- Will, eu estou bem, juro. – cruzei os dedos e os beijei. Um sinal solene de que eu estava falando a verdade. – Meu tornozelo não dói mais, tanto assim.
Estávamos no carro dele, rumo à clínica que Nicholas trabalhava. Era cedo da manhã e eu queria muito ir trabalhar, pois se o meu trabalho acumulasse, Adrian não me veria apta para o cargo de Lúcia, algum dia. E eu estava determinada a conseguir aquela vaga. Eu almejava crescer naquele emprego e não ficar como estava, sendo uma primeira revisora com salário similar a uma estagiária. Eu não me contentava com pouco, pois sabia da minha capacidade intelectual, e era a única coisa que eu não tinha a menor insegurança. Sabia que eu era capaz.
Mas Will também era obstinado, e muito. Queria porque queria me levar para fazer o tal exame, sendo que meu tornozelo já não doía como antes. Só um pouco quando caminhava normalmente. Portanto, era só caminhar mancando. Qual o problema disso?
- Você é médica, por acaso? – perguntou ele, enquanto virava a direita.
Seus olhos sarcásticos intercalavam da rua para meus olhos suplicantes. Não respondi, apenas bufei. Eu sabia que não adiantaria nada implorar. Aliás, eu não era mulher de implorar. Talvez uma leve súplica, mais nada.
- Certa resposta. – ele concluiu.
E sorriu quando viu meus olhos revirados.
Will fez questão de me pegar no colo assim que estacionamos. Mesmo que eu tenha sido bastante incisiva para que ele não o fizesse. Eu conseguia caminhar, e tinha aversão em dar trabalho para alguém. Sabia que não era leve como uma pluminha. Além disso, todas as pessoas da rua ficaram olhando o meu cavaleiro na armadura me levar até a clínica médica. Eu fiquei com um pouco de vergonha, mas ele, não. Pelo contrário, ele parecia se divertir, ainda mais com a minha relutância.
- Apenas um pretexto para ter você assim, bem pertinho. – disse ele, categórico.
Eu não respondi nada, apenas olhei para o outro lado, corada. Odiava aquela sensação de vergonha na frente dele. E Will sabia disso, pois mais ainda seu sorriso se alargava e ele ficava quase em êxtase.
A clínica onde Nicholas trabalhava era incrivelmente impecável. Com várias tonalidades de branco e marfim possíveis e imaginárias, que eu nem sabia distingui-las direito. Parecia ter sido decorada por uma boa equipe de arquitetos. Fora toda a claridade que vinha da rua, pela porta de vidro, e pelas duas janelonas que deixavam o ambiente bem mais claro e acolhedor.
O moreno me largou, delicadamente, num dos sofás confortáveis da sala de espera e se dirigiu ao balcão, onde a secretária usava um terninho cor de uva. Percebi de soslaio que ela não tirava os olhos de Will, ao mesmo tempo em que não parava de sorrir. Mas o cúmulo foi quando ele se virou para voltar até mim, e ela deu uma boa checada no traseiro dele. Bem na minha frente! Tá, tudo bem, nós dois não éramos nada além de amigos. Bem, amigos que se beijaram umas duas vezes, intensamente, e quase fizeram amor. Ontem. Então eu não sabia definir exatamente em que pé andávamos, porque tinha receio de perguntar. Ele poderia reagir de várias formas, dentre uma delas, ele rir pela pergunta tosca.
Por isso, eu preferia nos catalogar como amigos, certo? Amigos que estavam rumo a... alguma coisa. A algo em especial, talvez. Possivelmente. Quem sabe. E isso me dava certo direito de não gostar da atitude da moça, não dava? Pelo menos um pouco. Nada exagerado. Mas então porque aquilo despertou um sentimento bobo e idiota chamado ciúmes. Ciúmes da secretária ruiva de terninho cor de uva. E ela nem era ruiva de verdade, pois eu já podia notar a raiz escura aparecendo. Fora seu mau humor, olhando pra mim. Para mim e para alguns clientes, eu observei, porque para Will e alguns rapazes mais abençoados por Deus, ela sorria. Cínica.
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...