Capítulo 50

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- Por favor, tá tão bom. Não está estragado. Eu não vou ficar doente. - ela dizia com a vontade avassaladora devorar aquele bolinho sei lá de quê.

- o Guilherme me disse... Eu que não quis acreditar. - falei baixo.

- o quê cê disse?

- pode comer... Eu não vou te empatar.

Apesar de já ter visto duas mulheres grávidas de perto, nenhuma parecia ter o apetite de Juliette.

Camila era enjoada com tudo e vivia mais passando fome que se alimentando.

Das Dores nunca foi de comer muito e grávida ainda era pior. Já Juliette é capaz de comer reboco de parede se no fim você disser que tem queijo ou carne seca.

Vi ela se deliciar com aquele bolinho e só conseguia rir por que era engraçado. Ela comia igual criança de olhos fechados e curtindo o sabor daquilo que talvez não tivesse gosto de nada.

- isso é feito de quê?

- de batata, umas especiarias e queijo. Não se preocupe, não vai fazer mal a ela. - me disse Marco.

- poderia ir ali e me trazer mais dois?

Marco me falou o valor e eu dei os dólares a ele.

- pedi mais um desses pra você e outro pra mim.

- aqui só não tem sorvete... Queria um...

- e o bolinho?

- já estou satisfeita. Agora quero algo doce.

Resultado dei um bolinho ao Marco, comi o outro, enquanto Juliette comia um trem que parecia churros, mas não era e tinha um doce escuro no meio.

Andamos um pouco mais no comércio local e Juliette já parecia cansada.

- tá tudo bem Juliette?

- eu tô bem enjoada. Acho que vou vomitar.

- quer dá uma volta num lugar mais arejado?

- quero.

A levei para uma espécie de ponte, onde os ventos batiam no seu cabelo.

A vista era linda, paradisíaca.

- Aqui é lindo, mas eu não estou me adaptando bem. Tudo tem acontecido comigo nessa viagem.

- calma... Sinta essa brisa... Só tente relaxar.

- eu só penso em ir pra casa, deitar e dormir para os dias passarem logo e eu voltar para o meu país.

- estamos no terceiro dia... Tá terminando.

- desculpa o desabafo. Eu sei que você queria que eu estivesse muito feliz, mas eu não estou. Eu quero meu pitiquinho.

- também tô sentindo falta daquele danado.

- nossa bolinha de pelo. Será que ele sente saudades?

- claro que sente. Não tenha dúvidas. Mas vamos ter que começar a impor alguns limites nele amor.

- que limites?

- ele é um cachorro que ama brincar, mas ele também gosta de morder e temos que tentar tirar esse hábito dele.

- mas não dói nadinha. Ele não faz por maldade.

- mas os dentes dele furam, principalmente peles finas e sensíveis.

- mas não temos a pele tão sensível assim. Nós suportamos.

- amor... - me coloquei atrás dela e lhe perguntei. - tá vendo aqueles passarinhos ali na árvore? Tá vendo que um tá no ninho e o outro fora dele?

- ôh Rodolffo... Eu não sou tonta... Ela tá chocando os ovos.

- para nascer os filhotes... - continuei.

- sim... Isso mesmo. Qualquer criança sabe disso. Mas o quê isso tem a ver com o pitico e nós? Não tá fazendo sentido nenhum.

- você sempre acreditou em milagres, não é mesmo?

- sim Rodolffo... - ela disse se virando para mim. - fale logo... Já não aguento mais esse arrodeio. O quê cê quer me dizer?

- quero te dizer que temos que preparar nosso cachorro para que ele receba com carinho um amigo novo.

- cê comprou outro cachorro sem me avisar? É uma cachorrinha?

- ainda não é isso... Calma. O pitico tem que ser mais cauteloso com os carinhos violentos dele por que vamos ter um filhotinho em casa, em breve.

- filhotinho de que? De passarinho? Eu não acho boa ideia Rodolffo... Vai agitar o pitico demais.

- vamos ter um filho Juliette.

- ah amor... Fico feliz que você tenha aceitado bem a ideia, mas isso não é agora, vai demorar um pouco ainda.

- sim... Uns setes meses ou um pouco mais... Depende muito do bebê.

- endoidou foi? Eu não vou fazer o tratamento em tempo recorde assim não menino e crianças levam nove meses para nascer.

- você está grávida Juliette. - resolvi ser direto.

Ela riu da minha cara e isso durou alguns instantes.

- eu não estou brincando.

- Rodolffo para com isso. Que coisa mais sem graça, apesar que eu ri, mas isso é brincar comigo.

- faça as contas. Quando foi a última vez que você menstruou?

Ela deu um passo para trás e naquele instante eu percebi que ela tinha caído em si.

- mas isso não é possível... Você disse que não era possível. Rodolffo mentiu pra mim?

- nada disso e eu posso provar. Você viu a marquinha deixada pelo laser. Eu não faria isso com você.

- e como sabe que eu tô grávida?

- os médicos descobriram no dia do seu acidente no mar e eu fiquei sem saber como te falaria isso.

- jura que é verdade?

- eu tenho a ultrassom e chegando lá eu te mostro.

- ai meu Deus... - ela me olhou com os olhos surpresos. - Rodolffo cê tem ideia do que é isso? Agora tudo faz sentido... Ele disse:" é tempo de cuidar de si... Do seu corpo e do seu espírito. Você é um porto... Um campo fértil". - ela falou levando as mãos a boca.

- ele quem? Quem te falou isso Juliette?

Ela me olhou e sua expressão era de medo. Enquanto eu precisava ouvir quem era o homem que tinha pedido um trem desses para minha mulher.

...

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