Amor e Ódio

Capítulo 37

No cenário meticulosamente planejado, a tensão pairava no ar como uma nuvem densa, carregada com segredos sombrios e intenções obscuras. Ele, o arquiteto de uma intrincada trama, estava mergulhado em um conhecimento íntimo das peças do quebra-cabeça que estava prestes a ser montado. Cada movimento, cada detalhe, estava coreografado com uma precisão que apenas um mestre de marionetes poderia alcançar.

Enquanto Marion, alheio ao esquema que estava se desdobrando, estava na delegacia para saber o motivo da exumação do corpo de Cintia, ele saiu de sua residência como uma sombra se desprendendo da escuridão. A mochila recheada de dinheiro, o fruto de um roubo maquiavelicamente executado, estava a postos, esperando para ser usado como peça-chave dessa sinistra encenação.

Sua máscara branca, uma assinatura de sua identidade oculta, cobria o rosto frio e impassível. Um símbolo de anonimato, uma barreira entre o homem e o mundo ao seu redor. Ele estava prestes a se tornar o fantasma que se movia nas sombras, operando nos bastidores enquanto a história se desenrolava.

A jornada o levou até a morada de Marion, onde o destino dos dois estava entrelaçado de maneira traiçoeira. Uma chave mestra girou na fechadura, e a porta cedeu, como se a própria casa reconhecesse o invasor. Ele cruzou o limiar e adentrou o território alheio, um invasor que se movia com a destreza de um predador à espreita.

As escadas foram escaladas sem hesitação, cada degrau trazendo-o mais perto do seu objetivo. O quarto de Marion se materializou diante dele, um santuário pessoal agora profanado por sua presença indesejada. O guarda-roupa, um cofre de segredos, foi aberto, e ali, como um oferecimento macabro, ele colocou a mala repleta de dinheiro roubado, um lembrete silencioso da traição perpetrada.

Mas não era tudo. Junto à fortuna ilícita, ele colocou uma arma de contornos sinistros. Era a mesma arma que havia desferido o golpe fatal contra Pedro, uma testemunha silenciada, e que também havia roubado a vida de Cíntia, deixando um rastro de dor e mistério em seu rastro. Era a conexão entre as tragédias, a peça que selava a trama, uma prova incriminatória cuidadosamente posicionada.

O executor de tudo isso saiu da cena como um espectro, desaparecendo nas sombras da noite que pareciam abraçá-lo. O palco estava montado, os elementos de uma narrativa complexa estavam alinhados, aguardando o desenrolar de um enredo cruel e inexorável. E enquanto Marion seguia para a delegacia, inconsciente da teia de traições e enganos que o envolvia, o arquiteto dessa história macabra sabia que os fios estavam a ponto de serem puxados, revelando um quadro terrível de manipulação e crime.

Logo em seguida, o telefone de Tony Tocou e no segundo toque ele atendeu:

- Alô?

- Está tudo pronto, agora basta apenas um toque seu, só mandar as viaturas para casa dele, para que possa investigar tudo, a arma do crime o dinheiro esta todo dentro da casa.

- Está certo, já o farei. Disse Tony com expressão triste e séria.

- lembra-se, você não tem escolha, se eu cair, você também cai.

- eu sei, não se preocupe, já irei mandar André para lá.

Parte 2

O céu, anteriormente sereno, havia se transformado em um mar de nuvens carregadas, despejando sua melancolia em forma de chuva sobre a cidade. Marion, ainda abalado pela sua recente passagem pela delegacia e pela situação angustiante em que se encontrava, dirigia com olhos preocupados fixados na estrada à sua frente. O tamborilar das gotas de chuva no para-brisa parecia ecoar seus próprios sentimentos tumultuados.

Enquanto as lágrimas do céu se misturavam com as lágrimas internas de Marion, o telefone celular rompeu o silêncio do carro. A luz da tela iluminou o interior do veículo enquanto ele atendia. A voz trêmula e soluçante do outro lado da linha pertencia ao seu pai, e as palavras que ecoaram através do fone de ouvido carregavam um peso inimaginável.

- "Pai? O que está acontecendo?" Marion indagou com uma mistura de ansiedade e apreensão.

A voz triste do pai respondeu, cortando como uma faca afiada:

-"Marion, venha para casa agora, é urgente."

A condução se tornou frenética, cada curva e cada reta no asfalto molhado pela chuva eram trilhadas com um senso de urgência que só o desespero podia instilar. A casa dos pais de Marion surgiu à sua frente, e ele estacionou o carro com um arremesso de freios. Saltando do veículo, ele correu pela chuva, que já havia transformado suas roupas em um emaranhado de tecido molhado.

A porta da casa se abriu diante dele, revelando um cenário de tristeza e dor. Seu pai estava de pé, os olhos vermelhos e inchados pelo choro incessante. Sua mãe estava sentada no sofá, lágrimas escorrendo por seu rosto. Marion entrou, todo encharcado, o coração apertado com a incerteza do que estava por vir.

- "Papai, mamãe, o que aconteceu?" ele implorou, a angústia em sua voz transbordando.

O pai de Marion fez uma pausa, tentando encontrar forças para dizer as palavras que mudariam tudo:

- "Antonio... ele... ele tirou a própria vida, Marion."

O impacto das palavras foi como um soco no estômago. A respiração de Marion vacilou e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele mal conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir. O irmão que ele conhecia, o irmão com quem cresceu, tinha tomado uma decisão tão drástica.

Marion sentiu um nó em sua garganta enquanto as lágrimas se misturavam com a chuva em seu rosto. Ele se aproximou de seus pais, e juntos, eles compartilharam um momento de luto e desespero, abraçados pela dor que os unia.

A chuva continuava a cair lá fora, como se o próprio céu estivesse chorando em solidariedade. A tragédia tinha lançado uma sombra sobre aquele dia já sombrio, conectando o tumulto interior de Marion com a devastação que sua família enfrentava. E ali, naquele momento de profunda aflição, eles buscaram conforto uns nos outros, sabendo que a estrada à frente seria difícil, mas que enfrentariam juntos a tempestade que se desenrolava em suas vidas.