Vinte e quatro

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- Trouxe um presente para você. – Rodolffo entrou no meu quarto, segurando uma caixa grande, preta, com um laço dourado em cima.

- E qual o motivo do presente? – perguntei curiosa, pegando a caixa de sua mão.

- Preciso de um motivo para te presentear? – ele sorriu galante, colocando as mãos no bolso da bermuda. – Abra.

Coloquei a caixa em cima da cama, e puxei o laço dourado, antes de abrir a tampa. Afastei os papéis brancos que o embrulhavam, e vislumbrei um vestido num vermelho vivo.

- Vamos jantar com meus pais hoje, queria que usasse isso. – ele pediu se aproximando, me virando para ficar de frente para ele, envolvendo minha cintura com uma das mãos, enquanto com a outra ele tocava meu cabelo. – Kiara vem te arrumar, e se puder fazer um pedido, gostaria que usasse aquele batom vermelho e deixasse os cabelos soltos e cacheados.

- Tudo bem. – concordei e ele sorriu antes de selar nossos lábios.

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Kiara chegou na hora combinada, e me arrumou conforme Rodolffo me pediu. Conversamos o tempo inteiro, e me diverti com ela me contando sobre as suas desilusões amorosas. Fiquei calada quando ela disse que eu tinha sorte de ter Rodolffo, que era tão apaixonado por mim.

Mal sabia ela, que tudo aquilo não passava de um combinado, e que acabaria em breve.

Estávamos nos dando bem melhor nas últimas semanas, e estávamos sempre nos beijando, mas Rodolffo nunca escondeu que sentia desejo por mim, e acho que tudo aquilo realmente não passava de tesão.

Eu por outro lado, me via a cada dia mais envolvida e apaixonada por ele, e mesmo que não quisesse me iludir, meu coração sempre disparava quando ele me beijava.

Me despedi de Kiara, quando ela finalizou minha maquiagem e cabelo, ela tinha mais alguns horários agendados e eu não queria atrasá-la.

Vesti o vestido que ganhei de presente mais cedo, era de um tecido acetinado e grosso, a parte de cima parecia um corpete, que realçava meu busto e modelava a minha cintura já fina. Ele não possuía alças, e a saia era reta e acabava na metade da minha coxa.

Ajeitei meus cabelos, admirando meu reflexo no espelho, quando ouvi um assovio atrás de mim. Me virei, e vi Rodolffo parado no batente da porta, me olhando admirado, com as mãos nos bolsos da calça jeans escura. Ele estava com uma camisa de botões preta, e os três primeiros botões estavam abertos, mostrando o inicio de seu peito talhado e seu pingente de crucifixo. As mangas estavam dobradas até a altura de seu cotovelo, e ele usava uma bota preta e lisa.

- Você está perfeita!

Sorri com seu elogio, e caminhei até ele e dei um beijo em seus lábios.

- Vamos? – chamou e eu concordei.

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Estávamos reunidos na sala depois do jantar. Rodolffo parecia empolgado, quando decidiu por abrir um champanhe, e senti meu coração errar uma batida quando ele se levantou, pedindo a atenção de todos os presentes.

- Quero aproveitar que estamos em família, para dizer algumas palavras. – ele iniciou e seu olhar prendeu nos meus, fazendo minha barriga gelar e meu coração disparar no peito.

Ele não podia fazer isso aqui, não aqui.

- Sei que demorei muito para encontrar a pessoa certa, mas agora que a encontrei não quero perder nem mais um dia. – ele se aproximou de mim, me puxando pela mão e me levando até o centro da sala com ele.

Vi os pais deles nos olharem sorridentes, Izabella parecia emocionada, e Marcos a abraçava. Senti um turbilhão de emoções, e todas elas me sufocavam.

- Na verdade, não quero perder nem mais um minuto. – ele retirou uma caixa quadrada de veludo do bolso, e se pôs sobre um joelho, abrindo a caixa na minha frente e fazendo todos soltarem uma exclamação surpresa. – Aceita se casar comigo?

Eu olhava atônita para a caixa em minha frente, meu coração estava disparado no peito e senti minhas mãos molharem pelo suor. Não conseguia acreditar que ele teve a coragem de fazer isso dessa forma, sem antes falar comigo.

Tudo parecia tão real, e ele usou palavras tão bonitas, que era mesmo difícil dizer que tudo não passava de um teatro. O que eu mais queria era gritar sim, isso se as palavras dele fossem reais.

- Eu... eu... não.... respi... não consigo.... respirar... - senti o ar faltar dos meus pulmões, uma sensação de sufocamento, precisava urgentemente respirar ar puro, e sem nem pensar direito, sai correndo para o jardim.

Me apoiei em meus joelhos, puxando o ar com força, tentando fazer com que ele voltasse para os meus pulmões, a sensação de sufocamento aumentando em meu peito.

- Ju, o que aconteceu? – Rodolffo apareceu preocupado atrás de mim, segurando o meu braço e me puxando para ficar de frente para ele. – Calma, respira comigo.

Rodolffo me ajudou com os exercícios de respiração, e alguns minutos depois eu já conseguia me sentir melhor, mas não menos confusa, perplexa e irritada.

- Por que fez isso? – perguntei, quando finalmente consegui.

- Do que está falando? Você sempre soube do noivado.

- Precisava ser assim? Por que não me deu um anel e depois contou a todos? Não precisava desse teatro na frente da sua família. - eu ainda estava ofegante, e sentia as lágrimas queimarem meus olhos. Ele realmente não entendia, e era isso o que mais me matava. - Ou poderia ter pelo menos me avisado, para que eu me preparasse...

- Desculpa, não sabia que ficaria assim.

- Eu quero ir embora, não me sinto bem.

- Tudo bem, vamos nos despedir dos meus pais primeiro.

Concordei, e ele me puxou pela mão de volta para dentro da casa, todos pareciam preocupados quando entrei, e eu forcei o meu melhor sorriso para enganá-los.

- Desculpa, fiquei emocionada e não soube como reagir. Rodolffo me pegou de surpresa. – tentei soar descontraída e vi a feição deles relaxarem e o sorriso voltar em seus rostos.

- Tudo bem, querida. Está se sentindo melhor agora? – Vera perguntou preocupada e eu assenti.

- Está tudo bem.

- Você não deu sua resposta, vai aceitar o pedido de noivado do meu filho? – Juarez quis saber e eu olhei para Rodolffo.

- Eu respondi lá fora, mas como não escutaram, minha resposta foi sim. – voltei a sorrir, e os vi vibrarem de emoção.

- Então coloca logo esse anel no dedo dessa moça, Rodolffo. Faço muito gosto desse noivado, e fico feliz que esteja entrando nos eixos.

Rodolffo voltou a abrir a caixa, tirando o anel de dentro dela e colocando no meu dedo, antes de beijar minha mão com carinho.

Nos despedimos de todos, e fomos para casa. Passei todo o caminho olhando para a pedra em meu dedo, me sentindo ainda mais confusa, e preocupada com os sentimentos que eu estava nutrindo por ele.

Talvez eu não conseguisse manter essa farsa, afinal.

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