A Princesa e a Plebeia

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Pov Wednesday

Perdi meu rumo, ainda admirando Enid Sinclair, em seu estilo de princesa mimada. Permanecendo paralisada, com um sorriso abobado e observando Pubert ir ao seu encontro.

A maior o abraçou, logo depois, lhe entregando a bolinha de pelos, que lambeu o rosto do meu pequeno com alegria.

- Willa! Ela é tão fofa! -exclamou encantado, rindo com o filhote.

Me aproximei, com curiosidade, e examinei a cadelinha, a qual, trajava um vestido rosa. Aquilo me roubou um riso gostoso e Enid me fitou, se contagiando.

- Qual o nome dela? Rainha de gelo? -indagou Pub, ainda com sua atenção sob o animal.

- Então, eu sou ruim com nomes! -explicou meio desconcertada- eu pensei que um pequeno Addams poderia me sugerir um bom nome! -propos e o menor concordou contente.

Meu irmãozinho se entreteu em analisar a cadelinha, enquanto eu fitava Enid descaradamente. Suas íris se encontraram com as minhas e eu possuía certeza de que azul era minha cor favorita.

- Ice! -a voz satisfeita de Pubert soou alta, cortando nossa troca de olhares.

Enid o fitou com um sorriso divertido e arqueou as sobrancelhas.

- Uma rainha de gelo e seu filhote,  chamado Ice? Isso faz todo o sentido! -riu gostosamente, acariciando os pelos brancos.

Pubert se ocupou com o lulu da pomerania durante quase todo o tempo de visita, vindo para perto quando estava cansado de tanto brincar.

Antes de precisar se retirar, o menor estendeu uma folha para Enid, com bochechas, adorávelmente, vermelhas.

- Fiz este desenho para você, rainha de gelo! -alegou, enquanto a mais velha aceitava o presente, deixando um beijo grato sob sua testa- você ainda vai me visitar? -ele questionou com receio e a Sinclair sorriu carinhosamente.

- Claro que sim! Você, inclusive, vai precisar fazer mais um desenho para incluir Ice! -disse, bagunçado os cabelos do menor.

O Addams mais novo sorriu realizado e se despediu, nos dando abraços fortes. Eu inspirei fundo e observei, enquanto Enid desdobrava o papel, soltando uma risada fofa.

- Isto é culpa sua! -acusou e eu me inclinei para o fitar a folha. O desenho mostrava Enid como rainha de gelo, com direito a poderes glaciais e bonecos de neve.

Eu ri baixo e neguei com a cabeça, principiando meu caminho ao seu lado.

Não soube como agir, no instante em que paramos em frente a limousine e, desconcertada, deduzi que devia ir embora sozinha. Contudo, assim que dei alguns passos para longe, fui impedida pela mão de Enid segurando a minha.

- Onde você vai? -questionou confusa, com aquela voz rouca alucinante, capaz de me fazer perder a sanidade.

- Para casa? -respondi sem jeito, apontando para o ponto de ônibus.

A mais velha bufou e revirou os olhos, como se tivesse escutado a maior besteira vinda de mim.

- Entre no carro Addams e não teste minha paciência! -ordenou, sem me dar qualquer brecha de oposição.

Enid adentrou a veículo, acomodou Ice, e eu continuei estática, sentindo um sutil medo de dividir aquele pequeno espaço consigo.

- Eu sou uma pessoa ocupada plebeia! Entre de uma vez! -rosnou e eu me assustei, me apressando a atender seu pedido.

Apertei meus dedos contra minha palma, nervosa demais. Enquanto Enid parecia serena, apenas apreciando a paisagem.

- Eu acho que lhe devo desculpas -murmurou baixo, quebrando o silêncio.

- Não precisa se desculpar! Afinal, eu correspondi ao beijo -dei de ombros, contendo a dor no fundo do meu peito.

A Sinclair franziu o cenho e me examinou por algum tempo, antes de se manifestar novamente.

- Eu não estou me desculpando pelo beijo, Wednesday! Eu não sou o tipo de pessoa que se desculpa por algo, o qual, não se arrepende! -afirmou com o cenho fechado- eu estou me desculpando pela maneira como lhe tratei na lanchonete! -esclareceu e meu coração errou a batida, de tal modo, que eu pensei que estava tendo um ataque fulminante.

- Não se arrependeu de me beijar? -questionei surpresa, quase sem voz.

- Você percebeu que eu estou me desculpando, Addams? -indagou incrédula e irritada- este é um momento único em sua vida! Você pode dar valor a este gesto de humildade? -pediu ranzinza, com um bico desgostoso.

- Eu lhe perdoo, senhorita humildade! -cantarolei implicante, rindo baixo.

- Então, ótimo! -resmungou, desviando sua atenção para o filhote dormindo ao seu lado.

Tentei permanecer calada, todavia, não pude me conter. Eu ainda sentia receio de Enid se afastar, mas ela estava ali, e não havia sido apenas por Pubert.

- E quanto ao beijo? -questionei, a fitando com expectativa.

- Como? -incorporou uma pose cínica e eu soltei uma lufada impaciente.

- O que foi aquilo Sinclair? -insisti, disposta a conseguir minha resposta.

- Um beijo Addams! -retrucou óbvia, tentando ser ignorante.

- Por que me beijou Enid? -tentei mansamente, ainda sendo ignorada pela outra, que acariciava os pelos brancos.

- Porque eu quis! Qual outro motivo eu teria? -resmungou, dando de ombros, fingindo não se importar.

- Eu não sei! Tentar me envenenar? -acusei e ela me fitou feio- desculpe, velhos hábitos levam algum tempo para serem abandonados -sussurrei com um sorriso divertido e ela suspirou forte.

- Podemos parar de discutir Wendy? Por favor? -rogou, me apunhalando direto na alma.

- Wendy? -repeti satisfeita, apreciando o modo como a mimada o pronunciou- me deu um apelido fofo? Que amor! -a provoquei levemente.

- Não é um apelido fofo! Somente abreviei seu nome! -pontuou e eu ri gostosamente. Enid era uma péssima mentirosa.

- Admite rainha de gelo, você estava louca para me dar um apelido fofo! Porque você adora que eu lhe chame de Nid! -afirmei com gosto, esbarrando meu ombro de leve no seu.

- Você é insuportável plebeia! -vociferou descontente, com sua postura arrogante e cômica- mas, ainda assim, eu...-murmurou vaga, sem concluir a sentença.

- Você? -repeti, esperando pela continuação.

- Talvez, eu...-ela tentou, mais uma vez, perdendo a fala.

- Enid? -chamei, ansiosa e preocupada.

- Eu gosto de você! Satisfeita? -rosnou mal humorada, causando-me choque.

- Muito! -declarei. Todo o meu auto controle foi destruído e eu somente avancei sobre si, a beijando com veemência, e no ritmo mais necessitado o possível.