Capítulo 10 - Sarah

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Mais um dia se passou sem muitas relevâncias. Aliás, aquela sexta foi muito parada. Trabalho, almoçar com as garotas, casa. Ponto. Normalmente nas sextas à noite Melissa, Alice e eu, nos juntamos em uma das casas para fazer nada juntas. Às vezes bebíamos, às vezes víamos filmes, às vezes saímos para dançar em um pub. Porém eu andava meio temerosa desde aquele dia do assalto ao banco. Principalmente depois que a detetive Júlia me ligou para saber se eu não havia visto os assaltantes novamente, pois, de acordo com ela, os policiais haviam notado um padrão nos assaltos. Ela não me explicou quase nada (óbvio, é sigiloso), mas deu a entender que o próximo assalto seria no mesmo bairro. Contanto que eles não eram apenas assaltantes de bancos (sim, eu fui pesquisar sobre aquela quadrilha), e sim de lugares bem remunerados, digamos assim. Pensando por esse lado, poderia ser qualquer lugar, inclusive na rua onze, que funcionava apenas os comércios de alto nível. E a cafeteria do seu Carlinhos.

Logo, eu estava aconchegada no sofá, com um baldão de pipoca. Meus cabelos estavam em forma de coque, camisetão manchado (meu favorito!) e short. Linda de morrer. Eram apenas dez e pouco da noite. Sophia, mamãe e eu estávamos vendo – pela vigésima vez – Harry Potter. Sophia amava tanto os livros, quanto os filmes, então ela tinha a coleção inteira, e a varinha oficial da Hermione. E eu? Bem, eu adorava magia. Fazer o que? Todos os dias das bruxas, que íamos a festas, eu era a bruxa, Melissa a fada, e Alice ia de Alice no país das maravilhas sexy. Sempre. Já tínhamos as fantasias, não íamos gastar dinheiro comprando ou alugando uma nova, me poupe.

Um barulho...

Meus pensamentos foram de "Sabe, eu não posso ser um, um bruxo. Eu, sou o Harry, só Harry" para "a campainha essa hora?". Mas, como ninguém fez menção de tirar os olhos da televisão, eu me levantei e fui até a porta.

- Sá! Vamos sairrr!! – berrou Melissa, me abraçando, de supetão.

Eu quase caí, se não fosse pelas minhas costas sendo amparadas pelo móvel que colocamos nossas chaves. Alice veio logo atrás, de cara amarrada.

- Sabe o quanto foi difícil colocar essa mulher no carro? – dizia minha amiga, bufando.

- Não liga nããão. Ela só está amarga!! Hahahahaha! – e botou a língua (sim!) para Alice.

- Ok, ok. – tentei desgrudar Melissa do meu pescoço. – Porque ela está bêbada? – perguntei meio baixo para Alice.

Melissa nunca bebia até cair, pois sabia que era fraca para isso. Então, ela tomava alguns golinhos e parava. Ela precisou aprender isso quando, aos dezoito anos, tomou o maior porre de sua vida. Tive que levá-la para o hospital, porque a infeliz se esqueceu de comer. Desde aquele transtorno, ela bebia socialmente. Quase nada, na verdade.

Alice largou os ombros e disse:

- Brigou com o Nick. De novo.

- Eu nããão briguei com êllle. Nós terminamos. Tudo. Tudindinho mesmo... hahahaha. – replicou desengonçada, meio rindo, meio chorando. Até fixar seus olhos nos olhos azuis (porém teriam que ser verdes – pelos livros) de Harry, o bruxo. – Ooooown, vocês estão vendo Harry Porrrtttter! Eu amo esse filme. – e foi em direção da televisão e beijou o cabelo de Hagrid.

- Mel. – eu a puxei para longe da televisão. – Vamos sair daqui. Ali, faz um sanduíche pra ela e me encontre no quarto. Ah! E pega aquelas barrinhas de chocolate lá na dispensa.

Minha mãe e minha irmã apenas observavam como figurantes. Mamãe tentou indicar o chá-cura-ressaca, mas acredito que Melissa precisava de coisa mais forte. Artilharia pesada.

A todo custo, consegui puxar Melissa para meu quarto. Ela deitou na cama e se aninhou. Alice subiu com todos os primeiros socorros para porre e enfiamos goela à baixo, naquela loura alucinada. Demos um banho morno pra frio nela, e tivemos que tomar outro, porque Melissa não parava de abrir os braços e tentar nos abraçar. Desnecessário.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora