Finalmente, a hora do almoço. Depois de uma manhã cansativa revisando, pela décima vez essa semana, meu TCC. Sim, ainda restava uma matéria, a mais temida por todos os estudantes da faculdade: Trabalho de Conclusão de Curso. Eu o entregaria no final deste ano, juntamente com a apresentação para a banca. Eu estava tãããão empolgada com isso quanto um peixe dentro de um aquário pequeno. Não me leve a mal, eu amava meu curso, e adorei ter escolhido aquele tema, sobre a importância dos contos de fadas na imaginação e no gosto pela literatura. Porém não queria entregar o trabalho, pois eu sempre achava que falta alguma coisa. Minhas amigas viviam falando que eu era perfeccionista. Perfeccionista, eu? Imagine só! Isso era um tremendo exagero. Eu era detalhista, apenas.
- Sarah, – dizia Alice, uma das minhas melhores amigas, que conheci na faculdade e que agora trabalhava comigo. – você sai do limite do detalhista. Você está acima de um detalhista. O detalhista pediria a sua ajuda.
- Que exagero, Ali. – tratei de lhe dizer logo naquele dia.
- Ah é? Quantas páginas mesmo deveria ter seu TCC? Hãm?
- Isso não prova absolutamente nada e... – bufei, quando ela estreitou o olhar em minha direção. – de 30 a 40.
- E quantas páginas o seu trabalho já tem, atualmente?
- 60... – revirei os olhos.
Mas aquilo havia acontecido há uma semana, pois atualmente, atualmente mesmo, meu trabalho estava com 60 páginas e meia. Que culpa eu tinha de não estar contente com aquilo tudo? Não conseguia concluir meu trabalho de conclusão, isso era crime? Afinal, cada livro que eu achava sobre o tema tinha excelentes conteúdos para se acrescentar. Alice foi um tanto dramática, para meu gosto.
Enfim, eu já estava no restaurante Cheiros e Sabores de Melissa, outra amiga minha. Na verdade, o restaurante não era dela e sim do George, seu chefe. Melissa era a estagiária (ou assistente, sei lá como se chamava isso na cozinha) mais competente que George já teve, e ele sabia disso. Sua comida era ótima, perfeita para o meu paladar aguçado. Eu e Alice vivíamos almoçando ali. Afinal, eu precisava manter minha forma, tamanho 42. Desde que nos conhecemos, no colégio, Melissa e eu cumpríamos o nosso combinado: almoçar juntas sempre que possível. Alice só agregou à equipe. Conseguíamos cumprir quase sempre que eu saía da faculdade, nas terças-feiras. Os demais dias da semana eu trabalhava das 9hs às 17hs numa editora famosa, a Krathus. Com pausa de uma hora e meia para o almoço. Muitas vezes dava para atravessar a rua e almoçar com ela, às vezes não.
- Desculpe o atraso, Sa. Trocaram novamente o confeiteiro e eu precisei assumir. – Melissa apareceu, com seu avental branco sujo de molho, esbaforida. Trazia consigo suas famosas três marmiteiras, uma de cada cor. Dei uma fungada intensa na minha marmiteira, azul bebê, que exalava um delicioso aroma, que só um frango grelhado, preparado pela chef Melissa Aria, pudesse ter. Enquanto eu apreciava o gesto de Melissa (de, além de cozinhar pra nós, havia tomado o cuidado de etiquetar nossos nomes às marmiteiras. O nome Sarah estava bem desenhado com uma caligrafia impecável), Melissa já foi abrindo a sua, pronta para atacar aquela marmiteira rosa clara, quando deu-se conta que faltava Alice ainda. Ela pousou o garfo, delicadamente, e revirou os olhos, fazendo um leve beicinho.
Não era frequente que Alice se atrasasse, afinal ela conhecia as regras, que fizemos com George para usar os confins do seu restaurante. Nós tínhamos um acordo com ele, e como ele não queria perder sua melhor funcionária (Melissa), teve que acatar, a contra gosto. O acordo era que Melissa poderia almoçar conosco, ao meio dia e meio, contanto que ela deixasse tudo preparado e que comêssemos nas mesas de funcionários, atrás do restaurante, no minijardim. Por mim estava tudo ótimo, pois eu adorava olhar para as flores enquanto comia. E deveríamos de ser breves, e sem exaltações. O que era complicado para nós três quando nos juntávamos.
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...