Eu ainda estava abalada por culpa do assalto de ontem. Tive um pesadelo em que Sarah, Melissa e eu morríamos, porém nossos espíritos ficavam vagando e observando o que havíamos deixado para trás. Não sabia ao certo quanto ao espírito delas, mas eu não gostei nenhum pouco do que vi. Percebi minha vida passando diante dos meus olhos e eu não havia feito muita coisa dela.
Para começo de conversa, ia me formar em contabilidade em dezembro deste ano. Mas trabalhava como secretária executiva na Krathus. Uma editora prestigiada e bem conceituada dentro do seu mercado. Eu gostava de trabalhar lá. Bem, em parte porque meu chefe era um tremendo gato. Adrian não era daqueles homens lindos, de capa de revista. Não. Pelo contrário. Adrian era exótico, com aquele cabelo meio cacheado, dourado. Os óculos de grau que, para mim, só serviam para dar um ar de mistério, encobrindo aqueles olhos grandes e amendoados. As sobrancelhas grossas, e um tom mais escuro do que seus cabelos, deixavam sua testa do tamanho proporcional. Seus lábios eram mais finos, mas completamente beijáveis. E aquela pinta! Ai, Deus, aquela pinta me deixava louca. Ele tinha uma pinta ao lado dos lábios, que me hipnotizava de um jeito fora do comum. Eu não podia, em hipótese alguma olhá-la, porque se não, já era.
Mas, onde eu estava mesmo? Ah sim, eu adorava trabalhar na editora. Recebia um salário legal – podia ser um pouco mais, pois só então daria para eu ir morar sozinha, que era um desejo meu –, e tinha alguns benefícios, como, por exemplo, trabalhar com minha melhor amiga, Sarah. E, de quebra, a rua onze era minha favorita. Claro, Sarah e Melissa viviam me dizendo que eu tinha que achar um emprego na minha área. Mas era complicado pra mim. O ideal seria que Adrian me contratasse como a contadora da editora. Seria o suprassumo da minha realização financeira. Porém isso não ia acontecer tão logo, se é que ia acontecer algum dia.
Eu não era negativa, e sim realista. Afinal, quem iria contratar uma pessoa recém-formada? Ainda mais na minha área? Eu respondo: ninguém. Era uma área incrivelmente fechada, meio machista, onde você precisaria ralar para entrar no mercado de trabalho.
Não pense que eu estava inventando um monte de desculpas para não enfrentar o futuro há minha frente. Não era bem assim. Na verdade, assim que pegasse meu diploma e pudesse trabalhar, ia oferecer meus serviços de porta em porta, se for preciso. Seriam como bicos, até eu achar uma empresa que me aceitasse no setor de contabilidade.
Minha meta: a Krathus.
Caso não consiga, precisarei me virar de outro jeito, afinal não queria mais continuar morando com meus pais mais um ano. O que, aliás, era outro problema que percebi no pesadelo. Meus pais não ligavam a mínima para o que eu fazia ou deixava de fazer. Sempre foi assim. Eu sempre precisei me virar sozinha, em tudo. Pra falar a verdade eu fui criada por babás. Sim, eu era daquelas menininhas ricas criadas por babás. Admito. O lado bom dessa história toda foi que sempre tive babás ótimas, que me ensinaram o valor das coisas. Coisa que meus pais não tinham "tempo" para tal.
Meu pai era um médico famoso, especialista em cirurgia plástica, e dono da maior clínica de cirurgia plástica da cidade. Coisa que mamãe fica orgulhosa em dizer para suas amigas da alta sociedade. Já a minha mãe fazia uso dos dotes cirurginescos do meu pai e aparentava juventude a cada sessão de Botox e o raio que o parta. Ela era daquelas mulheres que beiravam os quarenta e sete, mas deuzulivre alguém mencionar sua idade. Ela tinha pânico de envelhecer. Eu não sabia ao certo, mas acreditava que minha gravidez tinha sido por engano. Afinal, se mamãe ganhar um centímetro de barriga, ela já partia pra lipo, academia, pilates, personal treiner e tudo o mais. Além de viver no regime. Eram suas atividades favoritas, afinal, ela não trabalhava.
Aí você deve pensar: Poh, já que ela não trabalhava, dava para cuidar da filha sem precisar de babá. Eu respondo essa: não, não dava. Porque minha mãe nunca trocou uma fralda minha, se quer. E isso eu sei por que minha avó materna vivia xingando-a aos berros. E eu estava no meu quarto, com a babá número 2, e escutava. Vovó Berenice era um pouco melhor que minha mãe, no quesito maternal. Porém ela faleceu já faz cinco anos. Lembro muito dela, até hoje. O que mais me marcou foi o dia em que eu estava brincando com a babá número 4, e ela veio, escancarou a porta e disse:
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...