* Peço que todas as pessoas que se considerem sensíveis, não leiam esse capítulo. Vocês conseguirão entender o contexto mesmo sem ler essa parte. *
No Brasil...
Fiquei a ver minha mãe na UTI e não se tinha esperanças na sua recuperação imediata. Parecia que tudo ia desabar sobre a minha cabeça a qualquer instante.
- Juliette... Eu sinto muito. - Jorge me apareceu com um abraço de conforto.
- obrigada.
- Deus está cuidando de tudo. Acredite.
...
Minha mãe ficou internada por seguidos e longos cinco meses, foram dias duros para mim. Nunca me vi na vida sem ela e parecia que tudo se desenhava para que seu quadro não saísse do que estava.
Vê-la deitada e imóvel me doía demais.
- Juliette... - o médico me disse de forma tranquila. - A morte cerebral foi detectada.
- não... - disse entrando em desespero.
- eu sinto muito. Mas não tem mais volta, já fizemos inúmeros exames e não tem resposta.
- eu não tenho ninguém. Não tenho ninguém. Tenho 23 anos e estou completamente sozinha... Minha mãe é meu tudo, entende? Como vou sobreviver sem ela? Como?
Entrei em estado de choque e em algum momento fui medicada.
- oi Juliette. - vi Jorge junto a minha cama e com delicadeza ele segurava minha mão.
- é mentira não é? Diga Jorge.
- é verdade. Mas você tem que ter calma.
- o quê vai ser de mim agora?
- calma.
Jorge tinha uma tranquilidade muito grande e me abraçou forte.
- vou cuidar de você. - me disse Jorge.
No dia seguinte, dei meu último adeus a minha mãe. Parecia que meu mundo havia desmoronado num abismo sem fim. Eu estava triste e mergulhada num mar de dor.
...
Enquanto isso no México.
- despierta mi amor... Dispierta. - me chamou Das Dores.
- ¿que pasó? - despertei atordoado.
- estoy sangrando. Nuestro bebé está en riesgo. - ela disse com lágrimas nos olhos.
Me desesperei. Ainda não era hora dela nascer. Mas dava para perceber que Das Dores tinha contrações de parto.
Nos arrumamos depressa e partimos para a cidade com hospital equipado mais próximo e ao contrário do Brasil, aqui as coisas não eram tão simples e nem com dinheiro se resolvia de forma rápida.
Foram duas horas de carro e Das Dores já deu entrada no hospital, que melhor lhe atenderia, branca igual vela.
- va a estar bien cariño. - lhe disse enquanto a colocava na cadeira de rodas.
- tengo miedo. Prométeme cuidarla? - ela pediu já chorando.
- nos cuidaremos juntos.
A equipe a levou para a sala de parto e não me deixaram entrar. Não sei por que, mas não me deixaram.
Fiquei ali num sala de espera e uma senhora se aproximou calmamente de mim.
- reza por ellos. Necesitan.
- no lo creo. - disse de forma ríspida.
- Dios tiene misericordia de los que le piden con fervor. - foram suas últimas palavras.
Já pedi muito a Deus por meus pais, irmã e filho, e nunca fui atendido, então não posso lhe pedir coisa alguma.
Um grito ecoou da sala de parto e era de Das Dores. Tentei invadir o local, mas fui contido.
- es mi esposa y mi hija. - gritei indignado.
Não escutei nenhum chorinho de bebê e meu coração doeu.
- nació mi bebe? - perguntei contendo as lágrimas e vi uma moça enxugar o rosto. - Quiero ver a mi bebe.
Ouvi um choro vindo de dentro e eu sabia que era Das Dores quem chorava.
Dei um soco na cara de um enfermeiro, ameacei o outro e entrei naquela sala fria na marra.
- déjelo. - disse o médico.
Eu não sabia se o quê estava vendo era um filme de terror ou a minha mulher e minha filha juntas.
Das Dores estava agarrada a bebê roxa e sem vida. Enquanto ela estava mais pálida que antes.
- no conseguí mi amor. - ela me disse com o semblante desfalecido.
- no te esfuerces demasiado querida. - pedi enquanto beijava a sua testa fria.
Senti naquele momento que estava perdendo novamente minha família. Chorei agarrado com as duas.
- te amare por siempre amor. - disse Das Dores sussurrando.
- y yo a ti Das Dores. - ela ainda conseguiu ouvir e depois disso fechou os olhos.
Ela havia ido e minha filha também. Ainda peguei na pequena criancinha e a abracei. Já estava toda feitinha e lembrei do quanto fomos felizes a espera dessa pequena.
Ergui minha cabeça ao céu e disse:
- me odeia, não é? Nunca vou conseguir ser feliz, nunca.
No dia seguinte, enterrei minha mulher e minha filha, e sinceramente tive muita vontade de me jogar em alto mar e ali mesmo dá fim a toda dor, mas não poderia terminar assim. Existem pessoas que precisam de mim e Das Dores nunca foi de acordo que eu as abandonasse.
Voltei para casa e juntei todas as coisinhas delas duas. Eva era o nome de nossa bebê e ela já tinha o enxoval completo. Num ataque de raiva e dor, quebrei algumas coisas pela casa e sei que de nada ia adiantar, mas não era possível e eu não aceitava que estava novamente sozinho.
...
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O solitário
Fiksi PenggemarUm homem solitário, conformado e acomodado com sua condição. Ele leva a vida no automático e é extremamente metódico, tudo gira em torno de si e assim ele acha que está feliz. Mas até quando?