Capítulo 5 - Eu entrei no livro

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- Quem efetuou o disparo?

- O quê? – fingi que não havia escutado direito e logo coloquei um pouco de arroz na boca.

- Eu quero que a senhorita me diga quem atirou na senhorita Simons.

- E por que você acha que eu sei? – abri um sorriso amarelo antes de colocar mais comida na minha boca.

- A senhorita sabe até quando o responsável pelo disparo será preso, acredito que saiba quem ele é – Soluço me encarou intensamente, com certeza ele esperava que aquele olhar me deixasse intimidada, mas o efeito foi outro, eu simplesmente comecei a sentir borboletas no estômago.

Eu sei, é ridículo, eu, uma mulher de 25 anos, com borboletas no estômago por causa de um olhar. Com certeza eu não estava nada bem.

- Estou esperando a resposta senhorita.

- Eu não sei quem atirou – tentei parecer convicta, a verdade é que eu sabia muito bem, mas era melhor eu não falar nada.

Vai saber o que eu estava fazendo na vida real né? Se eu estivesse mesmo tendo uma alucinação, eu podia muito bem estar escrevendo no blog da editora no meio do meu surto, e Cami iria me matar se eu revelasse aos leitores quem era o assassino já no segundo capítulo.

- Mas a senhorita disse sobre o futuro – ele parecia confuso.

- Eu sei que vão demorar prender ele, mas não sei quem é, essa história de ver o futuro não é tão simples – disse o mais sincera possível, torcendo para que ele acreditasse.

- Acredito que a senhorita não teria motivos para mentir, estou certo? – ele arqueou uma sobrancelha.

- Como sempre, você está certíssimo – estiquei os braços e bocejei – estou morrendo de sono, então acho que vou dormir.

Soluço logo se levantou e puxou a cadeira para mim, era tão fofo.

- Eu lhe acompanho.

- Não precisa – respondi rápido – eu me lembro do caminho, até amanhã Soluço.

Corri para o quarto, não queria correr o risco de ele me fazer mais perguntas, não sabia se conseguiria mentir para ele.

Ao entrar no quarto, percebi que havia algumas roupas na cama, provavelmente Agatha as teria levado enquanto eu jantava, mas é claro que preferi continuar com as minhas, eram mais confortáveis e muito mais bonitas do que aquela camisola bege gigante e de mangas compridas que estava estendida na cama.

Fui até uma pequena mesa que estava em um canto de uma das paredes, em cima havia uma bacia, uma jarra com água, uma escova dental pré-histórica e uma espécie de creme viscoso, que acredito eu, era usado como creme dental. Fiz uma escovação horrível, mas era o que dava para fazer no momento.

Mal me deitei na cama e já adormeci, estava muito cansada. Acordei no dia seguinte com dores por todo o corpo, não sei do que era feito o colchão, mas era super duro e desconfortável.

Lavei o rosto com a água da jarra e vesti o mesmo vestido que havia usado no dia anterior antes do festival. Não sabia quanto tempo duraria a alucinação, então preferi deixá-la o mais real possível. Eu sei, com certeza tinha enlouquecido de vez.

Fiz um coque frouxo no cabelo e saí do quarto, fui até a sala de jantar e de lá segui por um corredor até chegar na cozinha, estava morrendo de fome, e olha que eu havia comida pra caramba no jantar.

Ao adentrar no cômodo vi Agatha e Emily cozinhando algo. Emily era uma das empregadas da casa, ela tinha apenas 18 anos, era uma órfã que Agatha cuidava e por isso a levou para trabalhar na casa, ela era apaixonada por Soluço, não podia julgá-la, eu no lugar dela também seria.

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