Eu tinha 17 anos, quando a Cami me levou a uma arena de paintball, para jogar com alguns amigos, é um jogo eletrizante, mas como era a minha primeira vez, não me saí muito bem, inclusive, cometi o erro de ir com um tênis de cano curto ao invés de uma bota de cano longo e para completar, a calça que eu usava era de barra curta.
Me lembro que fui desclassificada ao ser atingida pelo Roger, um jogador do time adversário, ele era tão competitivo quanto eu e por isso ignorou a regra que havíamos estipulado sobre não dar tiros à queima roupa.
Ele se aproximou muito de mim naquela tarde e atirou na parte exposta do meu tornozelo, não esperava que uma bolinha de gelatina colorida doesse tanto, mas doeu, o contato fez minha pele queimar, sem contar no hematoma que durou dias para sair, e ainda fiquei o restante do dia mancando.
Por causa disso, eu odiei o esporte, demorou anos para eu voltar a me aventurar em uma arena de paintball e tirar aquela imagem negativa que eu tinha. Com o tempo fui melhorando, eu passava partidas inteiras que duravam mais de uma hora, sem levar um tiro sequer. Eu me tornei uma das melhores e eu amava isso, amava o fato de não ser atingida, ainda mais que depois da primeira péssima experiência que eu tive, eu tinha decidido me esforçar o máximo para não levar mais nenhum tiro. Claro que isso só se aplicava ao paintball, afinal, que outro lugar eu precisaria me preocupar em não levar um tiro?
Eu nunca imaginei que um dia alguém atiraria em mim, não de verdade, nunca cheguei a cogitar a ideia de que alguém me ameaçaria de morte, quanto mais ter a coragem de atirar em mim. Talvez por ser algo tão ilógico, tão surreal, quando eu vi o Viggo apontar a arma para mim, eu pensei que ele não fosse atirar, acreditei que ele só queria me assustar, mas percebi que eu estava enganada quando o vi apertar o gatilho e naquele momento eu quis voltar na arena de paintball, preferia mil vezes se atingida por aquelas doloridas bolinhas de gelatina, preferia mil vezes levar centenas de tiros em uma brincadeira, pela primeira vez na vida, quis voltar em um momento que eu considerava vergonhoso e humilhante, quis que Roger estivesse com aquele sorriso convencido e irritante, enquanto me via chorar de dor, mas não, quem estava na minha frente não era o Roger, era o Viggo e a arma que ele segurava, era real, eu não iria apenas ficar alguns dias com dor, eu morreria.
Sempre me perguntei o que passava na cabeça das pessoas quando estavam diante da morte, se elas realmente viam suas vidas passarem diante de si, se viam os melhores momentos, os maiores arrependimentos ou as pessoas que amavam, eu não sei o que as pessoas veem, mas eu sei o que eu vi e a resposta é, nada, a não ser a bala vindo em câmera lenta na minha direção.
O mais frustrante é que o fato de estar tudo em câmera lenta, fez com que eu visse a bala se aproximando milímetro por milímetro, isso não deveria me dar tempo de fugir ou de me esquivar? Não, porque eu simplesmente não conseguia me mexer, eu sabia que ela iria me atingir, mesmo assim, eu não conseguia fazer nada além de observá-la se aproximar e esperar o exato momento em que ela atingiria minha pele e perfuraria meu coração.
Eu estava esperando pela dor mais intensa que eu poderia sentir, por uma sensação agoniante e assustadora, mas quando a bala me atingiu eu não senti nada disso, apenas um sentimento de tristeza, mas não por mim, por algum motivo a única coisa que consegui pensar, era que o Soluço ia ficar arrasado com minha morte, que por minha causa ele iria sofrer.
Quando senti o impacto da bala, tudo começou a girar, num impulso, fechei os olhos enquanto fazia careta, a dor viria em seguida, mas ela não veio e de repente tudo ficou em silêncio, não ouvi mais nada, não pensei em mais nada e não senti mais nada a não ser o fato de estar caindo.
Quando abri os olhos, percebi que não estava mais no livro, estava caída na sala do meu apartamento, não entendia o que estava acontecendo e minha confusão aumentou quando ouvi batidas fortes na porta e gritos chamando meu nome.
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Antes que você se vá...
FanficAstrid nunca se considerou uma pessoa romântica, nunca sonhou em viver um conto de fadas ou encontrar o príncipe encantado. Ela sempre se recusou a se apaixonar, para ela o amor só existe em livros, na ficção, nunca poderia ser real, mas será que el...