Capítulo 39 - Como uma ponte

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Sabe quando você está presente em algum lugar, mas sente que está lá apenas em corpo, que sua mente e alma estão bem distantes? Quando tudo ao redor perde o foco e os seus sentidos parecem não funcionar direito? Você não consegue ver nada, não consegue ouvir nada, não consegue perceber nada. Era assim que eu estava.

Eu não tinha certeza do local onde eu estava, se eu estava sozinha ou com alguém, não conseguia saber se eu estava sentada ou em pé, nem se eu estava acordada ou dormindo. Tudo para mim era um borrão, nada importava a não ser a única frase que martelava minha mente: o Soluço morrerá em breve.

Essa única frase com apenas cinco palavras foi o bastante para fazer todo o meu mundo ruir. Em um segundo eu estava bem e no outro nada mais fazia sentido, era como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu coração, mesmo assim, nem com a dor no peito eu me importava, nada me importava, só o fato de que segundo a Gothi, o Soluço estava morrendo.

– Astrid – ouvi uma voz me chamando ao fundo, mas não me importei, continuei focada na única frase que tomava conta de todos os meus pensamentos.

– Astrid – ouvi meu nome de novo, dessa vez um pouco mais forte.

– Astrid? – mais uma vez, agora com a adição de um toque em minha mão.

Balancei minha cabeça de um lado para o outro, recuperando o foco, me virei e percebi que tanto Soluço como Eret me olhavam preocupados.

– Você está bem? – Soluço me perguntou, foi quando percebi que o toque que senti, era sua mão na minha.

– Sim, estou – forcei um sorriso – falaram alguma coisa?

– Eu estava falando sobre os exames do Soluço – Eret respondeu – não encontrei nada de errado, os exames dele estão ótimos, nem parece que ele levou uma facada e passou por uma cirurgia.

– Então qual deve ter sido a causa do desmaio? – Soluço voltou sua atenção para Eret.

– Pelo que eu soube, tiveram um dia agitado ontem, talvez seu corpo esteja tentando se adaptar ao mundo real, então minha orientação médica é que vão devagar, não se esforce muito, repouse sempre que possível e coma comidas saudáveis – Eret disse a última parte me encarando.

– Não entendi seu olhar, eu sempre como comidas saudáveis – disse de forma inocente.

– Claro e eu vivo na era viking – falou sarcástico.

– Então eu posso ir embora? – Soluço perguntou.

– Sim, está liberado, mas se sentir algo pode me procurar, sei que tem uma médica exclusiva, mas eu continuo sendo o seu médico.

– Obrigada Eret! – abri um leve sorriso que ele logo retribuiu.

– Obrigado, doutor! – Soluço apertou a mão de Eret e saímos da sala.

– Como você está se sentindo? – perguntei ao Soluço após sairmos do consultório.

– Estou ótimo e você? Não parece muito bem – ele franziu o cenho.

– Estou, só estou um pouco cansada.

– Então vamos para casa – ele voltou a segurar a minha mão.

Assenti e começamos a andar em direção ao elevador, quando ele abriu, fomos surpreendidos por um homem acompanhado de uma criança.

– Eu..preciso..de..um...médico – o homem falava com dificuldade e estava com a pele azulada.

– O senhor está bem? – perguntei preocupada.

– Dor – foi a única coisa que ele disse enquanto levava a mão ao peito.

Antes que você se vá...Onde histórias criam vida. Descubra agora