Capítulo 10 - Eu não estou brava

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Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo, o Soluço e a Heather estavam se beijando na minha frente.

De repente uma raiva misturada com tristeza se apossou de mim e ao invés de continuar andando em direção a eles, eu me virei e fui na direção contrária.

Eu nunca tinha me sentido daquela forma, pelo menos não que eu lembrasse, eu só queria socar a cara linda e perfeita do Soluço e quebrar aquele sorriso que fazia meu coração acelerar, queria também arrancar cada fio do cabelo maravilhoso da Heather e queria arrastar a pele macia dela naquele chão de terra e cheio de pedras.

Conforme eu andava, os pensamentos violentos em minha mente aumentavam, eu que jurei salvar vidas estava imaginando como tirar uma. Não pensem que eu sou uma assassina, foi só na hora da raiva.

Não sei como consegui andar, afinal, eu estava morta de cansaço e de dor no meu corpo, mas quando percebi já havia saído da fazenda da Heather e caminhava por uma estrada de terra.

Meus olhos se encheram de lágrimas e mesmo eu lutando para que elas permanecessem nos meus olhos, algumas insistiram em escorrer pelo meu rosto.

Droga! Odiava chorar, ainda mais sem motivo.

Sim, para mim não tinha motivo nenhum, afinal, não era isso o que eu queria? Que o meu casal supremo se ajeitasse? Não fui eu quem empurrou o Soluço para cima da Heather e que insistiu que ele ficasse com ela?

Eu sempre quis ver os dois juntos e agora que eu tive a chance, a única coisa que eu queria era explodir alguma coisa, eu não entendia por que aquilo mexia tanto comigo, porque eu estava com tanta raiva.

Conforme os minutos foram passando, a adrenalina no meu corpo também, me fazendo sentir uma dor absurda, isso que dava, viajar para dentro de um livro logo após três plantões seguidos.

Soltei um grito de frustração enquanto encurvava a minha coluna e apoiava as minhas mãos nos meus joelhos.

- Eu não pedi para estar aqui – gritei para o nada – eu não quero ficar na porcaria desse livro, eu só quero ir para casa e dormir – falei a última parte mais baixo e em uma voz manhosa, mais uma vez as lágrimas tomaram conta do meu rosto.

Eu só queria dormir, deitar na minha cama macia e enorme e dormir aquele sono maravilhoso que faz a gente se sentir nas nuvens. Era pedir muito? Pelo jeito era, porque ao invés de eu aparecer no meu apartamento eu continuava naquela maldita estrada de terra e para piorar o sol estava mais quente que o próprio fogo. Exagerada nem um pouco.

Minhas pernas não tinham mais forças para continuar, porém, o sol me impelia a não parar, por sorte eu estava com meu jaleco o que impedia o sol de queimar a minha pele, porém, aumentava o calor. Eu olhei ao redor, não havia nada, nenhuma árvore que eu pudesse me encostar e aproveitar de sua sombra, nenhuma pedra para eu me sentar, nenhuma casa que eu pudesse pedir ao menos um copo com água, a minha única opção era continuar andando sem rumo.

O que me fazia lembrar de outro problema, eu não tinha para onde ir, a única casa que eu poderia ficar era a do Soluço e eu não queria ir para lá nem morta, não queria olhar na cara dele. Eu não sabia quanto tempo tinha passado no livro desde a minha volta para casa, mas o que eu sabia era que Soluço não estava nenhum pouco preocupado comigo, pelo contrário, ele estava preocupado em beijar a Heather.

Foi só pensar nisso que minha raiva voltou e dessa vez bem mais forte, eu só queria quebrar algo, de uma hora para outra eu esqueci da minha dor ou do meu cansaço, eu me sentia com uma energia enorme e eu só queria gastá-la quebrando os lindos e brancos dentes do Soluço.

Meu acesso de raiva foi interrompido por um barulho que já era familiar para mim, cascos de cavalos contra o chão.

Tentei apressar o passo, mas minhas pernas simplesmente se recusavam a obedecer meu cérebro, tentei sair da estrada de terra, mas não havia para onde eu ir, e desconfiava de que o cavalo seria mais rápido do que eu e me alcançaria facilmente.

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