Capítulo 47

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Entrei no pequeno hospital e Juliette chorava e com a voz trêmula dizia:

- tá doendo e tô com medo. - eu não costumava ver minha esposa com medo.

Se tinha uma coisa que Juliette não tinha era medo. Seu coração era todo esperança e ela era aquela pessoa que acredita em milagres. Não é pra menos que ela casou comigo.

- tenha fé meu amor.

- tem alguma coisa errada. - ela falava com a mão na barriga.

- você vai tomar remédio e ficar boa. Isso é o veneno da arraia.

- não quero ficar sozinha... Não me deixa.

- não vou amor.

O atendimento foi ágil e levaram ela para coletar sangue. Eu não entendi por que, mas era um comportamento padrão aparentemente.

Marco que falava com eles e explicava tudo enquanto as enfermeiras metiam um acesso no braço de Juliette.

Outra pessoa foi direto ao ferimento e eu falei em inglês que ela sentia dor pélvica, mas eles não entendiam.

- eu já falei que ela sente essa dor. Vão levar ela agora pra ver se tem alguma coisa a mais. - me explicou Marco. 

- eu vou junto.

- aqui não é como no seu país. Tenha calma. Ela vai sozinha.

Vi levarem a Juliette para uma sala de ultrassonografia e fiquei louco.

Senti as mãos do mergulhador me segurarem.

- não podem me negar a ver... Eu prometi não deixar ela sozinha.

- calma... Tenha fé homem. Ela vai sair de lá e vai tomar o remédio.

Esse exame não durou muito e logo uma enfermeira veio aplicar algo na cor amarela no soro dela. Seguido de um remédio na veia.

O médico não falava inglês e a comunicação era nenhuma. Eu estava apavorado, mas precisava entender o quê tava acontecendo com Juliette. Então por um instante a deixei sozinha e fui em busca de respostas.

- quero saber o quê eles viram... Por que claramente viram alguma coisa... Estão enchendo ela de remédio. Estão matando ela?

- tá louco? Estão cuidando bem dela. E você me julgou mal sendo que você também não deveria ter levado uma mulher nesse estado para um lugar daquele. Nem de avião vocês deveriam ter andado.

- você tá doido? Juliette estava ótima quando saímos.

- não sei... Só sei que passeios em alto mar não são muito indicados para mulheres que esperam bebê.

- é o quê?

Segurei no colarinho do Marco e dei uns sacodes nele.

- você está doido? Enlouqueceu? Minha mulher não tem bebê nenhum.

- tem sim... O médico viu.

Ele falou na língua local e uma enfermeira veio trazendo umas fotos do exame. O médico chegou logo depois e me explicou coisas que eu não entendi nada, mas circulava uma bolinha o tempo todo.

- ele está mostrando a criança e dizendo que tem 9 semanas. - Marco dizia de forma calma. - e que ela tava sentindo dor devido o veneno e o corpo reage dessa forma numa grávida.

Eu estava chocado. Senti as pernas tremerem e me segurei na parede.

- não sabiam não é? - Marco disse segurando meu ombro.

- não tínhamos ideia. Eu sou operado.

- algo deu errado ou... - ele levantou uma sobrancelha.

- nunca! Ela não faria isso. Juliette é fiel a mim e essa possibilidade não existe.

- então a cirurgia foi mal feita.

- ela acredita em milagres e no agir de Deus... E ele permitiu um milagre se formar nela.

Voltei para o quarto e a achei dormindo, mas estava respirando bem.

- Deus eu acredito... Acredito sim e sei que vai fazer ela ficar bem... - dobrei meus joelhos ao chão e chorei. - não tira ela de mim... Ela nem sabe que espera um bebê. Quero tanto que ela se alegre e fique feliz. O senhor conhece o meu coração e também o meu arrependimento com essa cirurgia, então essa é a prova viva que milagres existem.

Eu terminei de dizer isso e ela me chamou.

- Rodolffo... Tá passando. - ela disse de forma lenta.

- vai passar amor. Vai passar.

- eu tô com sono.

- então dorme... Eu sei que você vai acordar bem. Eu confio que vai.

Ela dormiu e vigiei seu sono.

Marco entrou no quarto depois de um tempo.

- já contou pra ela?

- não... Não é o momento. Eu posso ficar com as imagens?

- pode... O exame de sangue também. Parabéns pelo bebê.

- obrigado. - meu coração era só gratidão.

...

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