Capítulo 38

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Com um coração pesado e uma mente em turbilhão, ele lutava para rearranjar os fragmentos de pensamentos que pareciam escapar de seu controle. A pergunta incessante ecoava em sua mente, como um eco incessante de angústia: por que? Por que seu próprio irmão havia decidido encerrar sua vida de maneira tão trágica e irrevogável? Era uma questão que se enroscava em sua mente, sem dar trégua, sem fornecer respostas que pudessem trazer alguma compreensão para aquela dor lancinante.

Fisicamente ileso, seu irmão parecia ter se colocado diante do abismo do desespero sem que ninguém pudesse perceber. Ele estava prestes a seguir adiante, a abraçar a vida, apesar das tormentas que a vida havia lançado em seu caminho. As cicatrizes, as adversidades, tudo estava destinado a ser superado, pois ele se mantinha firme em sua resolução. No entanto, mesmo com essa disposição corajosa, ele não podia ignorar o vazio deixado pela ausência das memórias da fatídica noite que ceifou a vida de Cintya. Os tratamentos, as tentativas incansáveis, tudo em vão para trazer à luz o que permanecia obscurecido nas sombras do esquecimento.

E assim, Marion, resignado e cansado da busca infrutífera, optou por abandonar a trilha que o levaria a descobrir mais sobre seu irmão e os eventos sombrios que o cercaram. Era hora de seguir em frente, de deixar para trás o peso do passado e direcionar sua visão para o futuro incerto, embora esse gesto de renúncia não pudesse dissipar a sensação de injustiça que se enraizara profundamente em seu âmago. A busca por justiça parecia uma esperança vã, uma vez que aqueles responsáveis ​​pela morte de Cintya permaneciam impunes.

A aversão de Marion pela leitura cedeu espaço a uma nova perspectiva, tudo graças a Cintya, cuja influência benevolente permanecia mesmo em sua ausência. Ele se viu perdido nas páginas de livros, encontrando consolo e identificação nas palavras dos escritores renomados como Harlan Coben e Nicholas Sparks. As histórias que ele devorava refletiam sua própria jornada de perda e luto, especialmente "À Primeira Vista", onde a dor de um personagem pela perda da esposa ecoava sua própria realidade. Através desses relatos fictícios, ele encontrou uma forma de dar voz a suas emoções enterradas e um meio de se conectar com o sentimento de perda que o assolava.

A amargura se agarrava a ele como uma sombra insaciável, e o desespero o envolviam como um manto sufocante. No entanto, mesmo no auge de sua própria dor, ele lutava para ser a âncora da sua mãe, que estava mergulhada em lágrimas e soluços incessantes. A iminência do enterro de seu irmão, um último adeus repleto de dor, pairava como uma sombra sobre eles. Eles sabiam que teriam que reunir forças, enfrentar esse momento terrível com uma coragem que parecia estar em falta.

A noite, implacável, lançou sua escuridão sobre eles, alimentando os pesadelos e os pensamentos inquietos. No entanto, com o passar das horas, a exaustão finalmente os venceu, e eles se renderam ao sono, encontrando um breve refúgio das tormentas emocionais que os assolavam.

Parte 2

Os primeiros raios do sol começavam a derramar-se sobre o quintal, pintando o cenário de tons suaves de dourado e laranja. Marion, com o peso da morte em seus ombros, caminhou silenciosamente pela cozinha, preenchendo a cafeteira com grãos de café enquanto sua mente continuava a girar em torno das questões insuperáveis. Uma xícara de café quente em suas mãos trêmulas, ele se dirigiu ao quintal, buscando o conforto do amanhecer que muitas vezes o ajudava a clarear seus pensamentos mais sombrios.

Enquanto os primeiros raios de luz se estendiam pelo horizonte, ele se viu imerso em um turbilhão de pensamentos, incapaz de compreender a decisão de seu irmão de pôr fim à própria vida. O cantar melodioso dos pássaros que pairavam nas árvores parecia uma antítese cruel à escuridão que dominava seus pensamentos. Cada trinado era como um sussurro suave que lhe dizia para encontrar paz na beleza do mundo, mesmo quando a dor parecia insuportável.

Enquanto ele estava mergulhado nessa contemplação, seu pai apareceu silenciosamente e se sentou ao seu lado, compartilhando o mesmo olhar distante para o horizonte. Um silêncio compartilhado entre pai e filho falava volumes, uma compreensão tácita de que as palavras eram insuficientes para expressar a profundidade da tristeza que os unia.

Finalmente, Marion quebrou o silêncio, sua voz carregada de tristeza e confusão:

- Pai, como ele pôde fazer isso? Como o Antonio poderia interromper tudo assim?

Seus olhos procuravam nos traços do pai por alguma resposta, algum vislumbre de entendimento que ele próprio não conseguia alcançar.

Seu pai suspirou, olhando para o café em suas mãos, como se buscasse nas nuvens de vapor alguma resposta que ele também não possuía.

- Ele se enforcou, filho, disse o pai, sua voz embargada.

- Não consigo entender. Ele estava melhor, pronto para deixar a clínica. Mas alguma escuridão o dominou, algo que não conseguimos compreender.

Marion abaixou o olhar, as rugas de frustração marcando sua testa.

- Parece tão injusto, pai. Por que ele não nos procurou? Por que ele não pediu ajuda?"

Seu pai colocou uma mão reconfortante em seu ombro.

- Eu sei, filho. Mas às vezes, as batalhas que travamos dentro de nós mesmos são as mais difíceis de compartilhar.

Os cantos de suas bocas caídas, eles compartilharam um momento de solidariedade em face do inexplicável. Após um tempo de reflexão, Marion ergueu o olhar e encontrou os olhos do pai.

- Temos que nos preparar para o sepultamento, disse ele, a determinação em sua voz mal conseguindo mascarar a tristeza. - Ele merece uma despedida digna."

Seu pai assentiu, as palavras desnecessárias no momento. Juntos, eles se levantaram, uma unidade frágil mas unida diante da dor avassaladora. Com o sol se elevando acima do horizonte, eles se dirigiram de volta para a casa, prontos para enfrentar a tarefa mais difícil que ainda estava por vir.

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