Capítulo 12 - Melissa

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Aquele sábado à tarde foi muito bom. Consegui parar de pensar em Nicholas por algum tempo. Tudo graças a Sarah. A vida amorosa dela me deixava mais animada. Queria muito que se entendesse com meu primo. Aliás, ela tentou disfarçar que estava falando com Alex, por mensagem, naquela tarde.

- Coisas de trabalho. – disse ela.

Tentou dar uma desculpa esfarrapada, que eu nem prestei atenção, pois, no fundo, sabia que ela estava falando por mensagem com Will. Afinal, fui eu quem deu o celular dela para ele. Sarah não percebia que estava diante do grande amor da vida dela? E que eles formavam um belo casal? Era uma cabeça dura, teimosa tal qual a irmã que ela tanto reclamava. Ok, eu errei uma vez acreditando que Erick seria um bom partido para minha amiga. Errei feio. Mas qualquer um tem o direito de se enganar, não? Faz parte do ser humano. Então ela não podia me culpar para sempre por causa de um errinho. Afinal Erick me enganou direitinho. Ele se mostrou uma pessoa legal, no começo. Está bem. Eu só o havia visto uma vez. Mas a energia dele parecia tão boa.

De qualquer forma, pensar na vida amorosa de Sarah me trazia tranquilidade e fazia com que eu me esquecesse da minha, claro. Seria tão mais fácil ter um botão que apagasse certos sentimentos. Ou apenas um botão, ou um tipo de dispositivo, que trancafiasse num arquivo, bem escondido, dentro do cérebro. Tem pessoas que conseguiam ser assim. De desapegar tão fácil, quero dizer. Eu, pelo jeito, tinha uma dificuldade imensa de me desapegar. Sarah atribuía isso ao meu mapa astral. Já minha psicóloga dizia que era culpa da minha síndrome do abandono, que geralmente todas as crianças abandonadas, pelos pais, sentiam. Ela vivia dizendo isso nas sessões de terapia que fiz durante uns três anos, aos doze. Ou foram cinco anos? Bem, não vinha ao caso. Eu precisava aprender a me desapegar. Sem sofrimento, muito importante. E eu iria começar aquilo com Nicholas. Iria me desapegar, ou pelo menos tentar. Eu era capaz disso, tinha certeza.

Mas como? Como se desapegar de alguém em que esteve junto por mais de dois anos? Alguém que chegou a construir uma família imaginária e tudo. Alguém que eu conhecia apenas pelo olhar. Pelo toque. Pelo cheiro. Alguém que mexia comigo, fazendo meu coração saltitar, mesmo já tendo muito tempo de convivência. As pessoas falam que com o passar do tempo, a relação tendia a esfriar. Isso nunca aconteceu conosco. Sempre tivemos uma ótima química, emocional e física. Ele era o cara dos meus sonhos. Meu primeiro amor, meu primeiro namorado. Eu havia ficado com outros, antes de Nicholas, mas nenhum sério. Minha lista não era tão grande quanto à lista invejável de Alice e a catastrófica lista de Sarah, mas tive minhas experiências. Ok, uma e meia.

Aí você deve estar se perguntando "como assim meia?". Meia porque dar selinho, aos quinze anos, não contava como experiência de nada. Dar selinho estava mais para um beijo na bochecha, do que de língua. Até porque nem sei se foi um selinho genuíno ou um erro. Eduardo podia muito bem ter errado minha bochecha, não podia? Sabe como é, quando o rosto virava, sem querer, e aí aquele beijo, casual, de despedida, se transferia para os lábios. Pode acontecer.

Alice acha que não.

- Pelamordedeus, Melzinha! Você se faz de ingênua ou é assim mesmo? – perguntou ela, quando mencionei sobre o selinho há um tempo atrás.

- Ali, ela é assim. Sempre foi assim. Eu duvido que Melissa mude algum dia. – respondeu, Sarah. A pessoa que conhecia até meu último fio de cabelo.

- Mas isso pode acontecer sim. – tentei rebater, dando ênfase a minha indignação.

- Melissa, acorda. Um garoto de quinze anos, cheio de testosterona, não daria um beijo, sem querer, numa linda e boboca garotinha loirinha de olhos azuis. Certamente ele queria fazer algo a mais.

- Como você é perversa! – rebati. E, de canto de olho, Sarah morria de rir da situação. Qual era a graça?

Não chegamos a lugar nenhum naquele dia. Eu não arredei o pé, continuava achando que foi sem querer. Por essa razão conto o meio. Mas voltando a Nicholas, eu o esquecerei. Custe o que custar.

Um Brinde a AmizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora