Trinta e seis

690 78 24
                                    

- Acordou cedo, querida. – Lúcia se admirou quando entrei na cozinha naquela manhã.

A verdade, é que mal dormi à noite, meu cérebro não conseguiu desligar e eu fiquei repassando tudo o que tinha acontecido nas últimas vinte e quatro horas na cabeça.

- Não dormi muito bem. – contei e ela suspirou.

- Ricardo me contou o que aconteceu ontem. Como você está?

- Acho que não tive tanto tempo pra assimilar como eu estou. – dei de ombros.

- Eu entendo, quer que eu prepare seu café?

- Na verdade, eu pensei em preparar alguma coisa e levar pro Rodolffo na cama.

- Vou te ajudar, então.

Preparamos juntas o café da manhã, e montei a bandeja com todo o capricho, até coloquei umas florzinhas que colhi no jardim junto para enfeitar. Aproveitei também, e peguei uma bolsa de gelo e analgésicos para Rodolffo. As mãos deles estavam muito vermelhas e inchadas e provavelmente ele estava sentindo dor.

Depois de tudo pronto, subi as escadas e entrei no nosso quarto. Ele já estava acordado e sentado na cama com a cabeça baixa.

- Trouxe nosso café. – anunciei ao entrar, colocando a bandeja de café em cima da mesa. Ele levantou a cabeça para me olhar, e pude ver que seus olhos estavam marejados. – O que foi? – perguntei e ele se levantou depressa e me abraçou, afundando o rosto na curva do meu pescoço.

- Achei que tivesse ido embora.

- Eu só fui pegar nosso café. – justifiquei, afagando seus cabelos e ele me abraçou mais forte. – Te falei que não ia embora.

- Só tive medo.

- Eu trouxe analgésicos pra você, sua mão tá muito machucada. – me soltei do seu abraço, e fui até a bandeja, pegando os comprimidos e despejando um pouco de suco de laranja no copo.

- Tá mesmo doendo. – ele admitiu, movendo de leve os dedos da mão, antes de pegar os comprimidos da minha mão e tomar junto com o suco.

- O que aconteceu naquele galpão? – perguntei e ele fez careta.

- Não quero falar sobre isso.

- Amor... - insisti e o vi bufar.

- Eu bati nele, Ju... muito. Se Ricardo não tivesse me tirado de cima dele, não sei o que teria acontecido. Não sou de violência, mas não consegui me segurar depois que dei o primeiro soco, eu senti tanta raiva do que ele fez com você...

- Tudo bem, não pensa mais nisso.

- Depois eu preciso ver o que aconteceu, Ricardo ficou com ele até a polícia chegar, talvez eu tenha que responder algum tipo de processo...

- Eu vou estar com você. – prometi e ele selou nossos lábios, antes de me puxar até a cama.

Rodolffo se sentou, me colocando sentada de frente no seu colo, com as mãos em volta da minha cintura. Passei minhas mãos pelo seu pescoço, aproveitando para afagar seus cabelos, o vendo fechar os olhos com o meu carinho.

- Eu não te traí. – ele disse ainda de olhos fechados, e eu sabia que hoje não conseguiria fugir dessa conversa.

- Me conta o que aconteceu.

- A Amanda e eu, tínhamos um caso. – ele contou e eu fiz uma careta. – Não faz essa cara, ciumenta. Foi antes de você.

- Tá bom, continua.

- A gente nunca teve nada sério, ficávamos às vezes quando rolava a vontade de ficar, sem compromisso e sem cobrança. Não tínhamos nada definido, mas acho que ela criou algum tipo de esperança que o que tínhamos iria evoluir, e quando ela me viu chegar com você na festa, ela ficou bem chateada, pediu pra conversar e chegou a sugerir que a gente continuasse se encontrando.

- Ahn. – murmurei, tentando me levantar do seu colo, mas ele não deixou e me abraçou mais forte.

- Nós dois ainda não tínhamos nada, mesmo eu querendo muito ter. Chegava tarde todos os dias do trabalho propositalmente, porque todas as vezes que eu te via, eu queria te beijar, te jogar na cama e fazer amor com você.

- Você ficou com ela, depois da gente?

- Não. – ele negou. – Mas eu meio que concordei com a ideia da Amanda de continuar ficando, só que ai você viu a nossa conversa e eu vi o quanto você ficou chateada e eu nunca mais atendi as ligações dela, ela começou a ficar insistente e me seguiu até São Paulo.

- Por que vocês estavam jantando juntos?

- Eu estava jantando sozinho quando ela chegou, ela sabe que sempre janto nesse restaurante quando estou em São Paulo, fica perto do hotel e é um dos meus favoritos. Ela me pegou de surpresa, começou a chorar e eu tive pena, fiquei me sentindo mal por ter alimentado esperanças nela e aceitei conversar.

- E o beijo?

- Nossas bocas mal encostaram, Ju. Eu juro a você, a pessoa que tirou a foto, pegou o momento exato na câmera, mas não foi um beijo de verdade. Eu a afastei na mesma hora, briguei com ela por ter feito isso e fui embora.

- Ela fez isso de propósito pra separar a gente.

- E quase conseguiu, né bichinha? Não acredito que ia realmente embora.

- Devia ter te esperado chegar e ter conversado com você.

- É. – ele sorriu, me dando um beijo suave nos lábios. – Às vezes eu me preocupo com a gente.

- Por que?

- Você é tão novinha, teve poucas experiências. Tenho medo de no futuro você se arrepender, tem mesmo certeza de quer se casar comigo?

- Minha mãe começou a ter os problemas de saúde, eu era muito nova, enquanto os outros jovens da minha idade estavam tendo novas experiências, eu estava cuidando dela. Só havia beijado uma pessoa, e nem chegou perto do nosso beijo. Sei que talvez eu esteja abrindo mão de ter outras experiências, mas eu te amo e eu quero sim me casar com você.

- Não vai jogar na minha cara quando eu for velho e rabugento? – ele perguntou divertido e eu dei uma risada alta.

- Você já é velho e rabugento.

Dei um gritinho quando ele me jogou na cama, subindo em cima de mim e se encaixando entre as minhas pernas.

- Vou te mostrar o velho rabugento, novinha.

VendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora