- Você está bem? – perguntou, Maria, minha auxiliar, pela décima vez somente naquele dia.
Só porque eu derramei o molho, duas vezes, deixei a calda de caramelo queimar, três vezes, errei o ponto do flan, coloquei pimenta, ao invés de açúcar mascavo no doce indiano e cortei o meu dedo ralando o chocolate branco. Apenas isso, num só dia. Mas quem estava contando?
Realmente, minha cabeça não estava naquela cozinha grande, e sim, sei lá deus onde. Talvez em Nicholas que, mais dia, menos dia, eu teria que contar a novidade e não sabia como ele reagiria ao avanço repentino da nossa relação. Nicholas queria casar, isso era certo, ele só estava esperando a minha liberação que, até então, eu queria esperar um pouco mais. Por ele, já estaríamos casados e morando juntos. Por mim, isso aconteceria daqui um ano mais, quando minha carreira estivesse mais estável. E eu fosse tão boa quanto o confeiteiro gato Diego Lozano.
Eu não estava errada em esperar, estava? Até Sarah, a mais sensata do grupo, pensava igual. Isso quer dizer que eu estava indo para o caminho certo, se não fosse por aquele maldito final de semana.
- Chef? – chamou, Maria, mais uma vez.
- Oi? Ah sim, já estou terminado de enfeitar isso e você pode levar. – respondi, de imediato.
- Sim, tudo bem. Mas o seu celular tá tocando.
- Ah! Obrigada.
Entreguei o último doce feito (com sacrifício naquela manhã) para a minha auxiliar e atendi o celular. Era do consultório da minha ginecologista. Havia aberto uma brecha para daqui dois dias. Dois longos e incansáveis dias. Mas eu não sabia bem porque estava tão apressada para fazer aquele exame, sendo que já sabia que estava grávida. Só podia ser isso. Eu andava mais sensível, mais enjoada e comendo igual a um... a um... a um animal que come muito. Eu estava mais esquecida também, possivelmente do estresse todo de saber que estava grávida sem querer.
Meu corpo todo estava reagindo àquela gravidez. Portanto, era bobagem aquele exame médico. Mesmo assim, Sarah e Alice me obrigaram a ligar para a Gineco, e agendar uma consulta urgente. Ok, feito, veria a médica daqui dois dias.
Aquele dia foi o dia mais longo da minha vida. O encerramento do expediente demorou mais de cinquenta horas para passar, em minha opinião. Assim que me livrei do avental e peguei a minha bolsa, Sarah me esperava no outro lado da rua, na frente da Krathus.
- Oi. – cumprimentei tentando esboçar um sorriso calmo, como se eu estivesse equilibrada e não um turbilhão por dentro.
- Melzinha, advinha? – ela aparentava o contrário. Era pura empolgação quando me viu.
Minha amiga já havia me mostrado seu apoio total quando me disse que seria a babá numero 1 do meu bebê. Revezaria o cargo com Alice. Por causa delas eu não surtei tanto quanto estava propensa a fazer.
- O que? – respondi, mais desanimada que ela.
- Eu estava passando por uma loja e não consegui evitar. Sei que está muito cedo e tudo, mas você disse que sentia que estava mesmo grávida, de modo que o exame é apenas uma confirmação irrisória, então... tcharam! – e mostrou um sapatinho minúsculo, feito a mão, de crochet de cor lilás.
Era a coisinha mais fofa que eu já vira na vida. Se eu não estivesse tão apavorada com a situação que me envolvia, estaria pulando com Sarah, no meio da calçada, com todas as pessoas nos olhando.
- Nossa. – foi a única palavra que pude elaborar.
- Você gostou? Eu achei muito fofo! Will me disse que estava cedo demais e... – tampou a boca.
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...