Capítulo 51

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- Juliette, quem é esse homem que te disse isso? - ele estava aborrecido e eu sabia que Rodolffo era ciumento.

- Rodolffo... Não é nada disso que você está pensando.

- então explica... Eu quero saber quem é esse que te dá conselhos.

- eu tenho medo que você não entenda.

- nunca duvidei do seu caráter, mas isso não é uma coisa promissora para nós. Não aceito que me esconda coisas. E muito menos que tenha uma amizade tão íntima com outro homem.

- eu nunca te trai... Se eu tô grávida o bebê é seu e espero que você não duvide disso.

- eu não tenho dúvidas... Ao menos que você queira que eu tenha.

- não fale assim... Nunca beijei outro além de ti, avalie o resto.

- então de quem estamos falando?

- você promete não me achar louca?

- você não é louca.

- desde criança eu tenho uma espécie de dom e minha mãe sempre o achou abominável. Quando eu tinha 6 anos foi o início de tudo, ocorre que eu gostava muito de uma senhorinha do bairro, só que ela só chegava perto de mim quando minha mãe não estava por perto e eu era muito pequena, crianças pequenas falam muito e nessa época eu era super falante.

- essa senhora te fez mal?

- não... Mas ela não existia para os outros. Só pra mim.

- era uma amiga imaginária?

- também não... Ela era alguém que viveu ali a muitos anos, mas já não estava entre os vivos.

- credo Juliette... Fantasma?

- existem outros termos, mas minha mãe ficou louca quando soube de tudo. Ela me levou em todos os lugares possíveis e imagináveis por que na cabeça dela eu estava com um encosto.

- Juliette eu não tô gostando do rumo dessa prosa não.

- por que você tem medo... É... As pessoas tem medo. Eu nunca mais consegui ver a velhinha, mas aos 14 eu comecei a ver uma criança, essa era mais atormentada e eu tive medo, voltando a frequentar muitos lugares para me libertar daquilo. Por muitos anos eu acreditei que nunca mais veria mortos, até que eu encontrei esse homem na igreja.

- acho que você falou disso... Esse homem era um fantasma.

- no início eu acreditei que não era. Parecia real demais, e eu sabia que conhecia ele de algum mas não recordava de onde. Só fui reconhecer de verdade por uma foto.

- pelo o amor de Deus... Isso é sério?

- é sério. Mas eu acho melhor não te contar o resto.

- vai contar sim. Quem é?

- eu nunca consegui ver pessoas que eu conheci. Nunca vi minha vó, minha tia ou minha mãe... Tão pouco qualquer outra pessoa que eu tenha conhecido. Então, não tinha como eu saber de primeira que era ele. Mas ao ver novamente o porta-retrato no aparador, eu confirmei.

Rodolffo ficou branco igual uma vela.

- eu liguei os pontos... Ele pediu para que eu cuidasse de você... Para que eu não desistisse e que tudo daria certo, no tempo apropriado.

- viu meu pai?

- sim... Três vezes. E a última ele me disse isso.

- quando foi?

- no meu aniversário.

- temos que rezar. Não é normal você ver isso. Eu não quero que você veja. - ele estava em pânico.

- calma Rodolffo.

- Juliette quem morre não volta. E eu amava meu pai para saber que isso aconteceu. Um dia ele pode te assustar e você perder o bebê. Você tem que voltar nos lugares que ia e eu tenho que pedir a Deus para te livrar disso.

Eu sabia que a reação de Rodolffo seria complicada, mas nunca imaginei que seria igual a da minha mãe.

- não posso te fazer correr riscos e eu tô bem preocupado.

- ele não me fez mal. Tenha calma.

- sou amaldiçoado Juliette... Eu sei disso.

- não é... Para de dizer isso.

- aquele velho jogou uma praga em mim e eu não vivo em paz por isso. Se eu perder você e esse bebê, vou junto... Dessa vez eu sei que não resisto.

- isso não vai acontecer... Vai ficar tudo bem.

- vamos pra casa agora e qualquer coisa que você ver vai me contar. Tudo bem?

- sim.

- então vem.

A paranóia de Rodolffo o estava consumindo e depois disso tudo piorou. Eu não deveria ter deixado escapar isso, mas agora já foi.

...

Voltamos a cabana num clima terrível de tensão.

- eu estou grávida e nós não vamos comemorar? Todos os casais comemoram.

- amor... Eu não tô muito bem.

Sua respiração estava ofegante e claramente ele estava desestabilizado.

O abracei forte e tentei acalmá-lo.

- esse bebê é um milagre.

- sim... E eu fico feliz que veja dessa forma. Acredite, tudo vai dá certo. Quando a gente voltar para o Brasil vamos ver nosso bebê juntos.

- claro que vamos. Não vejo a hora.

- nem eu... - cheirei seus cabelos e aos poucos o senti ficar mais calmo.

...

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