Amor e Ódio

Capítulo 4

A caminho da escola, Marion dirigia seu fusca 1961, impecavelmente restaurado, e decidiu parar em um posto de gasolina para abastecer. O carro era um tesouro que ele havia adquirido com muito amor e cuidado, já que era o mesmo fusca que pertencera a seu falecido avó. Apesar de ter recursos financeiros para comprar um veículo mais moderno, Marion sentia um vínculo emocional especial com aquele fusca.

Determinado a preservar a herança de seu avó, Marion optou por realizar uma reforma completa no carro. Ele escolheu uma bela tonalidade de azul, semelhante ao céu, para pintar a carroceria. Os vidros foram substituídos por novos e transparentes, e Marion instalou pneus e rodas de alta qualidade. Todos os acessórios do veículo eram originais da Volkswagen. Para completar o charme retrô, Marion acrescentou bancos de couro e, como cereja do bolo, um tocador de fitas, um verdadeiro tesouro que já não era mais fabricado.

O resultado final era espetacular. O fusca reluzia onde quer que Marion passasse, atraindo olhares e elogios de todos ao redor. As pessoas exclamavam: "Nossa, que carrinho lindo!" Era evidente que o cuidado e a paixão investidos na restauração transformaram aquele fusca em um verdadeiro encanto sobre rodas.

No entanto, nem tudo eram flores. Sempre havia alguns engraçadinhos prontos para fazer piadas, e um deles era Garret, o vizinho de Marion. Garret, quase chegando aos trinta anos, conhecia Marion desde a adolescência, quando os dois estudavam juntos. Apesar disso, eles nunca foram muito próximos. Ao notar o fusca brilhando no posto de gasolina, Garret não resistiu e decidiu contar uma piada.

- Marion, seu fusquinha é tão antigo que, quando você liga o toca-fitas, o rádio acha que está em uma expedição arqueológica!

Ambos riram da piada, e Marion respondeu de forma descontraída:

- Garret, você só está com ciúmes porque meu fusca tem mais estilo e personalidade do que o seu carro novo! Além disso, ele é uma verdadeira relíquia, carregando memórias especiais da minha família.

Eles continuaram a conversar e a brincar um com o outro enquanto seguiam para a escola, cada um desfrutando da singularidade de seus veículos e da amizade que, mesmo discreta, havia perdurado ao longo dos anos.

Seguindo em frente, Marion dirigiu até a escola com uma velocidade empolgante. Embora o fusca não fosse conhecido por sua rapidez, Marion havia turbinado o motor, transformando-o em um carro ágil. Acelerando pelas ruas, ele sentia a emoção de cada curva e cada reta.

Enquanto dirigia, Marion sintonizava seu estilo de música favorito: o rock. Essa escolha musical o ajudava a se concentrar em outras coisas e afastar Cintya de sua mente. No interior do carro, as batidas energéticas de "Quiet Riot" ecoavam, cantando "Cum on feel the noize". A tradução da música para o português seria assim:

As poderosas guitarras e a energia contagiante da música preenchiam o fusca, impulsionando Marion a aproveitar cada momento da sua jornada. A letra da música o incentivava a viver intensamente e a deixar para trás qualquer preocupação que o assombrasse.

Com os cabelos ao vento e o som do rock pulsando, pronto para enfrentar o dia com entusiasmo e determinação. A música continuava a tocar em sua mente, guiando-o em direção a novas aventuras e lembrando-o de que, mesmo diante das dificuldades, ele poderia encontrar forças para seguir em frente.

Marion sentia a adrenalina percorrer sua pele, fazendo os pelos dos braços se arrepiarem ao ritmo da música. Com o volume no máximo, ele cantava alto enquanto dirigia, passando por uma ponte móvel e apreciando as belas montanhas ao redor.

No entanto, um motorista embriagado se aproximou em alta velocidade, desrespeitando todas as normas de trânsito. O indivíduo estava na contramão, colocando em risco a segurança de todos. Marion teve que desviar rapidamente, quase perdendo o controle do carro. A situação provocou uma mistura de raiva e susto dentro dele.

Para acalmar os ânimos e deixar a tensão para trás, Marion decidiu trocar a música. Ele optou por ouvir suas músicas românticas favoritas, afinal, o rock o deixava agitado. Agora ele buscava algo mais calmo para relaxar. Muitas dessas músicas traziam à tona lembranças de Cintya, a mulher bonita, inteligente, simpática e amorosa que ele tanto amava.

Cintya era uma jovem de pele morena clara, cabelos que alcançavam os ombros e um sorriso encantador. Marion se deixava envolver pelas memórias dos beijos, abraços e noites de amor que compartilharam. Essas lembranças surgiam naturalmente, sem que ele as forçasse. Qualquer coisa no seu cotidiano era capaz de fazer com que ele pensasse nela, desde uma música até momentos cotidianos, como o trabalho, a faculdade, o parque, a academia ou o pôr do sol. Até mesmo um simples quadro de arte poderia desencadear recordações dela.

Ele sabia que a distância e a saudade eram fontes de sofrimento, fazendo-o chorar. Porém, nada neste mundo poderia fazer com que ele a esquecesse. Cintya estava enraizada em seu coração, e mesmo com as dificuldades, ele mantinha viva a esperança de estar novamente ao lado dela um dia.

Até que no seu toca fitas tocou uma música que era um verdadeiro poema de amor que dizia:

Enquanto Marion dirigia, uma música começou a tocar em seu tocador de fitas, enchendo o carro com um verdadeiro poema de amor. A melodia carregava palavras que ecoavam em seu coração:

Todas as manhãs quando eu acordo, eu me lembro de você

Todos os momentos do meu dia não consigo te esquecer.

Diga meu amor, o que é que eu faço pra não me lembrar do

seu abraço, eu preciso te esquecer.

Entro no meu carro e ligo o rádio, e uma canção me traz você,

Tudo que eu vejo de bonito se parece com você.

Diga, meu amor, o que eu faço,

preciso arrebentar de vez os laços que me prendem a você.

Chuva fina no meu para-brisa, vento de saudade no meu peito,

visibilidade distorcida por uma lágrima caída pela dor da solidão.

Sempre nos lugares aonde vou, alguém pergunta por você,

paro no sinal, e olho a rua na esperança de te ver.

Diga, meu amor, o que eu faço,

tudo faz me lembrar de você por onde passo,

eu preciso, preciso te esquecer.

Essas palavras ressoavam profundamente em Marion, trazendo à tona a intensidade de seus sentimentos por Cintya. A música descrevia de maneira comovente o desejo de libertar-se dessa lembrança constante, buscando uma forma de superar a dor da separação. A chuva fina no para-brisa e o vento da saudade no peito refletiam a angústia que ele carregava.

A visibilidade distorcida pelas lágrimas que escorriam mostrava a tristeza e a solidão que o envolviam. A cada lugar que visitava, alguém perguntava por Cintya, o que aumentava a sensação de sua presença constante em sua vida. No entanto, mesmo parando nos sinais e olhando pela rua, a esperança de vê-la novamente era apenas uma ilusão.

As palavras da música expressavam o anseio de Marion por encontrar uma maneira de se desvencilhar dos laços que ainda o prendiam a Cintya. Cada momento do seu dia e tudo ao seu redor pareciam conspirar para lembrá-lo dela. Ele reconhecia que precisava, de alguma forma, esquecer, seguir em frente e buscar a cura para essa dor que o consumia.

Enquanto a música ecoava no carro, Marion se via imerso em seus próprios pensamentos, confrontando a difícil tarefa de tentar esquecer alguém que havia marcado tão profundamente sua vida.

Quando a carga emocional se tornou insuportável, Marion desligou o som do carro e parou em um acostamento. As lágrimas não paravam de correr, e a raiva se acumulava dentro dele. Desesperado, ele desferiu golpes no capô do carro, descarregando toda a sua frustração. A intensidade era tamanha que suas vistas escureceram, e ele acabou desabando inconsciente no chão.

Ali, à beira daestrada, Marion sucumbiu à dor que o consumia. O impacto do amor perdido e asaudade avassaladora o levaram a um estado de completa exaustão emocional. Nochão, ele jazia como um reflexo da sua alma machucada, esperando que o tempo ea própria vida lhe dessem forças para se reerguer novamente