Capítulo 3

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Alguns anos tinham se passado desde a partida dela, mas a dor da saudade continuava a me atormentar. Enquanto o tempo parecia seguir seu curso normal para as pessoas ao meu redor, para mim, cada dia era como uma eternidade. A perda da minha esposa ainda pesava intensamente no meu peito.

Para tentar superar aquela dor avassaladora, busquei ocupar minha mente com outras atividades. Consegui realizar o meu sonho de escrever um livro, criando uma história de drama e suspense em que um homem enfrentava a perda de sua esposa, que havia sucumbido à batalha contra o câncer. Em cada página daquela história, coloquei todos os meus sentimentos, como se aquele pedaço de papel fosse meu próprio psicólogo. Enquanto escrevia, lágrimas escorriam dos meus olhos, e assim, aos poucos, fui aprendendo a aceitar a dor da perda, que ecoava incessantemente na minha mente.

Apesar de ter conquistado muitas coisas materialmente e ter alcançado um sucesso financeiro significativo, percebi que ter todas as riquezas do mundo não preenchia o vazio deixado pela perda daquela pessoa especial. O dinheiro permitia-me realizar todos os meus desejos, como fazer uma viagem extraordinária pelo mundo, encomendar uma Ferrari exclusiva para mim ou ter todas as mulheres que eu quisesse. No entanto, compreendi que esses prazeres efêmeros não traziam uma felicidade duradoura.

A verdadeira felicidade, descobri, reside no amor genuíno. É ter alguém que corresponda aos nossos sentimentos, que nos trate com respeito, mesmo quando há desentendimentos. No casamento, é natural que ocorram brigas, pois é a própria natureza humana. Não há perdão sem discussão. Quando dois indivíduos discutem, é porque se importam um com o outro. E o belo disso é que, mesmo desejando o divórcio, ambos percebem o quanto se amam verdadeiramente.

Assim, aprendi que o verdadeiro valor está nas relações afetivas, no amor e na compreensão mútua. Não importa quão rica seja uma vida material, se não houver o amor verdadeiro, o dinheiro e os luxos perdem seu significado. Aprendi a valorizar o amor e a buscar a felicidade nas conexões humanas, sabendo que é nelas que encontramos o verdadeiro sentido da vida.

Marion estava em seu quarto quando sua mãe, Eduarda, bateu na porta e pediu permissão para entrar. Ele prontamente permitiu sua entrada, mas sua mãe se desculpou pela falta de costume em relação ao novo hábito de bater na porta. Marion respondeu com um tom de humor, comparando-se ao seu irmão e seguindo os exemplos da família.

Eduarda lembrou-se de um episódio em que entrou no quarto de Marion sem bater e ele ficou furioso, argumentando que estava no auge do namoro com Cintya na época. Marion relembrou o ocorrido, mas reconheceu que a situação foi consequência de trazer Cintya para casa sem trancar a porta. Sua mãe justificou que ficaram preocupados por deixar dois adolescentes sozinhos em casa, mas Marion afirmou que foi uma experiência legal.

Em seguida, Marion perguntou sobre a chegada de seu pai, e Eduarda informou que ele retornaria no dia seguinte pela manhã. Marion expressou sua vontade de encontrá-lo no aeroporto, mas sua mãe o tranquilizou, dizendo que teria muito tempo para matar a saudade depois que ele saísse do trabalho.

O pai de Marion estava voltando para casa após uma viagem ao Brasil para tratar de um assunto pessoal que não revelou a ninguém. Eduarda achou estranha essa atitude e tentou obter mais informações, mas ele preferiu não contar o motivo real da viagem.

Eduarda mencionou o primeiro dia de trabalho de Marion, elogiando sua inteligência e facilidade em ensinar e lidar com crianças. Ela relembrou como Marion ajudou pacientemente seu irmão Antônio, que tinha dificuldades em ler, e o protegia quando era ridicularizado.

Marion ficou com um olhar triste ao mencionar seu irmão, dizendo que precisava visitá-lo na clínica, pois ele parecia estar piorando. Antônio ainda se sentia culpado pela morte de Cintya, ocorrida dois anos atrás, quando perdeu o controle do carro ao tentar fugir de assaltantes. Ele sofreu um acidente, bateu a cabeça no volante e perdeu a memória, sem recordar como tudo aconteceu ou quem causou o acidente.

Eduarda tentou consolar Marion, dizendo que ele encontraria outra pessoa, mas ele expressou sua incerteza. Sua mãe afirmou que tinha certeza de que ele encontraria alguém, pois um coração de mãe não se engana. Marion concordou, reconhecendo essa certeza. Eduarda despediu-se, pois estava ficando tarde e Marion precisava descansar para o trabalho do dia seguinte. Ele agradeceu e desejou a ela uma boa noite.

Apesar das adversidades que Marion enfrentava em sua vida, ele tentava manter-se forte. Após se despedir de sua mãe, ele a abraçou e a acompanhou até a porta, mostrando o amor e a conexão que ainda existiam entre eles. O coração de Marion carregava a dor da perda de quem mais amava, seu irmão lutando contra um distúrbio mental e a busca por justiça pelo acidente que tirou a vida de Cintia.

A investigação policial em andamento e a lentidão da justiça causavam frustração em Marion, mas ele tentava se concentrar em sua vida cotidiana. No dia seguinte, teria seu primeiro dia de trabalho como professor e estudante de Educação Física. No entanto, as preocupações com as investigações e o futuro incerto afetavam sua concentração.

Ele decidiu ir até a cozinha e se servir de suco de laranja para refrescar a mente. Enquanto bebia, pensava em como seria seu primeiro dia de aula e as dificuldades que poderia enfrentar. Como lidar com alunos rebeldes ou com situações de bullying? Marion se comprometeu a ser um professor legal, o tipo de professor que os alunos gostariam de ter. Ele não queria ser o estereótipo de um professor chato de Educação Física, mas sim alguém que os deixasse à vontade, fosse brincalhão e solícito para tirar todas as dúvidas que surgissem.

Seus planos incluíamorganizar torneios esportivos e competições para atender a todos os gostos einteresses dos alunos. Marion desejava criar um ambiente onde todos sesentissem à vontade e valorizados em suas aulas. Ele tinha a esperança de que,ao desempenhar seu papel como professor de forma exemplar, conseguiria deixaruma marca positiva na vida de seus alunos, mesmo que enfrentasse desafiospessoais em seu caminho

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