Capítulo 16

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Na casa de Juliette.

- e aí... Macarrão? - perguntei segurando um pacote e mostrando a Rodolffo.

- eu gosto muito. - ele respondeu contente.

- vou fazer o meu preferido. Espero que goste.

- vou gostar. - ele me disse rindo.  - quer que eu te ajude?

- se quiser ajudar não vou recusar...

- então tá...

Estava cortando algumas verduras e Rodolffo foi refogando a carne.

- Rodolffo... Olha, põe isso aqui. - falei com um tempero na mão.

- sabe o quê gosto dessa nova Juliette? - ele disse me encarando. 

- nova é? Tô um ano mais velha menino. 

- que nada... Você ainda é muito nova, uma criança.

- criança não... Mas o quê gosta na nova Juliette?

- que ela não me chama de senhor.

- não seja por isso senhor. - disse divertida.

- não sei pra quê fui lembrar. - ele disse balançando a cabeça.

- e sabe o quê mais gosto no novo Rodolffo? - ele se virou de novo para mim.

- o quê?

- que ele deixou de ser um leão e se transformou num gatinho.

Rimos juntos dessa última afirmação minha.

- posso considerar isso um elogio? - ele disse segurando a barriga quando parou de rir.

- ué... Claro que é um elogio. Gatinhos são inofensivos, leões não.

Ele parou de rir e me disse mais sério.

- obrigado. Ouvir isso é bom. Mas lembre-se: há gatinhos levados. - ele disse arqueando uma sobrancelha.

- mas não fazem por mal. Os gatos são inocentes.

- vejo que tem vontade de ter um bichinho. Um gato?

- talvez... Mas sempre quis mesmo um cachorro. Minha mãe nunca deixou. Disse ela que sujava muito.

- mas agora você pode ter um. Que raça você prefere? 

- uma raça pequena e que seja dócil.

- hum... Acho que vou ver isso pra você.

- não precisa... Não quero que se incomode buscando um cachorro para mim.

- não é incomodo não... Se eu conseguir algum eu te falo. E esse macarrão aí, tá pronto não?

- quase.

- não vai espapaçar o trem Juliette.

- eu sei o quê eu tô fazendo.

- acho que cê não manja muito de culinária não hein?

- nem venha viu. Deixa de implicar.

- tem que saber cozinhar direitinho... Isso aqui já tá pronto. - ele disse desligando o fogo.

- aqui em casa quem sempre cozinhava era dona Fátima, ela me queria muito além de uma cozinha.

- e não queria que você tivesse um namorado.

- isso também. Cê acredita que ela deu uma carreira no Jorge?

- ué... Mas cê disse que nunca teve nada com ele.

- mas eu nunca tive... Só que um dia ele veio me deixar aqui e ela viu... Ela esculhambou o Jorge e ele ficou morrendo de medo. Tudo isso por que ela botou na cabeça que ele queria me seduzir.

- meu Deus. Mas o Jorge é mole mesmo. Sempre foi.

- foi tão engraçado ele correndo e pior foi ele me dizer que mijou nas calças de medo.

- nossa sinhôra... Ele disse isso pra você?

- disse.

Caímos novamente na gargalhada e dessa vez minha barriga doeu muito mais.

- coitado do Jorge. Como ele quer te conquistar assim?

- o Jorge não vai me conquistar. Ele não tem chances comigo.

- hum... Vejo que nem tudo mudou por aqui. - ele disse de forma baixa e eu fiz que não ouvi.

- como é Rodolffo?

- Jorge que lute. E vamos terminar esse negócio que eu já estou com fome dona Juliette.

Colocamos nosso macarrão numa travessa e sentamos para comer.

- isso tá bão demais? - ele disse me olhando.

- pena que não tenho vinho aqui.

- já bebemos ontem... Lembra?

- mas é bom... - disse fazendo bico.

- o suco é melhor. Um brinde?

- a quê?

- a esse macarrão, a nossa amizade...

- a esse momento...

- e ao espírito gaturno que habita em mim. - ele disse rindo.

- não comece que eu tô comendo e não quero engasgar.

Nossos copos de suco brindaram e eu me sentia bem melhor com ele aqui comigo.

- obrigada por estar aqui hoje. - agradeci. - é muito bom ter alguém para conversar besteira.

- eu quem agradeço e saiba que eu gosto de ouvir e conversar besteira com ocê.

- e se a gente visse um filme?

- se for de comédia... Posso até pensar no seu caso. - ele disse divertido.

- pois vamos terminar aqui e vamos assistir.

Acabei fazendo duas bacias de pipocas para nós, enquanto Rodolffo lavava a louça.

Depois sentamos no tapete da sala para assistir a uma comédia de rachar o bico. Onde eu acabei me engasgando com pipoca.

- cê não devia comer nessas partes trem. - ele dizia enquanto massageava minhas costas.

- ai Rodolffo, tá bom.

- tem que desengasgar Juliette.

- já deu certo.

- então tá... - ele parou os movimentos.

- sou muito destrambelhada né?

- não acho que seja tanto assim.

- hum... Pode dá play no filme, já passou.

Assistimos animados até o fim e depois que terminou ele fez saída para ir embora.

- obrigada Juliette.

- por nada.

- então boa noite...

- boa noite.

Vi pelo vidro da janela ele ir embora e senti uma pontada de saudade. Só Deus sabe quando iria vê-lo de novo.

- calma Juliette... Não é pra tanto. - disse em voz alta para que meu cérebro captasse essa mensagem. - Ele só é alguém sozinho e triste como eu... É só isso.

...


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