho, mas nessa manhã, não era música que tocava, e eu forcei para prestar atenção na notícia que davam.

"Acabaram de ser presos, os membros da quadrilha que usavam uma agência de modelos como fachada, para tráfico e prostituição de mulheres. Uma grande operação policial foi montada ainda nessa manhã, em conjunto com a policia civil do estado de São Paulo, e da polícia federal."

- Tá tudo bem, Ju? Você está pálida. – Lúcia perguntou, mas nem respondi, sai correndo para a sala, ligando a TV e procurando pelo canal de notícias.

Vi Thaís saindo algemada da agência de modelos, e levei minhas duas mãos à boca, enquanto sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Na TV, passavam imagens da quadrilha sendo presa, além das imagens do bordel que eu fiquei.

"A operação, apelidada pela polícia como 'operação luz na passarela' aconteceu simultaneamente nas capitais do estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Ao todo, mais de duzentas pessoas foram presas em flagrante, todas envolvidas diretamente ou indiretamente com tráfico de mulheres e prostituição.

As meninas eram ludibriadas com histórias de que seriam modelos, e eram usadas em casas de prostituição de alto padrão. A polícia ainda tenta descobrir os membros do chamado 'clube secreto', que ajudava a financiar todo o esquema da quadrilha.

Temos ainda informações, que muitas delas, eram transferidas para outros países, como Turquia, Rússia e Estados Unidos. A investigação já corre em segredo há um tempo, mas só recentemente, depois de uma denúncia anônima, que a polícia teve acesso a mais dados e conseguiram com isso emitir os mandados de busca e apreensão.

Da casa noturna localizada em São Paulo, mais de cinquenta mulheres foram resgatadas."

Mal percebi quando Lúcia sentou ao meu lado, me abraçando de forma carinhosa, enquanto eu chorava descontroladamente.

Eu nem sabia direito como me sentia, era um turbilhão de sentimentos, mas o maior de todos era alivio. Alivio por eles terem sido presos, alivio pelas mulheres terem sido libertadas e mais ninguém ter que passar por isso.

Meu choro se tornou mais intenso, quando começaram a mostrar o bordel que eu fiquei, e Lúcia me abraçou mais forte.

- Era ali que você estava, querida?

- Era. – minha voz saiu fraca no meio das lágrimas, e ela afagou meus cabelos.

- Já passou, você está bem agora.

As imagens da reportagem começaram a cobrir a delegacia, e eu me desesperei quando vi Rodolffo aparecer.

- Não! Ele não fez nada, Lúcia. – chorei ainda mais, imaginando que ele estava sendo preso.

- Calma, querida.

- Ele me resgatou, ele não pode ser preso.

Senti meu celular vibrar no meu bolso, e o peguei depressa, vendo o nome de Rodolffo aparecer na tela.

- Amor. – atendi, ainda sem conseguir controlar minhas lágrimas e muito menos minha voz.

- Pela sua voz você já sabe. – ele parecia tranquilo do outro lado. – Fica calma, amor. Acabou, o pesadelo acabou.

- Por que você está na delegacia?

- Desculpa não ter sido sincero, o delegado me pediu pra vir para colher meu depoimento. Sabia que se te contasse ia ficar nervosa e ansiosa. Mas tá tudo bem agora.

- Você não tá sendo preso? – perguntei e ele deu uma risadinha.

- Não, amor.

- Nem acredito que acabou.

- Acabou, e tem uma pessoa aqui ao meu lado, que quer muito falar com você. Vou trocar a chamada pra vídeo, ok?

- Ok.

Afastei o telefone da orelha, e vi no exato momento que uma Sarah desfigurada aparecia na tela. Seu rosto estava roxo e inchado, além de ter vários cortes na sobrancelha e lábios.

- Meu Deus, o que fizeram com você Sarah?

- Tentei fugir de novo. – ela disse triste. – Mas não pense nisso agora, Rodolffo me contou sobre tudo o que fez desde que saiu de lá, e eu queria mesmo era te agradecer por não desistir. Eu estava prestes a ser transferida para a Turquia, quando os policiais invadiram e tiraram a gente de lá. Vou ser eternamente grata a você por isso.

- Eu prometi que voltaria por você.

- E você cumpriu, fico feliz que esteja bem, fiquei tão preocupada com você. Você teve a sorte de encontrar seu noivo.

- Você tem pra onde ir?

- Sim, consegui falar com a minha família e eles estão vindo me buscar. Seu noivo me deu seu telefone, e assim que eu estiver instalada, eu te dou notícias, ok?

- Ok, me avise sim.

- Obrigada, Ju. De verdade. – ela me mandou um beijo, antes de devolver o celular a Rodolffo.

- Me perdoa por não ter te contado antes?

- Perdoo, e obrigada, amor. Você não tem ideia do que isso significa pra mim.

- Preciso conversar com o delegado, amanhã eu tô de volta, tá bom? Estou morrendo de saudades.

- Eu também. – admiti, antes de mandar um beijo para ele. - Te amo.

- Te amo.

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