- Por favor, tá tão bom. Não está estragado. Eu não vou ficar doente. - ela dizia com a vontade avassaladora devorar aquele bolinho sei lá de quê.
- o Guilherme me disse... Eu que não quis acreditar. - falei baixo.
- o quê cê disse?
- pode comer... Eu não vou te empatar.
Apesar de já ter visto duas mulheres grávidas de perto, nenhuma parecia ter o apetite de Juliette.
Camila era enjoada com tudo e vivia mais passando fome que se alimentando.
Das Dores nunca foi de comer muito e grávida ainda era pior. Já Juliette é capaz de comer reboco de parede se no fim você disser que tem queijo ou carne seca.
Vi ela se deliciar com aquele bolinho e só conseguia rir por que era engraçado. Ela comia igual criança de olhos fechados e curtindo o sabor daquilo que talvez não tivesse gosto de nada.
- isso é feito de quê?
- de batata, umas especiarias e queijo. Não se preocupe, não vai fazer mal a ela. - me disse Marco.
- poderia ir ali e me trazer mais dois?
Marco me falou o valor e eu dei os dólares a ele.
- pedi mais um desses pra você e outro pra mim.
- aqui só não tem sorvete... Queria um...
- e o bolinho?
- já estou satisfeita. Agora quero algo doce.
Resultado dei um bolinho ao Marco, comi o outro, enquanto Juliette comia um trem que parecia churros, mas não era e tinha um doce escuro no meio.
Andamos um pouco mais no comércio local e Juliette já parecia cansada.
- tá tudo bem Juliette?
- eu tô bem enjoada. Acho que vou vomitar.
- quer dá uma volta num lugar mais arejado?
- quero.
A levei para uma espécie de ponte, onde os ventos batiam no seu cabelo.
A vista era linda, paradisíaca.
- Aqui é lindo, mas eu não estou me adaptando bem. Tudo tem acontecido comigo nessa viagem.
- calma... Sinta essa brisa... Só tente relaxar.
- eu só penso em ir pra casa, deitar e dormir para os dias passarem logo e eu voltar para o meu país.
- estamos no terceiro dia... Tá terminando.
- desculpa o desabafo. Eu sei que você queria que eu estivesse muito feliz, mas eu não estou. Eu quero meu pitiquinho.
- também tô sentindo falta daquele danado.
- nossa bolinha de pelo. Será que ele sente saudades?
- claro que sente. Não tenha dúvidas. Mas vamos ter que começar a impor alguns limites nele amor.
- que limites?
- ele é um cachorro que ama brincar, mas ele também gosta de morder e temos que tentar tirar esse hábito dele.
- mas não dói nadinha. Ele não faz por maldade.
- mas os dentes dele furam, principalmente peles finas e sensíveis.
- mas não temos a pele tão sensível assim. Nós suportamos.
- amor... - me coloquei atrás dela e lhe perguntei. - tá vendo aqueles passarinhos ali na árvore? Tá vendo que um tá no ninho e o outro fora dele?
- ôh Rodolffo... Eu não sou tonta... Ela tá chocando os ovos.
- para nascer os filhotes... - continuei.
- sim... Isso mesmo. Qualquer criança sabe disso. Mas o quê isso tem a ver com o pitico e nós? Não tá fazendo sentido nenhum.
- você sempre acreditou em milagres, não é mesmo?
- sim Rodolffo... - ela disse se virando para mim. - fale logo... Já não aguento mais esse arrodeio. O quê cê quer me dizer?
- quero te dizer que temos que preparar nosso cachorro para que ele receba com carinho um amigo novo.
- cê comprou outro cachorro sem me avisar? É uma cachorrinha?
- ainda não é isso... Calma. O pitico tem que ser mais cauteloso com os carinhos violentos dele por que vamos ter um filhotinho em casa, em breve.
- filhotinho de que? De passarinho? Eu não acho boa ideia Rodolffo... Vai agitar o pitico demais.
- vamos ter um filho Juliette.
- ah amor... Fico feliz que você tenha aceitado bem a ideia, mas isso não é agora, vai demorar um pouco ainda.
- sim... Uns setes meses ou um pouco mais... Depende muito do bebê.
- endoidou foi? Eu não vou fazer o tratamento em tempo recorde assim não menino e crianças levam nove meses para nascer.
- você está grávida Juliette. - resolvi ser direto.
Ela riu da minha cara e isso durou alguns instantes.
- eu não estou brincando.
- Rodolffo para com isso. Que coisa mais sem graça, apesar que eu ri, mas isso é brincar comigo.
- faça as contas. Quando foi a última vez que você menstruou?
Ela deu um passo para trás e naquele instante eu percebi que ela tinha caído em si.
- mas isso não é possível... Você disse que não era possível. Rodolffo mentiu pra mim?
- nada disso e eu posso provar. Você viu a marquinha deixada pelo laser. Eu não faria isso com você.
- e como sabe que eu tô grávida?
- os médicos descobriram no dia do seu acidente no mar e eu fiquei sem saber como te falaria isso.
- jura que é verdade?
- eu tenho a ultrassom e chegando lá eu te mostro.
- ai meu Deus... - ela me olhou com os olhos surpresos. - Rodolffo cê tem ideia do que é isso? Agora tudo faz sentido... Ele disse:" é tempo de cuidar de si... Do seu corpo e do seu espírito. Você é um porto... Um campo fértil". - ela falou levando as mãos a boca.
- ele quem? Quem te falou isso Juliette?
Ela me olhou e sua expressão era de medo. Enquanto eu precisava ouvir quem era o homem que tinha pedido um trem desses para minha mulher.
...
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O solitário
Fiksi PenggemarUm homem solitário, conformado e acomodado com sua condição. Ele leva a vida no automático e é extremamente metódico, tudo gira em torno de si e assim ele acha que está feliz. Mas até quando?