O solitário

Capítulo 57

- amor... Você está bem mesmo? - me perguntou um Rodolffo de semblante abatido.

- eu tô bem amor. - disse tentando disfarçar a cara de dor.

- não tá parecendo não...

- Rodolffo só estou sentindo dor nas costas. É só isso.

- Juliette, você sabe que estamos na reta final e não tem sido boa toda essa expectativa.

- já te pedi tanto para ficar tranquilo, mas estou vendo que não tem dormido bem a noite.

- não estou mesmo. Você levanta muito e eu não consigo relaxar.

- eu preciso fazer xixi e nesse finalzinho está bem mais difícil, mas é normal... As dores são normais por que é a preparação para a chegada da nossa bebê.

- não sei como vou me sentir nesse dia, mas eu quero estar junto contigo te dando apoio.

- está dando tudo certo. Ontem vimos ela, lembra? Ela tá encaixada para o parto, do jeito que sonhamos.

- por mim cê não precisava passar por isso. Era só marcar a cirurgia.

- quero que minha filha saiba que vou dá a ela a oportunidade de nascer naturalmente, mas se não for possível vamos a cirurgia.

- tudo bem. - ele disse com uma cara preocupada.

- por que não leva pitico para dá uma volta? Tem dias que não saímos com o bichinho.

- acho que vou levar. Estou precisando também.

- a coleirinha tá lá embaixo.

Ele saiu do quarto e eu o segui até o início da escada.

- Maria, cuide dela, tá bem? - ouvi ele dizer ao sair.

Maria já vinha subindo as escadas quando me viu.

- dona Juliette o quê faz aí?

- estou de pé... Acho que assim fica melhor. Maria vai nascer hoje.

- a senhora acha? - ela me disse de forma alarmada. - a data não era pra semana que vem?

- sim... Mas a médica disse que podia vir antes e ela tá vindo.

- e por que pediu pra ele ir andar com o cachorro?

- ele precisa relaxar um pouco. Se não ele vai pirar e me deixar pirada também. Ele não tem dormido de ansiedade e a terapeuta pediu que eu colocasse ele para fazer atividades que distraísse a mente, mas ele não quer com medo que eu passe mal. Então, como sei que o dia hoje será longo, eu pedi pra ele ir, vai fazer bem...

...

- não corre assim... Ôh pitico tem paciência.

Nunca gostei de usar coleira no pitico, mas para andar ao ar livre era necessário demais por que se não ele foge e ninguém acha mais.

- calma rapaz. - falava enquanto ele literalmente me puxava.

Meu carro estava estacionado ali perto, mas eu me afastei um pouco para aproveitar a vista.

- sua amiguinha está chegando pitico. - respirei fundo. - Juliette está pesada demais e não tem sido fácil, mas estamos felizes. Graças a Deus até aqui tudo bem.

Eu conversava com meu cachorro quando vi um senhor se aproximar de mim.

- Diaaa rapaz. - ele cumprimentou.

- bom dia.

- o senhor mora aqui perto?

- não muito perto. - não dou informações pessoais a estranhos.

- esse condomínio aí. - falou apontando pra onde eu morava.- é só de gente rica né?

Eu não respondi por que não estava gostando do rumo da conversa.

- eu tenho uma filha que mora aí... Juliette o nome dela.

Me virei para olhar bem o velho e não podia ser verdade que ele falava sério.

- tem certeza que mora aí?

- tenho... Ela casou com um ricão. É mais velho que ela, mas é rico, ao contrário da mãe dela que ficava com pobre como eu.

- está a procura dela a muito tempo?

- na verdade nem tanto. Quando a mãe me contou da gravidez eu não tinha condições nenhuma e sinceramente não assumi a menina. Depois eu até quis conhecer ela, mas a Fátima não deixou. Agora a Fátima morreu e minha filha tá ricona, eu tenho que tentar falar com ela.

- vem atrás de dinheiro?

- também ué... Ela pode sim me ajudar e me abrigar... Eu sou o pai dela. Sabia que eu já pesquisei sobre o marido dela...

- foi mesmo?

- foi... Eu já os dois juntos também. Ela tá com um barrigão e o homem do lado. Tive vontade de me aproximar, mas tive medo dele. Ele causa medo nas pessoas.

- e é? Pois cuidado... Isso pode ser bem ruim pro seu lado.

- olhe aqui minha filha rica... Olhe. Parece com a mãe quando jovem. - ele mostrou uma foto de Juliette. Acaso já viu essa mulher alguma vez?

- não senhor. Infelizmente não posso te ajudar. - peguei meu cachorro e sai de perto do velho.

Só faltava esse agora.

...