Capítulo 35 - Sarah

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- Maçãzinha, você precisa comer alguma coisa. – sugeriu, cautelosamente, meu vizinho de mesa.

Ele ficou todo preocupado quando eu disse que não havia tomado café, pela manhã. Culminou mais ainda quando não aceitei os biscoitinhos amanteigados que ele trouxe da nossa cozinha. E, naquele momento, estava a ponto de subir pelas paredes, porque eu também não quis sair para o almoço. Mas o que eu podia fazer se meu estômago não aceitava bem aquela situação toda? Parecia que havia uma bola enorme e espinhenta lá dentro, que no momento que a comida descer, a bola expulsaria todo e qualquer alimento. Jogando-os majestosamente para fora. As únicas substâncias mais aceitas eram água e café preto.

- Tudo bem, Alex. Vou lá pegar um café. – e fiz menção de me levantar da cadeira, mas meu amigo me deteve, colocando seu rosto grudado no meu. Eu pude ver sua pele negra impecável.

- Sarah, café não alimenta! – esbravejou, olho no olho. – Ou você me conta tudo que está acontecendo ou vou dar piti aqui mesmo!

Eu ri. Mas também não tinha como não rir, Alex era o melhor amigo e companheiro de trabalho que eu já tive. Tudo bem que eu só trabalhei como babá, aos dezessete anos e em uma loja de conveniência, aos dezenove, cujo único colega de trabalho era o dono do lugar e uma máquina registradora velha. Vou dizer, a máquina registradora era bem mais falante. Mas isso não vinha ao caso.

Então eu desatei a falar tudo que havia acontecido comigo naqueles últimos dias que, ao todo, davam quase dois meses inteiros. Aí você vai me dizer que não daria para se apaixonar, em dois meses, e eu vou discordar, veemente, e dizer: Dá, dá sim. No meu caso, deu. Will foi me conquistando aos poucos, cada segundo um pouco mais. Como se a presença dele fizesse a diferença e se tornasse marcante. Eu precisava ver aquele sorriso, sentir seu aroma único, e ouvir o som grave de sua voz. Apenas isso bastava para me causar formigamento nas mãos, ou borboletas no estômago. Isso mesmo, borboletas no estômago. Eu havia dito a mim mesma uns meses atrás, logo eu, Sarah Baron, a feminista que não precisava de homens para sobreviver. Bem, eu continuava pensando assim, porém não faria nada mal em ter Will por perto.

Alex agiu de forma mais estranha possível, assim que falei que estava apaixonada pelo homem que me viu abraçada em outro. Eu havia contado a ele sobre o abraço e o mal entendido, mas só naquele instante confessara todo o meu amor. Meu amigo apenas brilhou os olhos e me deu o maior abraço de urso que já recebi na vida. Alex era bem fortinho, também malhava todos os dias, as sete da matina.

- Eu sabia. Eu sabia. – pulava ele comigo no colo. – Eu vi a maneira que você olhava para ele na festa da Beatriz. E também reparei nas olhadas dele. Tenho certeza que ele te ama.

- Alex, você nem falou com o cara. Aliás, o viu de longe. Como pode saber disso? – revirei os olhos para meu amigo, assim que ele me largou.

- Sarah, deixa eu te explicar uma coisa. Nós gays somos incrivelmente sensitivos. Nós sacamos as coisas no ar. – sentou-se em sua cadeira, cruzou as pernas e se espichou pra traz, colocando as duas mãos na nuca. Muito à vontade naquela cadeira de escritório.

Eu precisei rir. Eu ia aguentar aquilo, ia mesmo, mas era humanamente impossível esconder o sorriso daquela cara bonita e irreverente dele.

- Então, grande guru, o que você vê no meu futuro? Will vai me perdoar?

- Somos sensitivos e não clarividentes, mulher.

Fiquei um pouco melhor depois disso. Consegui comer três pedaços do sanduíche que Alex jogou em cima da minha mesa, na hora do almoço, e me obrigou a comer. Mas em seguida, conforme eu ia revisando aquele livro sobre o amor de dois jovens que não puderam ficar juntos nessa vida e suas almas reencarnaram e se reencontraram outra vez, eu quase caí no berreiro. Tudo bem, não vou exagerar tanto, apenas umas lágrimas silenciosas escorreram no meu rosto. E eu tentava passar a mão para esconder de todos.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora