Capítulo 12 - Nada disso é real

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Sabe quando sua atenção está em um algo específico e tudo ao seu redor some? Tudo perde o foco? Você vê o vulto das pessoas ao redor, você escuta as vozes distantes, mesmo que quem esteja dizendo esteja ao seu lado; você parece estar sozinha, mesmo estando cercada por muitos.

Era assim que eu estava naquele momento, minha atenção estava toda voltada para o livro no meu armário, eu não conseguia ouvir o barulho dos médicos correndo no corredor, não conseguia reparar na luz forte do vestiário, do barulho da televisão que estava ligada, eu não reparava em nada, apenas no livro.

Eu não conseguia acreditar que eu estava sendo considerada suspeita de um assassinato. Não fazia sentido isso, se bem que nada na minha vida fazia sentido.

- Asty, achei que já tivesse ido – ouvi uma voz distante, mas não reparei – que roupa é essa?

Ouvi ao longe som de passos se aproximando, mas eu não estava interessada em saber quem era no momento.

- Por que eu seria acusada de assassinato? – resmunguei comigo mesmo – Logo eu.

- Asty, você está bem? – ouvi a voz ficar mais perto e mais alta, até que senti alguém segurando em meu braço e me balançando um pouco.

- O quê? – balancei a cabeça enquanto recuperava meus sentidos.

- Você está bem? – percebi que era Eret quem havia entrado no vestiário e falado comigo.

- Eu tenho cara de assassina? – o questionei, mas ele pareceu tão surpreso com minha pergunta que não conseguiu responder – Como podem achar que eu matei alguém? Eu sou médica, eu salvo vidas e não o contrário.

- Que história é essa de assassinato? – ele me encarou confusa.

- Tudo bem que eu pensei em várias formas de matar a Heather depois que eu a vi beijando o Soluço, mas eu não faria isso.

- Astrid, dá para você falar algo que faça sentido?

- Eu preciso saber quem me denunciou, e só tem uma forma de eu fazer isso – rapidamente peguei o livro e comecei a folheá-lo, devia ter algo ali sobre o porquê da polícia me considerar uma suspeita.

Não olhei para o rosto de Eret, mas eu o conhecia bem ao ponto de saber que provavelmente ele me encarava com a sobrancelha esquerda franzida, mas eu não tinha tempo de parar e explicar para ele o que estava acontecendo, na verdade até que eu tinha tempo, mas ele não acreditaria em mim, então era melhor não parecer mais louca do que eu já parecia.

Folheei as páginas relacionadas ao novo capítulo mais de cinco vezes, mas não encontrei nenhuma pista sobre quem havia me denunciado, pelo jeito, os policiais haviam recebido uma carta anônima.

- Que droga – bufei irritada fechando o livro e o colocando de volta no meu armário.

- Será que agora você pode me explicar o que houve?

Ergui meu olhar para Eret e como eu havia previsto ele me encarava com a sobrancelha esquerda franzida.

- O que está acontecendo? Achei que ia embora, mas não, você está aqui e com essa roupa estranha – ele me olhou de cima a baixo, foi quando me lembrei que estava usando o vestido que havia escolhido para o meu passeio com Soluço.

Soluço. O passeio. A clareira. A declaração. O beijo.

Soltei um grito de espanto e voltei a pegar o livro, eu precisava ler aquela parte para saber se eu realmente tinha escutado o que eu achava que tinha escutado.

Eu queria ir direto para a parte do meu passeio com Soluço, mas optei por ler todo o capítulo com calma. O capítulo começou na casa de Heather, Soluço havia ido me procurar, como da última vez que eu havia sumido eu apareci na fazenda dos Skrills, ele pensou que eu poderia estar lá novamente.

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