Capítulo 18 - Sarah

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Tive o sonho mais bizarro de todos os tempos. Na verdade, pesadelo. Bem, em partes. Metade pesadelo, metade sonho. Vou explicar, estava eu, pagando mais uma conta quase vencida no banco, mais especificamente, nos caixas eletrônicos, no mesmo que fora assaltado. Eu estava bem bela, cuidando da minha vida, quando aquela temida quadrilha apareceu, derrubando tudo que tinha pela frente, e dois dos caras pararam na minha frente, apontando as armas para mim. O cara do moicano ria, como um animal. E quando comecei a perder as esperanças, sabendo que aquilo era o meu fim, alguém quebrou os vidros que serviam como parede, acima da porta giratória, e desceu lá para me salvar – voando! No maior estilo Superman.

Primeiro pensei: "puxa, estou sonhando com o superman, virei criança agora", mas depois, quando prestei mais atenção ao rosto do super-herói, era William! Isso mesmo, Will, o primo da Melissa. Ele estava vestido, categoricamente, com a capa vermelha, a roupa azul e até a sunguinha. Eu não sabia e nem porque eu estava sonhando com ele, ainda mais vestido daquela maneira maluca. Também não fazia ideia como eu não comecei a rir na hora. Mas eu sabia a resposta. Além de muito assustada, eu estava babando pelo cara que me carregava em seu colo, e me socorria como um herói, de todos aqueles bandidos.

Eu nunca, em toda a minha vida, quis ser a mocinha. Nunca. Não fazia o meu estilo. Eu sabia me defender sozinha há muito tempo, e nunca precisei de ninguém para tal. Eu tirava satisfações com os outros por mim mesma. Já as mocinhas dos filmes, novelas e séries eram ingênuas, indefesas, umas tontas. Eu tinha aquele pensamento desde criança, quando eu me vestia de Velma do Scooby doo no Halloween, enquanto Melissa fingia ser a Daphnie. Naquele seriado que tinha anteriormente, Smallville, as aventuras do superboy, eu adorava a personagem Cloe, enquanto Melissa gostava mais da Lana. E por assim ia. Então como podia sonhar que era a mocinha? Não tinha cabimento algum. Realmente, eu precisava procurar um psicólogo. Dessa vez eu falava sério. Era ridículo.

Por fim, tive o imenso prazer de acordar com aquele moreno de olhos verdes na cabeça. Porém, de terno e não vestido de super-herói.

Sem mais milongas, coloquei meu jeans favorito e uma blusa azul com umas fitinhas lavanda na gola e nas mangas. Deixei meus cabelos ondulados soltos, afinal eu havia posto o leave-in para domá-los, e fui trabalhar. Precisei usar uma máscara de cílios, base e batom, porque não tive uma boa noite de sono, portanto, minha fisionomia estava péssima. Logo Adrian iria me demitir, se me visse igual a um zumbi. Demitir não, mas se assustar, talvez.

A Krathus estava mais calma naquela quarta-feira. Ou eu que estava distraída e não percebia as coisas. William continuava na minha cabeça, e ocupava grande parte do meu pensamento. Me irritei comigo mesma por causa daquela distração. Como se não bastasse aquilo, Beatriz estava mais sorridente do que nunca. Ela distribuía alguns convites espalhafatosos – ela trabalhava no designer gráfico, sabia desenhar muito bem – do local onde seria realizada sua festa. Um pensamento maligno me possuiu: Convites? Sério? Ela ia fazer trinta ou setenta? Qual é, só convida e pronto.

Ou então faz um virtual e manda no Whats.

Beatriz era virginiana, o que explica a chatice e a forma metódica das coisas. Mas eu podia apostar que haviam muitos planetas rodando o signo de leão em seu mapa natal. Porque uma coisa que "Bia" amava era brilhar e estar em evidência. Típico de uma leonina. Vou explicar para você, a pessoa poderia ser de tal signo, como virgem, por exemplo, mas com comportamentos leoninos marcantes. Principalmente se tiver a lua, mercúrio, vênus... enfim, isso não vinha ao caso. Não me leve a mal, eu não estava fazendo bullying com os leoninos, era apenas uma constatação. Já tive algumas amigas desse signo, na época do colégio, e achava legal a autoestima delas. O modo de ver a vida mais positivo, buscando aquilo que quer com mais garra e tal. Mas Beatriz abusava daquela característica, tornando-a um defeito. Autoestima era uma coisa, arrogância outra.

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