Amor e Ódio

Capítulo 20

Marion deitou-se em sua cama, imerso em um cenário silencioso e sombrio. A penumbra do quarto criava uma atmosfera pesada, a qual refletia perfeitamente a carga emocional que seu pai carregava. Seus pensamentos giravam em torno das palavras cruéis que seu pai lhe dissera, palavras que reavivavam a dolorosa memória daquela fatídica noite.

As palavras do pai ecoavam em sua mente, trazendo à tona a lembrança da tragédia que assolara a família dele. Ele se culpava pela morte de todos que amava, sentindo o peso da responsabilidade esmagadora que carregava consigo. Era um fardo difícil de suportar, e Marion sabia disso, e pelo exemplo do pai ele decidiu também que chegara o momento de confrontar a sua dor e seguir em frente.

Com uma mistura de tristeza e determinação, Marion abriu a gaveta da mesinha ao lado de sua cama. Seus olhos se fixaram em uma carta que ele havia escrito para Cintia, uma pessoa que ocupava um lugar especial em seu coração. Aquela carta era uma expressão dos sentimentos mais profundos que Marion guardava para si mesmo, um testemunho do amor e da dor que ele tinha vivenciado.

Por algum motivo, Marion nunca havia entregado aquela carta. Talvez o medo da rejeição ou a dificuldade em lidar com suas próprias emoções tivessem impedido que ele compartilhasse aqueles sentimentos com Cintia. No entanto, naquele momento de reflexão e aceitação, ele sabia que era hora de encarar a verdade e buscar a cura.

Com as mãos trêmulas, Marion abriu a carta e começou a reler suas palavras. Cada linha era um retrato vívido de seu amor, sua dor e sua esperança. Ele sentia o coração apertado, uma mistura de nervosismo e alívio ao imaginar a reação de Cintia ao ler aquelas palavras.

Enquanto as lágrimas rolavam por suas bochechas, Marion percebeu que aquela carta era um passo crucial em sua jornada de cura. Era um símbolo de coragem e vulnerabilidade, uma maneira de abrir seu coração e buscar a reconciliação com o passado.

Com um suspiro profundo, Marion prometeu a si mesmo que, depois de enfrentar a dor e a perda, ele encontraria a força para seguir em frente.

A carta dizia:

Querida Cintya:

"Escrevo estas palavras cheias de amor e sinceridade, buscando expressar o tamanho do sentimento que habita em meu coração. É difícil compreender a magnitude desse amor, pois ele ultrapassa todas as fronteiras do entendimento humano. Às vezes, me preocupo que esse amor cresça tanto dentro de mim, que não haja mais espaço em meu peito para contê-lo. Parece que ele transbordaria e alcançaria o universo com toda a sua energia dinâmica. É um amor tão imenso que apenas Deus, em sua onipotência, pode compreender. Esse amor nasceu do infinito, da mesma essência que criou o céu, as estrelas, o mar e tudo o mais. Nunca deixarei de amar você, mesmo que minha vida se estenda até a eternidade.

Ontem, enquanto contemplava o céu estrelado, maravilhado com a beleza de cada estrela, percebi que nenhuma delas brilhava com o mesmo esplendor e encanto do teu sorriso. Essa imagem não sai de minha mente e de meu coração. Sinto uma angústia indescritível quando olho para o meu celular e não encontro nenhuma mensagem tua em minha caixa de entrada. Se um dia causei sofrimento a você, fique tranquila, pois farei de tudo para que a dor passe. Cantarei as mais belas canções só para ver seu sorriso, mesmo que você escolha partir, eu compreenderei e cantarei para mim mesmo, buscando forças para seguir em frente. No entanto, temo o dia em que possa nunca mais te ver.

Enquanto escrevo esta carta e ouço a música de nossa história, observo a janela do meu quarto e penso que está chovendo, mas percebo que é apenas o reflexo de meus pensamentos. Sinto tanto a tua falta. Quero que saiba que você é minha melhor amiga, e se um dia você se sentir sem ar, eu te darei o meu. Se você se sentir sozinha, basta me chamar, eu te escutarei, mesmo que não possa te ver. Entre tantas coisas que já perdi, guardo na memória aquele momento mágico de abril, quando seu olhar triste se eternizou em mim. Perdoe-me, meu amor, perdoe meu ciúme obsessivo. Você será para sempre o grande amor da minha vida, mesmo que os anos passem e eu fique velho, meu amor por você nunca diminuirá.

Te amo, Cintya. Quero que volte logo para casa, para que eu possa cuidar de você, da nossa vida juntos. Quero presenciar suas brigas e até mesmo as pancadas que você me dá quando deixo a toalha de banho em cima da cama. Estou ansioso para levar você aos exames pré-natais do nosso filho, montar o quarto e o enxoval do bebê, levá-lo à escola, comprar todos os materiais escolares. Quero ver nosso filho se formando. São essas pequenas coisas que dão sentido à vida. Você será minha eterna princesa. Agora, sinto-me como um pássaro com a asa machucada, tentando voar e não conseguindo, levantando-se novamente, tentando mais uma vez, caindo outra vez e se machucando. Mas nunca desistirei de você. Mesmo estando distante, sinto você aqui dentro de mim, pulsando vinte e quatro horas por dia. Te amo como nunca antes.

Quero viver esses momentos contigo, meu amor. Para sempre vou te amar.

Com todo o meu coração,

Marion

Marion terminou de ler a carta com os olhos marejados de emoção. Sentiu um misto de alívio e apreensão ao expressar seus sentimentos mais profundos em palavras. Com cuidado, ele dobrou a carta com delicadeza, como se estivesse guardando um tesouro precioso.

Caminhando pela casa em direção à cozinha, Marion sentiu um nó na garganta. Era um momento de transição, um adeus simbólico ao passado doloroso e um passo em direção ao futuro. Ele sabia que precisava seguir em frente, mas antes queria encontrar a caixa que continha as outras cartas e fotos com Cintia, uma caixa repleta de lembranças e momentos compartilhados.

Ao sair pela porta dos fundos, Marion sentiu a brisa suave acariciar seu rosto, trazendo um alívio momentâneo. O quintal da casa parecia mais calmo e tranquilo, um refúgio seguro para suas emoções turbulentas. Ele caminhou com determinação, procurando pela caixa que guardava o passado que ele estava prestes a deixar para trás.No entanto, ao vasculhar os cantos do quintal, Marion não conseguiu encontrar a caixa. Seu coração se apertou de decepção, incerteza e medo.

A mente de Marioncomeçou a se encher de perguntas angustiantes. Onde a caixa poderia estar? Seráque alguém a havia encontrado e levado embora? Ou talvez ele mesmo tivesseguardado em algum lugar desconhecido? O pavor de perder essas lembranças tãovaliosas começou a se manifestar em seu peito, como uma sensação desufocamento.Cada passo incerto e cada olhar desesperado ao redor do quintalalimentavam o suspense que envolvia a situação. O silêncio do ambiente pareciaecoar em seus ouvidos, aumentando a tensão e a sensação de que algo importanteestava prestes a ser revelado