Capítulo 10

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* Peço que todas as pessoas que se considerem sensíveis, não leiam esse capítulo. Vocês conseguirão entender o contexto mesmo sem ler essa parte. *

No Brasil...

Fiquei a ver minha mãe na UTI e não se tinha esperanças na sua recuperação imediata. Parecia que tudo ia desabar sobre a minha cabeça a qualquer instante.

- Juliette... Eu sinto muito. - Jorge me apareceu com um abraço de conforto.

- obrigada.

- Deus está cuidando de tudo. Acredite.

...

Minha mãe ficou internada por seguidos e longos cinco meses, foram dias duros para mim. Nunca me vi na vida sem ela e parecia que tudo se desenhava para que seu quadro não saísse do que estava.

Vê-la deitada e imóvel me doía demais.

- Juliette... - o médico me disse de forma tranquila. - A morte cerebral foi detectada.

- não... - disse entrando em desespero.

- eu sinto muito. Mas não tem mais volta, já fizemos inúmeros exames e não tem resposta.

- eu não tenho ninguém. Não tenho ninguém. Tenho 23 anos e estou completamente sozinha... Minha mãe é meu tudo, entende? Como vou sobreviver sem ela? Como?

Entrei em estado de choque e em algum momento fui medicada.

- oi Juliette. - vi Jorge junto a minha cama e com delicadeza ele segurava minha mão.

- é mentira não é? Diga Jorge.

- é verdade. Mas você tem que ter calma.

- o quê vai ser de mim agora?

- calma.

Jorge tinha uma tranquilidade muito grande e me abraçou forte.

- vou cuidar de você. - me disse Jorge.

No dia seguinte, dei meu último adeus a minha mãe. Parecia que meu mundo havia desmoronado num abismo sem fim. Eu estava triste e mergulhada num mar de dor.

...

Enquanto isso no México.

- despierta mi amor... Dispierta. - me chamou Das Dores.

- ¿que pasó? - despertei atordoado.

- estoy sangrando. Nuestro bebé está en riesgo. - ela disse com lágrimas nos olhos.

Me desesperei. Ainda não era hora dela nascer. Mas dava para perceber que Das Dores tinha contrações de parto.

Nos arrumamos depressa e partimos para a cidade com hospital equipado mais próximo e ao contrário do Brasil, aqui as coisas não eram tão simples e nem com dinheiro se resolvia de forma rápida.

Foram duas horas de carro e Das Dores já deu entrada no hospital, que melhor lhe atenderia, branca igual vela.

- va a estar bien cariño. - lhe disse enquanto a colocava na cadeira de rodas.

- tengo miedo. Prométeme cuidarla? - ela pediu já chorando.

- nos cuidaremos juntos.

A equipe a levou para a sala de parto e não me deixaram entrar. Não sei por que, mas não me deixaram.

Fiquei ali num sala de espera e uma senhora se aproximou calmamente de mim.

- reza por ellos. Necesitan.

- no lo creo. - disse de forma ríspida.

- Dios tiene misericordia de los que le piden con fervor. - foram suas últimas palavras.

Já pedi muito a Deus por meus pais, irmã e filho, e nunca fui atendido, então não posso lhe pedir coisa alguma.

Um grito ecoou da sala de parto e era de Das Dores. Tentei invadir o local, mas fui contido.

- es mi esposa y mi hija. - gritei indignado.

Não escutei nenhum chorinho de bebê e meu coração doeu.

- nació mi bebe? - perguntei contendo as lágrimas e vi uma moça enxugar o rosto. - Quiero ver a mi bebe.

Ouvi um choro vindo de dentro e eu sabia que era Das Dores quem chorava.

Dei um soco na cara de um enfermeiro, ameacei o outro e entrei naquela sala fria na marra.

- déjelo. - disse o médico.

Eu não sabia se o quê estava vendo era um filme de terror ou a minha mulher e minha filha juntas.

Das Dores estava agarrada a bebê roxa e sem vida. Enquanto ela estava mais pálida que antes.

- no conseguí mi amor. - ela me disse com o semblante desfalecido.

- no te esfuerces demasiado querida. - pedi enquanto beijava a sua testa fria.

Senti naquele momento que estava perdendo novamente minha família. Chorei agarrado com as duas.

- te amare por siempre amor. - disse Das Dores sussurrando.

- y yo a ti Das Dores. - ela ainda conseguiu ouvir e depois disso fechou os olhos.

Ela havia ido e minha filha também. Ainda peguei na pequena criancinha e a abracei. Já estava toda feitinha e lembrei do quanto fomos felizes a espera dessa pequena.

Ergui minha cabeça ao céu e disse:

- me odeia, não é? Nunca vou conseguir ser feliz, nunca.

No dia seguinte, enterrei minha mulher e minha filha, e sinceramente tive muita vontade de me jogar em alto mar e ali mesmo dá fim a toda dor, mas não poderia terminar assim. Existem pessoas que precisam de mim e Das Dores nunca foi de acordo que eu as abandonasse.

Voltei para casa e juntei todas as coisinhas delas duas. Eva era o nome de nossa bebê e ela já tinha o enxoval completo. Num ataque de raiva e dor, quebrei algumas coisas pela casa e sei que de nada ia adiantar, mas não era possível e eu não aceitava que estava novamente sozinho.

...



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