Na casa de Juliette.
- e aí... Macarrão? - perguntei segurando um pacote e mostrando a Rodolffo.
- eu gosto muito. - ele respondeu contente.
- vou fazer o meu preferido. Espero que goste.
- vou gostar. - ele me disse rindo. - quer que eu te ajude?
- se quiser ajudar não vou recusar...
- então tá...
Estava cortando algumas verduras e Rodolffo foi refogando a carne.
- Rodolffo... Olha, põe isso aqui. - falei com um tempero na mão.
- sabe o quê gosto dessa nova Juliette? - ele disse me encarando.
- nova é? Tô um ano mais velha menino.
- que nada... Você ainda é muito nova, uma criança.
- criança não... Mas o quê gosta na nova Juliette?
- que ela não me chama de senhor.
- não seja por isso senhor. - disse divertida.
- não sei pra quê fui lembrar. - ele disse balançando a cabeça.
- e sabe o quê mais gosto no novo Rodolffo? - ele se virou de novo para mim.
- o quê?
- que ele deixou de ser um leão e se transformou num gatinho.
Rimos juntos dessa última afirmação minha.
- posso considerar isso um elogio? - ele disse segurando a barriga quando parou de rir.
- ué... Claro que é um elogio. Gatinhos são inofensivos, leões não.
Ele parou de rir e me disse mais sério.
- obrigado. Ouvir isso é bom. Mas lembre-se: há gatinhos levados. - ele disse arqueando uma sobrancelha.
- mas não fazem por mal. Os gatos são inocentes.
- vejo que tem vontade de ter um bichinho. Um gato?
- talvez... Mas sempre quis mesmo um cachorro. Minha mãe nunca deixou. Disse ela que sujava muito.
- mas agora você pode ter um. Que raça você prefere?
- uma raça pequena e que seja dócil.
- hum... Acho que vou ver isso pra você.
- não precisa... Não quero que se incomode buscando um cachorro para mim.
- não é incomodo não... Se eu conseguir algum eu te falo. E esse macarrão aí, tá pronto não?
- quase.
- não vai espapaçar o trem Juliette.
- eu sei o quê eu tô fazendo.
- acho que cê não manja muito de culinária não hein?
- nem venha viu. Deixa de implicar.
- tem que saber cozinhar direitinho... Isso aqui já tá pronto. - ele disse desligando o fogo.
- aqui em casa quem sempre cozinhava era dona Fátima, ela me queria muito além de uma cozinha.
- e não queria que você tivesse um namorado.
- isso também. Cê acredita que ela deu uma carreira no Jorge?
- ué... Mas cê disse que nunca teve nada com ele.
- mas eu nunca tive... Só que um dia ele veio me deixar aqui e ela viu... Ela esculhambou o Jorge e ele ficou morrendo de medo. Tudo isso por que ela botou na cabeça que ele queria me seduzir.
- meu Deus. Mas o Jorge é mole mesmo. Sempre foi.
- foi tão engraçado ele correndo e pior foi ele me dizer que mijou nas calças de medo.
- nossa sinhôra... Ele disse isso pra você?
- disse.
Caímos novamente na gargalhada e dessa vez minha barriga doeu muito mais.
- coitado do Jorge. Como ele quer te conquistar assim?
- o Jorge não vai me conquistar. Ele não tem chances comigo.
- hum... Vejo que nem tudo mudou por aqui. - ele disse de forma baixa e eu fiz que não ouvi.
- como é Rodolffo?
- Jorge que lute. E vamos terminar esse negócio que eu já estou com fome dona Juliette.
Colocamos nosso macarrão numa travessa e sentamos para comer.
- isso tá bão demais? - ele disse me olhando.
- pena que não tenho vinho aqui.
- já bebemos ontem... Lembra?
- mas é bom... - disse fazendo bico.
- o suco é melhor. Um brinde?
- a quê?
- a esse macarrão, a nossa amizade...
- a esse momento...
- e ao espírito gaturno que habita em mim. - ele disse rindo.
- não comece que eu tô comendo e não quero engasgar.
Nossos copos de suco brindaram e eu me sentia bem melhor com ele aqui comigo.
- obrigada por estar aqui hoje. - agradeci. - é muito bom ter alguém para conversar besteira.
- eu quem agradeço e saiba que eu gosto de ouvir e conversar besteira com ocê.
- e se a gente visse um filme?
- se for de comédia... Posso até pensar no seu caso. - ele disse divertido.
- pois vamos terminar aqui e vamos assistir.
Acabei fazendo duas bacias de pipocas para nós, enquanto Rodolffo lavava a louça.
Depois sentamos no tapete da sala para assistir a uma comédia de rachar o bico. Onde eu acabei me engasgando com pipoca.
- cê não devia comer nessas partes trem. - ele dizia enquanto massageava minhas costas.
- ai Rodolffo, tá bom.
- tem que desengasgar Juliette.
- já deu certo.
- então tá... - ele parou os movimentos.
- sou muito destrambelhada né?
- não acho que seja tanto assim.
- hum... Pode dá play no filme, já passou.
Assistimos animados até o fim e depois que terminou ele fez saída para ir embora.
- obrigada Juliette.
- por nada.
- então boa noite...
- boa noite.
Vi pelo vidro da janela ele ir embora e senti uma pontada de saudade. Só Deus sabe quando iria vê-lo de novo.
- calma Juliette... Não é pra tanto. - disse em voz alta para que meu cérebro captasse essa mensagem. - Ele só é alguém sozinho e triste como eu... É só isso.
...
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O solitário
FanfictionUm homem solitário, conformado e acomodado com sua condição. Ele leva a vida no automático e é extremamente metódico, tudo gira em torno de si e assim ele acha que está feliz. Mas até quando?