Eu estava muito feliz. Tudo estava dando certo, igual aos filmes na televisão. Aqueles com finais felizes, claro. Mas, esse não era o meu final. Não mesmo, eu ainda tinha muito a conquistar. Com Will ao meu lado, eu sentia que podia crescer mais e mais. Sem limites. Obstinada.
Por essa razão, eu e minhas amigas estávamos comemorando nossas vidas no bar da esquina. Sem Will e Nicholas, claro, pois éramos o clube da Luluzinha. O quê? Você pensou que eu pararia de andar com as garotas só porque arranjei namorado? Nunquinha. Tanto Will, quanto Nick sabiam como nós três éramos e aceitavam aquilo. Volta e meia nós nos reuníamos sem namorado algum. Aliás, no caso de Melissa, era noivo. Isso mesmo. MELISSA ESTAVA NOIVA! Minha amiga, noiva. Nem eu acreditava nisso.
- Nossa, Melzinha! – eu me arrepiei toda ao observar aquele brilho todo da joia. Combinava muito com minha amiga. Delicada e exuberante, ao mesmo tempo.
- E aí, já sabem qual o próximo passo, não sabem? – sugeriu, Alice, maliciosamente.
- F-Filhos? – a loira quase engasgou perguntando. Sua voz saiu tão fina, quanto uma taquara rachada.
- Não, boba. – riu ela. – Casamento! Não se deve pular etapas, loirinha.
Alice não parava de rir. E tomar cerveja. Melissa e eu sabíamos que ela estava querendo esconder todo o seu sentimento. De impotência, fracasso e desespero que a vida de Alice não ia bem. E nós estávamos lá por ela também, pois não adiantava nada estar feliz, sendo que eu via a minha amiga indo para o fundo do poço. Por isso, estávamos tentando distraí-la. E qual a melhor distração se não a maneira engraçada que Melissa estava nos contando sobre como Nicholas fez o pedido?
Melissa contou que Nicholas se inspirou em Will, quando ela contou o que acontecera na editora. Então na sexta-feira à noite, ele a levou para jantar no Quiosque, um restaurante estilo praiano localizado no centro da maior praça da cidade. O lugar era todo aberto, tampado apenas por um teto de palha, onde ficavam a cozinha e o bar. As mesas e cadeiras eram espalhadas na frente do local e vivia cheio de gente, principalmente no verão.
- E quando nós chegamos lá, pasmem, estava vazio!
- Não brinca! – gritamos Alice e eu em uníssono.
- Siim! – se exaltou, abrindo aqueles grandes olhos azuis. – Exatamente o que pensei: como assim, o Quiosque está fechado? Foi quando eu encarei Nick, que percebi... – suspirou.
- Conta!! – gritei, eufórica.
- Oh, Rainha do Drama, não faça suspense!
- Certo, certo. Só havia uma mesa com duas cadeiras. Estavam rodeadas de margaridas em forma de coração! E vocês sabem que eu amo margaridas, não sabem? E ainda mais formando um coração!
- Own! Que fofo! – exclamei, formulando a cena na minha cabeça.
- Quanta fofurices. Mas anda, Melzinha, conta logo! – Alice apoiou os cotovelos na mesa, admirando o rosto arredondado de Melissa.
Eu ri com aquilo.
- O que foi? – perguntou ela.
- Nada não. Mas continua, Mel. – apoiei meus cotovelos também.
- Quando sentamos nas cadeiras, de frente um para o outro, dois garçons se aproximaram com uma faixa enrolada. Ain, vocês deveriam estar lá! Eles soltaram a parte de baixo e estava escrito: – se empertigou, como se fosse declarar um discurso. – Meu amor, quer noivar comigo? Noivar! Que fofo!!
Ela contraiu os ombros, eufórica.
- Noivar? – perguntei.
- Não seria casar?
- Não porque ele sabe que eu estou começando a minha pós em confeitaria e que vou assumir o cargo de confeiteira chefe no Cheiros e Sabores e...
- E que você é incrivelmente certinha e quer que tudo esteja perfeito. – continuei.
- Dentro do seu cronograma. – terminou, Alice, por mim.
Nós três rimos. Pela cumplicidade e amizade que havia se formado há muito tempo. Nós nos conhecíamos e nos entendíamos. Sabíamos o que a outra estava pensando apenas pelo olhar.
Mesmo celebrando o noivado da minha amiga, não deixei de amparar minha outra amiga. Nem que fosse preciso tomar sua cerveja da mão. Ela começara a exagerar nas doses, e eu sabia disso, porque já estava efusiva demais. Um perfil diferente de Alice, que beira a elegância e não a extravagância. Ela não havia voltado para casa dos pais, na verdade ela havia voltado para pegar todas as suas coisas e mais Henrietta, sua gata. Lua não foi muito com a cara da gata de Alice. Mas cada uma no seu canto até que estava dando certo. Alice garantiu, mesmo eu tendo dito que não precisava, que seria por pouco tempo. Ela estava atrás de apartamentos para comprar. Ou alugar, o que fosse possível mediante o seu salário. Se fosse preciso, venderia seu carro e pagaria a entrada, tudo direitinho, sem ajuda dos pais. Afinal eles negaram toda e qualquer ajuda que a filha estivesse precisando. Os pais de Alice só queriam agora saber da adoção, que já estava quase regularizada. Só faltavam alguns papéis e pronto. Alfredo seria filho do Dr. e da Sra. Martins.
Alice ainda não conheceu, pessoalmente, o futuro irmãozinho, só o viu por foto que Theodoro, o mordomo, surrupiou das coisas da Sra. Martins. Segundo a minha amiga, aquele menininho de três anos, de olhos marrons iria dar muito trabalho para as futuras babás, pois tinha cara de sapeca.
Depois de toda a nossa conversa, eu havia me lembrado de um assunto inacabado que tinha com Alice.
- Ali?
- Oi? – parou sua bebida no meio.
Tirei seu copo e ela reclamou um pouco.
- Eu queria me desculpar bem desculpado por aquele dia. Que falei sem querer que você é gamadona no nosso chefe.
- Ah, Sarah. – pegou novamente o copo. – Pensei que isso já tinha sido esquecido.
- Eu sei, eu sei. Mas eu sinto que te prejudiquei. – peguei o copo novamente. – Adrian ficou estranho com você?
- Não... – disse ela, com uma sombra pairando em seu semblante. – Na verdade, não disse nada. Nem uma vírgula.
Ela bebeu quase todo conteúdo, num só gole. E eu entendi. Aquele era o problema. O cara não havia falado nada. Como se tudo tivesse sido insignificante para ele. E talvez tenha sido, mas eu nunca falaria isso para Alice. Amigas precisavam ser sinceras umas com as outras, mas aquilo perpassava a sinceridade. Aquilo a magoaria profundamente e eu sabia que Alice não estava pronta para ouvir aquilo. Seria mais como uma omissão, até o devido momento.
Nós três nos abraçados. Ficamos naquela posição durante muito tempo. Até que Alice pegou seu copo quase vazio e ergueu no ar, indicando que fizéssemos o mesmo. Ela disse, enquanto Melissa e eu a acompanhamos, em sintonia:
- Um brinde a nossa amizade!
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...