Um Brinde a Amizade

Capítulo 4 - Sarah

Como eu previ, Adrian estava uma fera, mas com toda razão, pois eu também ficaria na posição dele. Afinal, alguém havia exposto a continuação de um livro para o público antes de ser editado. Ou seja, vazou o segundo livro de uma trilogia famosa, que estávamos guardando o segredo a sete chaves, e eu tinha certeza que cabeças iam rolar por tal desrespeito com a editora. E, obviamente, a culpa pairava na cabeça dos mais novos na empresa, e esses iriam ser julgados. Droga.

Adrian fez uma reunião de equipe, ao meio dia, para poder gritar em alto em bom som nos nossos ouvidos, enquanto comíamos pizzas que ele mesmo pediu para nós. Possivelmente para não ficar com a consciência pesada enquanto nos atacava com adagas no olhar. Ele era maquiavélico.

Assim que soubemos da reunião, eu mandei uma mensagem para Melissa pedindo desculpas pelo almoço, com uma foto anexa do perfil de Adrian, gritando com uma das garotas da gráfica pelo telefone. Melissa, rapidamente, mandou a resposta:

Nossa! Ele tá soltando fogo pelas ventas! Medo. – M.

Em seguida veio a mensagem de Alice em resposta:

Desnecessário. Ele está passando por uma fase ruim... Mas aquela veia no pescoço parece que vai estourar! =0 – A.

Precisei tampar a boca, discretamente, para não rir, pois Adrian estava de olho em tudo. Então só respondi:

HAHAHAHAHAHAHAHA – S.

Chegou cinco para o meio dia e Alex e eu levantamos tão animados como quem vai pra forca. A sala de reunião, no último andar, era um silêncio de morte, assim que eu entrei nela engoli em seco. Nunca havia visto Adrian naquele estado. Ele era um cara sério e tudo mais, mas algumas vezes ele sorria e soltava, de vez em quando, alguns comentários cómicos, porém sarcásticos. Talvez, no fundo, Adrian devia ser mais descontraído, mas lá era o ambiente de trabalho, e ele colocava a Krathus em um pedestal. Porém naquele momento, não havia piadas, só cara fechada, veia pulsando convulsivamente, e o tique de mexer nos óculos todo o tempo.

Eu não sabia onde poderia sentar de forma que me sentisse mais a vontade. Olhei por todos os cantos, mas todos já estavam ocupados, até avistar Alex, que me encarava nervoso. Ele achou dois lugares, parcialmente, seguros e me puxou. Daquele cantinho protegido pude ver Alice digitar, discretamente, no seu celular de capinha vermelha. E logo veio a mensagem:

Adrian suspeita de vc e do Alex. Cuidado. Eu tentei. – A.

Oh, Deus, eu sabia que ia sobrar para a novata. Afinal, Adrian só me conhecia há seis meses, nada além disso, era perfeitamente normal que ele desconfiasse. Até onde eu sabia, aquilo nunca ocorrera antes, mais um motivo para a suspeita, mesmo eu sabendo que eu não era capaz de uma atrocidade daquelas. Para que eu iria arriscar minha pele, meu emprego e minha moral por alguns mil reais? Eu não era assim, era correta. Sempre devolvia o troco quando percebia que estava a mais do que era para ser, nunca roubei uma bala, se quer, no supermercado. E, mesmo conhecendo Alex a pouco, eu podia garantir que ele era um cidadão honesto, assim como eu. Uma vez, quando voltávamos do almoço, ele viu uma moça de bicicleta perder cinquenta reais do bolso e ele correu atrás dela por um quarteirão inteiro até alcançá-la. Voltou totalmente sem fôlego, mas com um sorriso satisfeito nos lábios. Ele era assim, um cara muito legal e fofo.

Porém Adrian não estava ciente dessas situações.

Naquele momento eu me afundei na cadeira e arregalei meus olhos na direção da minha amiga. Ela me encarou como se quisesse dizer alguma coisa, mentalmente, mas obviamente não podia, afinal, nem digitar normalmente ela estava fazendo. Pois Adrian olhava para todos como se fosse uma águia, e nós suas presas. Por conta disso, eu não pude responder a mensagem, porque se Adrian desconfiasse que ela havia me dito aquilo (para me preparar), nos demitiria na certa. Por complô, ou alguma coisa do tipo.