Capítulo 15 - Sarah

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Pronto. Já decidi. Não vou mais mexer em meu Trabalho de Conclusão de Curso. Conversei com meu orientador, e ele foi categórico. Me obrigou a reduzir a quantidade de páginas, caso contrário, ele tomaria medidas drásticas. Mas eu não sabia como faria aquilo, afinal, era humanamente, impossível. Assim que aleguei meu ponto de vista, ele apenas me olhou com uma cara tão azeda que pensei que ele havia chupado limão. Não havia jeito, eu realmente precisava reduzir, no mínimo, umas dez páginas. Dez páginas! Com certeza ficaria incompleto, mas eu não podia fazer nada. Estava fora do meu alcance. Tentei, uma última vez, persuadi-lo. Em vão:

- Sarah, se o texto não ficar mais curto, a banca a reprovará, simples assim.

Simples assim. Eu seria reprovada se não diminuísse meu trabalho. Era injusto. E onde ficava o quanto mais, melhor? Pelo jeito, não existia nada disso na UMC – Universidade Meio Caminho – onde eu estudava. Beleza, agora eu tinha mais trabalho, pois tinha que organizar o conteúdo todinho e ver o que eu podia tirar, sem prejudicar o conteúdo. Além disso tudo, eu tinha que me apressar, porque não tinha muito tempo. Estávamos em setembro e eu entregaria meu trabalho em novembro, e defenderia na banca no dia primeiro de dezembro. Mamãozinho com açúcar. Para quem não tinha mais nada para fazer, não para mim.

Era algo tão agradável, acordar e já estar frente a frente com um problema daqueles. Obrigada, Cosmos! Era um daqueles dias em que eu cogitava, intensamente, desistir de tudo, comprar uma passagem, só de ida, para a Irlanda e viver a minha vidinha pacata numa fazendinha bacana. Mas, no mesmo instante, eu me lembrava de que não tinha dinheiro para tal. E também eu era uma garota da cidade. Não teria paciência nenhuma para viver de uma forma calma por muito tempo. Eu surtaria. Pensando mais sobe o assunto, reavaliando minhas opções, saí da faculdade e fui almoçar em casa mesmo.

Sophia estava radiante. Ela conseguiu tirar oito na prova de matemática, graças à ajuda de Alice. Oito em matemática era similar a um dez e meio, na minha casa. Já minha mãe não estava tão contente assim. Não pela minha irmã, porque ela fizera a festa ao ver a nota alta. Ela estava mais angustiada, porque tinha que corrigir muitas provas e trabalhos para o dia seguinte. Ela adorava seu trabalho, mas era desgastante. Ser professora não era nada fácil. Aliás, era incrivelmente complexo, mas de uma forma recompensadora. Pelo menos era o que ela falava todas as vezes que nós conversávamos sobre o assunto. Normalmente com uma tacinha de vinho ao lado.

Antes de chegar a Krathus, parei na cafeteria do seu Carlinhos para pegar um cappuccino duplo, meu preferido. Na editora até tinha cappuccino, mas não era o mesmo gosto do que na cafeteria. Nem o mesmo cheirinho inebriante que me seduzia de uma forma inexplicável e, quiçá, erótica. Aliás, era um desrespeito comparar os dois tipos de cafés. Eu amava aquela cafeteria. Amava seu Carlinhos. Aquele senhor grisalho fofo.

Parecendo ler meu pensamento, seu Carlinhos se aproximou da minha mesa. Eu lhe retribuí um sorriso luminoso.

- Boa tarde, minha querida. O que vai querer hoje?

- Boa tarde, seu Carlinhos. Vou querer aquele cappuccino no capricho. – respondi, já sentindo o gosto daquele café na minha boca.

- É pra já.

Mas antes que ele se afastasse...

BUUUUUUM

Um estrondo lá fora chamou a atenção de todos na cafeteria. Em seguida os barulhos inconfundíveis de tiros. Eu, apavorada, esqueci meu café favorito no mesmo instante e me agachei na primeira mesa que vi pela frente, sem me importar se eu estava de saia ou não. Tateie meu telefone de dentro da bolsa e, mesmo com os dedos trêmulos, mandei uma mensagem de voz para minhas duas amigas.

- A quadrilha tá aqui de n-novo. Estou em b-baixo da mesa da cafeteria e não sei dizer onde eles e-estão. Se cuidem, pelamordedeus!

Depois disso, retransmiti a mesma mensagem para a detetive Júlia, porém com o endereço completo, dessa vez.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora