Entrei no pequeno hospital e Juliette chorava e com a voz trêmula dizia:
- tá doendo e tô com medo. - eu não costumava ver minha esposa com medo.
Se tinha uma coisa que Juliette não tinha era medo. Seu coração era todo esperança e ela era aquela pessoa que acredita em milagres. Não é pra menos que ela casou comigo.
- tenha fé meu amor.
- tem alguma coisa errada. - ela falava com a mão na barriga.
- você vai tomar remédio e ficar boa. Isso é o veneno da arraia.
- não quero ficar sozinha... Não me deixa.
- não vou amor.
O atendimento foi ágil e levaram ela para coletar sangue. Eu não entendi por que, mas era um comportamento padrão aparentemente.
Marco que falava com eles e explicava tudo enquanto as enfermeiras metiam um acesso no braço de Juliette.
Outra pessoa foi direto ao ferimento e eu falei em inglês que ela sentia dor pélvica, mas eles não entendiam.
- eu já falei que ela sente essa dor. Vão levar ela agora pra ver se tem alguma coisa a mais. - me explicou Marco.
- eu vou junto.
- aqui não é como no seu país. Tenha calma. Ela vai sozinha.
Vi levarem a Juliette para uma sala de ultrassonografia e fiquei louco.
Senti as mãos do mergulhador me segurarem.
- não podem me negar a ver... Eu prometi não deixar ela sozinha.
- calma... Tenha fé homem. Ela vai sair de lá e vai tomar o remédio.
Esse exame não durou muito e logo uma enfermeira veio aplicar algo na cor amarela no soro dela. Seguido de um remédio na veia.
O médico não falava inglês e a comunicação era nenhuma. Eu estava apavorado, mas precisava entender o quê tava acontecendo com Juliette. Então por um instante a deixei sozinha e fui em busca de respostas.
- quero saber o quê eles viram... Por que claramente viram alguma coisa... Estão enchendo ela de remédio. Estão matando ela?
- tá louco? Estão cuidando bem dela. E você me julgou mal sendo que você também não deveria ter levado uma mulher nesse estado para um lugar daquele. Nem de avião vocês deveriam ter andado.
- você tá doido? Juliette estava ótima quando saímos.
- não sei... Só sei que passeios em alto mar não são muito indicados para mulheres que esperam bebê.
- é o quê?
Segurei no colarinho do Marco e dei uns sacodes nele.
- você está doido? Enlouqueceu? Minha mulher não tem bebê nenhum.
- tem sim... O médico viu.
Ele falou na língua local e uma enfermeira veio trazendo umas fotos do exame. O médico chegou logo depois e me explicou coisas que eu não entendi nada, mas circulava uma bolinha o tempo todo.
- ele está mostrando a criança e dizendo que tem 9 semanas. - Marco dizia de forma calma. - e que ela tava sentindo dor devido o veneno e o corpo reage dessa forma numa grávida.
Eu estava chocado. Senti as pernas tremerem e me segurei na parede.
- não sabiam não é? - Marco disse segurando meu ombro.
- não tínhamos ideia. Eu sou operado.
- algo deu errado ou... - ele levantou uma sobrancelha.
- nunca! Ela não faria isso. Juliette é fiel a mim e essa possibilidade não existe.
- então a cirurgia foi mal feita.
- ela acredita em milagres e no agir de Deus... E ele permitiu um milagre se formar nela.
Voltei para o quarto e a achei dormindo, mas estava respirando bem.
- Deus eu acredito... Acredito sim e sei que vai fazer ela ficar bem... - dobrei meus joelhos ao chão e chorei. - não tira ela de mim... Ela nem sabe que espera um bebê. Quero tanto que ela se alegre e fique feliz. O senhor conhece o meu coração e também o meu arrependimento com essa cirurgia, então essa é a prova viva que milagres existem.
Eu terminei de dizer isso e ela me chamou.
- Rodolffo... Tá passando. - ela disse de forma lenta.
- vai passar amor. Vai passar.
- eu tô com sono.
- então dorme... Eu sei que você vai acordar bem. Eu confio que vai.
Ela dormiu e vigiei seu sono.
Marco entrou no quarto depois de um tempo.
- já contou pra ela?
- não... Não é o momento. Eu posso ficar com as imagens?
- pode... O exame de sangue também. Parabéns pelo bebê.
- obrigado. - meu coração era só gratidão.
...
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O solitário
FanficUm homem solitário, conformado e acomodado com sua condição. Ele leva a vida no automático e é extremamente metódico, tudo gira em torno de si e assim ele acha que está feliz. Mas até quando?