Capítulo 16 - Sarah

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E era por isso que, naquele momento, eu me encontrava caminhando, em plena natureza, com um poste ao meu lado. Na minha cabeça, eu estava pagando o débito que tinha com ele. Tanto daquele primeiro encontro, em que ele alegava ter me defendido dos dois ignorantes, quanto o salvamento na cafeteria do seu Carlinhos, onde ele me convenceu a sair debaixo daquela mesa segura. Depois disso, eu estaria livre do William. E tentaria manter distância assim por alguns meses. Anos. Quem sabe.

- Percebi que você está mais tranquila. – quebrou o gelo.

Sua afirmação me mostrava que era uma preocupação genuína. Sua fisionomia concentrada em mim assumia isso. Eu não queria tocar mais naquele assunto, mas pelo jeito que ele ficou me encarando, apostaria que ele não pararia até que eu falasse.

- Sim. E obrigada pela... er, ajuda hoje mais cedo. – agradeci, sem jeito.

- Er... de nada. – me imitou, descaradamente.

Eu revirei os olhos e arfei. De canto de olho, pude ver que ele ria em silêncio, ainda me analisando. Logo, soquei seu braço.

- Duas coisas: você é péssima em agradecimento. – levantou um dedo para contar. – E muito forte quando quer. – contou o outro dedo.

Ele massageou, dramaticamente, onde eu havia socado. E eu segurei o riso.

- Duas coisas: não sou não. E, seja homem. – imitei seu gesto. Mas não aguentei e comecei a rir.

- Eu gosto do seu sorriso.

Corei violentamente, minhas bochechas queimaram e eu fui obrigada a olhar para o outro lado. Precisei trocar de assunto, para minha segurança:

- Mas e aí, a Mel falou que você é advogado. – perguntei, analisando seu terno cinza chumbo, com uma camisa branca, bem passada, e uma gravata acinzentada.

Ele não deveria estar tão impecável quanto pela manhã, mas ainda estava muito bem apresentável. E, droga, charmoso. O casaco estava nas mãos, a gravata mais frouxa em volta do pescoço e a camisa com dois botões abertos. Muito irresistível! Não, eu não deveria pensar nisso. Foco, Sarah, foco. Fiquei me dizendo a todo o momento em que estive com ele.

- Sim sou. E estou trabalhando num escritório na mesma rua que você trabalha, não lembra? – fomos até a barraquinha de cachorro-quente. Ele pediu um completo e eu peguei um com salsicha de soja.

Ele não parava de me observar, até os mínimos deslizes. Perguntou, assim que recebemos nossos pedidos.

- Você é vegetariana?

- Ainda não. Mas quero tentar parar de comer carne. Me considero uma semi-vegetariana.

- Deixe-me adivinhar, por causa dos animais.

- Sim.

Minha mente começou a vagar no dia em que encontrei uma senhora maltratando seu cachorro na rua, e me alterei de um jeito que quando vi, já estava de bate boca com a mulher. Ao mesmo tempo em que chamava a proteção dos animais. Por sorte, aquela história terminou bem. A mulher foi autuada (eeee!) e proibida de ficar com o animalzinho.

Contei aquela história a William, quando ele me perguntou por que eu estava daquele jeito, sorrindo. Eu sorria porque fiz a diferença naquele dia. Pensei que ele não fosse dar a mínima importância, afinal, quase ninguém dava. Apenas minha família e amigos. Porém me enganei.

- Que legal! E o cachorro, o que aconteceu?

- O nome dela é Vênus e está bem.

- Eu nunca presenciei nada do tipo. Tenho até medo de mim, caso aconteça. Eu perderia a linha também.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora