- Tia Alice, porque eles estão demorando tanto? – perguntou a menina, impaciente.
- Não passou tanto tempo assim, docinho. – tentei embromar.
- Mas já é o... um... dois... três cafés que você tomô – contou as xícaras a minha frente.
Mas antes que eu pudesse achar uma desculpa razoavelmente boa, pois ela era esperta, por sorte, Adrian e Débora se aproximaram. Ele com o rosto sem muita expressão, apenas rosado. A mesma tonalidade que ficavam suas bochechas logo depois de uma discussão feia na editora.
Em contrapartida, a mulher estava ainda de rosto meio úmido, com rodelas roxas ao redor dos olhos, que combinavam com a pele pálida. Parecia ter visto um fantasma.
- Hum... – comecei. – tudo bem?
- Tudo sim. – respondeu Adrian, olhando de esguelha para Débora.
- Vivi, vamos pegar as malas e ir pra casa. – falou a mulher, com dificuldade de olhar para o meu chefe.
Me levantei e estendi a mão para ajudar a menina a descer da cadeira alta e, mesmo depois de ter conseguido, ela continuou de mãos dadas comigo. Como se não quisesse escolher apenas um dos dois pais. Eu era a alternativa mais segura para o seu frágil emocional.
Ambos permaneceram em silêncio conforme caminhavam até o carro de Adrian. Já Victória e eu íamos cantarolando uma musiquinha que ela havia me ensinado no café. A musiquinha que seria tema da festa de natal na sua escola que, casualmente, eu fora convidada. Imagine só! Você iria? Eu ainda estava pensando.
O carro parou em frente à casa de Débora e a própria desceu, seguido por Adrian, eu e Victória. Peguei-a no colo para ajudá-la a descer da caminhonete alta. Débora não gostou, visivelmente. Mas não disse uma só palavra.
- Então... – começou Adrian, um pouco sem jeito. – sabe que se precisar de alguma coisa é só me chamar. Passarei amanhã, a partir das dez horas, para buscá-la. Tudo bem?
Eu queria muito saber como tinha sido a conversa dos dois, mas precisava esperar mais um pouco. Caso Adrian fosse me contar.
- Sim. Tudo bem. E... er, obrigada por entender. Você sempre foi um cara legal. Eu, realmente, estava fora de mim. – respondeu Débora, mais calma e um tanto... amigável? Ela virou-se para me encarar, mas com uma expressão mais séria. – Obrigada a você também.
- De nada. – respondi sem jeito.
- Tchau, Tia Alice. – a pequena envolveu minha cintura num abraço apertado.
- Tchau, Vivi. – beijei o topo de sua cabeça, e ela saiu saltitando até o pai.
Se despediram num abraço caloroso, que me fez suspirar até eu ver o olhar de repressão de Débora para comigo. Pelo jeito, ela e Adrian se acertaram, mas isso não significava ser amiga da atual namorada do seu ex-namorado, que era pai de sua filha. Que confusão que eu estava metida.
Já no carro, de volta para a editora, Adrian me contou que a briga foi bem séria, que ele cogitou tirar Victória da mãe, o que podia ganhar a causa, por conta da alienação parental (viu, eu disse que era esse o nome!). Foi nesse momento que Débora resolveu abrir o bico e contar que pensou que Adrian fosse tirar sua filha. Afinal, ele era rico e ela não. Ele podia pagar os melhores advogados, que conseguiria a guarda, na visão dela. Ela entrou em desespero e resolveu sumir com a menina.
De acordo com Adrian, ela não queria fazer mal a ninguém, mas ficou assustada. Victória era seu único bem. Sua preciosidade. Ela não se imaginaria sem a filha por perto. Por isso agiu impulsivamente. Adrian a tranquilizou. Disse que não faria nada daquilo, só queria passar algum tempo com a menina. Queria conhecê-la e participar de sua vida. Queria agir como um pai, verdadeiramente. E nunca, nunca tinha pensado em tirar sua guarda. Bem, só quando soube do pequeno sequestro. De qualquer forma, Débora era uma boa mãe e Adrian respeitava isso.
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Um Brinde a Amizade
ChickLitVocês conhecem a rua Onze? Não? Sarah, Melissa e Alice conhecem muito bem. Três garotas com histórias diferentes, porém com uma ligação sem igual. Sarah, a revisora, quer terminar a sua faculdade, se dedicar ao seu trabalho na Krathus e seu lema é n...