Epílogo

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Já era tarde da noite, depois que Azriel deixou Elain plantada na sala de estar da casa do Rio na cerimônia de Solstício de Inverno. Ela suspirou, ainda buscando controlar sua respiração acelerada causada pelo que quer que tenha sido aquele breve momento entre ela e o encantador de sombras. Seus rostos a milímetros de distância, o desejo avassalador, antes de terem sido interrompidos.

Elain ainda podia sentir o aroma almiscarado de Azriel.

Podia sentir as marcas que seu caloroso toque deixou em seu pescoço enquanto gentilmente colocava o colar nela.

Elain subiu as escadas silenciosamente, em passos leves, para não acordar ninguém, e fingir que esse momento nunca aconteceu, assim como Azriel provavelmente faria.

"Isso foi um erro". Elain relembrou suas duras palavras ao se afastar dela.

"Eu sou errada para ele e provavelmente estou misturando as coisas". Ela pensou, magoada e confusa, ainda parada atrás da porta de seu quarto. – "Az só quer amizade, ele só estava sendo gentil com o presente e no resto dos dias desde que me tornei feérica... Eu me deixei levar pela solidão. Não?".

Elain suspirou, subindo em sua cama macia e vazia, enquanto deitava a cabeça no travesseiro frio, ainda com as vestes do Solstício, deixando a luz do abajur acesa para afastar os sonhos ruins.

Às vezes funcionava, e na maioria das vezes... Não.

Os sonhos eram uma mistura de sua vida humana com a de sua nova vida como feérica.

De vez em quando memórias felizes em sua vila, junto de Graysen, faziam visita em seus sonhos. Graysen entrelaçando os dedos largos nos dela, sorrindo de orelha a orelha enquanto eles fugiam para o campo de margaridas. Seu beijo quente. Mas logo eram substituídos por um caldeirão ardendo em fumaça, flashbacks de criaturas a empurrando para mais fundo daquele líquido encantado.

Quanto tempo havia se passado ali? Nos pesadelos parecia uma eternidade. Ela escutava a voz de suas irmãs berrando. O rei debochava. O mesmo rei que Elain esfaqueou. Ela ainda podia sentir a lâmina fria o perfurando. Ela havia matado alguém. Sua garganta queimava, e Elain sentia que não podia respirar.

Logo em seguida, seu pesadelo foi substituído rapidamente pela imagem de um bosque nos mais ricos tons de outono. Vermelho, alaranjado e amarelo compunha toda a sua visão desse lugar em que nunca havia estado antes. Aquele lugar acalmou a lembrança horrível de onde se encontrava momentos antes. Ela escutou o barulho do movimento de um rio por perto, antes de despertar com o vestido todo empapado de suor.

- Estou bem, estou viva. – Elain disse repetidamente para si, já sentada em sua cama, tentando controlar sua respiração acelerada. – Estou segura.

Ela olhou pela janela do lado esquerdo de sua cama. O sol ainda nem havia despertado.

"A noite mais longa do ano". - Pensou.

Decidindo se levantar e lavar o rosto com água gelada na casa de banho conexa ao seu quarto, viu sua imagem através do espelho, e o anexo em seu pescoço brilhante.

Elain observou o colar com pingente em forma de flor, se lembrando da noite passada.

Ela retirou vagarosamente a joia de seu pescoço.

- Não faz sentido permanecer com ele. - Elain olhou para o colar uma última vez antes de coloca-lo novamente na caixinha. - Azriel mesmo disse que foi um erro.

Em seguida, trocou seu vestido já amassado e ensopado por um robe felpudo em tom de creme. Penteou seu cabelo dourado e desceu para a cozinha.

Não era nem dia e todos ainda deveriam estar dormindo pesadamente, após terem bebido tanto vinho na noite passada. Ela apenas beberia água e voltaria para o quarto para descansar mais.

Corte de Laços e Profecias (ACOTAR ELUCIEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora