Capítulo 39 - Alice

1 0 0
                                    

Eu estava cansada de provar vestidos. Justos, largos, compridos, curtinhos. Um saco. A única coisa que me acalmava era que a loja era chique e serviam champanhe para as pessoas.

- Sua esposa gostaria de mais espumante? – perguntou a moça, toda prestativa à Adrian, que corou levemente.

- Não sou esposa. Sou assistente.

- Ah! – foi só o que ela falou. E me serviu a espumante.

Ótimo, agora ela estava pensando que eu era a amante! Ou acompanhante de luxo. Quando tentei dizer-lhe algo, Adrian também o fez, porque deve ter percebido a mesma coisa. Fiquei quieta na esperança que ele remediasse com classe. Mas não. Ele vacilou miseravelmente ao dizer:

- Ela estava sem roupa, por isso estamos aqui.

A moça enrubesceu, igualzinha a mim. E quanto ela se afastou para nos dar privacidade, eu fui a passos lentos até ele, pois o vestido tinha calda de peixe.

Nota mental: Nunca, nunca, comprar vestido com calda de peixe.

- Muito obrigada, Adrian. – estapeei seu braço. – Agora além de amante eu estava nua.

- Eu só quis... – mas ele não soube continuar, porque estava desesperadamente embaraçado. Mas seus olhos tinham algo que eu não soube decifrar. Talvez nojo. Vai saber. Aquele homem era difícil de entender.

A vendedora me deu mais três vestidos para experimentar e disse que iria ao seu estoque, pois achava que tinha um perfeito para mim. Coloquei aquele tubinho preto, mostrei para Adrian que achou mais ou menos e voltei ao provador. Contudo, o zíper havia emperrado.

Merda.

- Gi? – chamei a moça.

- O que houve? – perguntou, Adrian, mais próximo, pelo som de sua voz.

- O zíper emperrou e eu não estou conseguindo tirar essa droga de vestido. – soltei uma lufada no ar, enquanto virava uma contorcionista por causa daquele maldito zíper.

Sem esperar uma confirmação, Adrian abriu a cortina rosada me dando o maior susto. Soltei um gritinho pouco agradável.

- Adrian, eu vou esperar a Gi! – fui para trás, tentando me desvencilhar de suas mãos ágeis.

- Dá pra virar de costas pra mim? – disse, impaciente, me virando ele mesmo. – Ali, estamos sem tempo, lembra? – me repreendeu, ali mesmo, no vestiário. – Pare de se mexer. – e concluiu, divertidamente. – Afinal não é a primeira vez que te vejo assim.

Minhas bochechas coraram levemente. Mas, espera aí. Adrian rindo? Shiii, choverá canivete, daqui a pouco. Ele só ria com Megan, ou quando eu fazia alguma coisa desastrosamente hilária, como atirar uma caneta nele, depois que ele, sem querer, rasgou um contrato que demorei horrores pra fazer. Acontece que não acertei a caneta nele, e sim na janela que estava entreaberta. A caneta voou por lá e atingiu, em cheio, a cabeça do cara que carregava umas caixas de livro até furgão. Adrian se matou de rir da situação e eu precisei ir até lá, recuperar a caneta BIC e pedir desculpas ao jovem rapaz. Não disse nada sobre a minha intenção, que aquela caneta estava destinada ao meu chefe. Não cairia bem.

Parei de me contorcer para me livrar de suas mãos e o deixei livre. Ele forçou o minúsculo zíper, sem vitória.

- Mas que merda, isso está emperrado! – forçava ele, cada vez mais.

- Ah, jura! – zombei, rindo da situação.

- Não seja irônica, ainda sou seu chefe. – mas em seguida ele caiu na gargalhada, assim como eu também. – Somos uma dupla e tanto.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora